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Madá: uma travessura literária de Luiz Taques

Por José Maschio* | 22/10/2011 12:30
Jornalista Luiz Taques, autor de Madá.
Jornalista Luiz Taques, autor de Madá.

O corumbaense Luiz Taques é um jornalista dos tempos das boas reportagens; hoje coisa rara nas modernosas redações dos jornalões brasileiros. Foi como repórter, dos bons, que Taques aprendeu a utilizar a sensibilidade necessária para o exercício da cidadania plena para fazer jornalismo de primeira.

Foi assim que conquistou o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, em 1991, com reportagem sobre a escravidão em carvoarias de Mato Grosso do Sul.

E como todo repórter, Taques também comete suas travessuras literárias. Depois de “Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho”, que nos brindou em 2008 (Contos, Editora Letradágua), ele surge agora com uma nova travessura, na qual sua sensibilidade de poeta foca na intimidade feminina. Madá, o novo trabalho de Taques, nos remete ao universo intimista da mulher.

Se no livro anterior Taques nos fazia lembrar João Antônio, o maior contista brasileiro com seu universo de desvairados e excluídos, em Madá a proposta é, de novo, surpreendente. A maior travessura literária de Taques, em Madá, é o confronto, aberto e visceral, entre criador e criatura. Madá, contista e colunista, permanece, em toda a obra, à espreita para fugir do jugo do autor.

Taques, como um pai consciencioso, até permite certas escapadelas, mas acaba, sempre, retomando o controle. Esse diálogo autor-personagem é um dos encantamentos de Madá. Mas existem outros, como o uso de Madá como veículo para um passeio delicioso pela cultura, história e até mesmo a culinária pantaneira e de Corumbá; não por acaso a centenária capital do nosso Pantanal. O leitor (a) se surpreenderá, logo no início do livro, sobre o insólito motivo que leva Madá a abandonar um tranquilo e sereno relacionamento com o marido.

Calma, leitor (a), não declinaremos, nesta crítica, esse insólito motivo. Vá a uma livraria mais próxima e descubra. Seria como contar o final do filme a um cinéfilo apaixonado. (Em Campo Grande, Madá pode ser adquirido nas livrarias Le Parole, rua Euclides da Cunha, 1.126, Jardim dos Estados, e Maciel Livros Novos e Usados, rua 14 de Julho, 1.696, centro.) A inquieta Madá não é só sensibilidade literária, é também um passeio pelo nebuloso mundo daquilo que chamamos alma humana.

Passional, Madá tem momentos racionais ao pensar a contradição entre a metrópole (de inverno rigoroso) e a escaldante Corumbá. Essa contradição geográfica é a mesma quando repensa seu (de Madá, não do autor, bem entendido) núcleo familiar e as idiossincrasias nossas de cada dia. Os diálogos impertinentes entre autor e personagem já seriam motivos de sobra para qualquer um se aventurar pelas páginas de Madá. Mas existem vários outros motivos.

O maior deles, no entanto, é que estamos todos a descobrir, em Madá, a maturidade de Luiz Taques como escritor, e seu ingresso no seleto clube dos grandes contistas brasileiros. Saravá, Madá.

(*) José Maschio é professor do curso de jornalismo da UEL- Universidade Estadual de Londrina, PR.

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