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Mudança do clima já é um desafio para o Brasil

Mercedes Bustamante (*) | 16/10/2021 13:29

O lançamento do mais recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) ganhou as manchetes em todo mundo com declarações de governantes preocupados com o quadro dramático e as perspectivas futuras. No Brasil, em contraste, apesar da divulgação e do interesse da mídia, o relatório não gerou manifestações significativas por parte do governo federal. Tal silêncio é perturbador considerando que os impactos da mudança climática que já se fazem sentir em nosso país. Ademais, as previsões do relatório para as diferentes regiões brasileiras indicam enormes desafios para a economia, o bem-estar social, e a conservação de nossos recursos naturais.

A síntese da extensa literatura científica conduzida por centenas de cientistas, de vários países e especialidades, aponta que, hoje, as evidências não deixam dúvidas que o clima mudou desde o período pré-industrial e que as atividades humanas são a principal causa dessa mudança. Os sinais são inequívocos em escala global e são cada vez mais aparentes em escala regional. Além da temperatura, mudanças em longo prazo em variáveis como a precipitação e os extremos climáticos também se tornaram aparentes em muitas regiões.

 Nas últimas semanas temos acompanhado as notícias sobre ondas de calor, mega-incêndios e inundações de proporções inusitadas. Evidências de períodos passados mostram que algumas partes do sistema climático podem levar de centenas a milhares de anos para se ajustar completamente às mudanças climáticas. Ou seja, algumas das consequências da ação dos seres humanos continuarão por muito tempo, mesmo que os níveis de gases de efeito estufa que retém o calor atmosférico e as temperaturas globais sejam estabilizados ou reduzidos no futuro. Isto se aplica, em particular, às camadas de gelo nos dois hemisférios, que congelam mais lentamente do que se descongelam.

 Se o derretimento atual das camadas de gelo continuar por tempo suficiente, pode se tornar irreversível em escala de tempo humano, assim como a elevação do nível do mar que causará. Como um país com enormes vulnerabilidades em todas as regiões, já deveríamos estar debruçados sobre esse enorme desafio e articulando governos, setor privado e sociedade civil para conduzir estratégias de redução de nossas emissões de gases de efeito e de construção de ações de adaptação aos impactos de um clima em mudança. O tempo se esgota e a tarefa não será simples.

(*) Mercedes Bustamante é professora titular da Universidade de Brasília. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Geobotânica - Universitat Trier

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