O campeão ainda não voltou, mas a alegria...
A maneira como o Maracanã recebeu a seleção para enfrentar o fragílimo Chile pode ser considerada como a melhor contribuição de Carlo Ancelotti ao futebol brasileiro.
Havia expectativa de bom futebol a tal ponto que o time estava evidentemente ansioso por golear.
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Daí o domínio absoluto sem materializar no placar a superioridade no gramado.
Convenhamos que o simples esperar por boa atuação já é efeito da presença do técnico. Realizá-la, então…
A torcida apoiava cada tentativa, principalmente a ousadia de Estêvão —que acabou premiado com belo gol de meia-bicicleta.
Cada lance bem-sucedido ganhava aplausos como havia tempos não se ouvia nos estádios nacionais.
No segundo tempo, quando a monotonia ameaçou tomar conta, o treinador italiano revigorou a fantasia com a presença de Luiz Henrique, pedido em coro prontamente atendido. Foi o que se viu: de seus pés nasceram os gols de Lucas Paquetá e Bruno Guimarães.
Com tanque cheio e contra chilenos desgastados por tanto correr atrás dos brasileiros, os outros dois gols surgiram frutos do talento do ponta exilado na Rússia por temor de ser punido no inquérito de que também é alvo por manipulação de resultados.
Coitado, mal sabia ele quão barato, quase de graça, sairia para Bruno Henrique, sob a mesma acusação, na incansavelmente desmoralizada Justiça esportiva do Patropi.
Soubesse, provavelmente evitaria se esconder tão longe, em país hoje excluído pela Fifa do Planeta Bola, embora Israel permaneça apesar da matança indiscriminada que promove.
Um dos grandes, e raros, acertos da história da Fifa foi a exclusão da África do Sul, na década de 1960, por causa de seu odioso apartheid, tão desumano como o genocídio na Palestina. Por que Israel permanece?
Carleto nada tem a ver com isso e cumpre o papel de devolver confiança e alegria para quem veste a amarelinha, um bando de bons jogadores agora comandados por alguém a inspirar respeito e admiração na tropa.
Faltam testes para valer, e não será a 4.070 metros de altitude na Bolívia, na próxima terça-feira, que os veremos, tamanha a desumanidade imposta aos atletas obrigados a se submeter a semelhante sacrifício.
Melhor seria mandar um time sub-20 que pudesse passar o período necessário de adaptação e, com pulmões novos, ganhar de quem usa expediente tão baixo para tentar ir às Copas do Mundo e em nada contribuir quando consegue, como em 1994.
GÊNIO A GÊNIO
"Sempre achei que o melhor professor de português do Brasil foi o Pelé. Quem o viu jogar ou hoje vê os seus teipes sabe que o Pelé jamais fez uma jogada que não fosse parte de uma progressão para o gol. 0 sentido de tudo que o Pelé escrevia com a bola no campo era o gol. O drible espetacular era apenas circunstancialmente, com perdão do longo advérbio, espetacular, porque ele existia em função do objetivo final. A lição para escritores é: defina o seu gol e tente chegar lá como o Pelé chegaria, com poucos mas definitivos toques, sem nunca deixar que os meios o desviem do fim. E se, no caminho para o gol, você fizer alguma coisa espetacular, esforce-se para dar a impressão de que foi apenas por obrigação" (Luis Fernando Verissimo).
(*) Juca Kfouri, jornalista, através da Folha de S.Paulo
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