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O livro precisa ir aonde o leitor está

Luís Antonio Torelli (*) | 31/08/2015 15:21

O substantivo “leitor”, num olhar mais contemporâneo e holístico, não pode continuar sendo apenas a definição de “pessoa que lê” (livros, jornais, revistas...). Hoje, necessariamente, também deve ser entendido como sinônimo de “cidadão”, pois as prerrogativas deste não têm como ser plenamente exercitadas sem o acesso ao conhecimento.

Por isso, é preocupante o estudo divulgado pelo Fórum Mundial de Cidades Culturais, rede colaborativa das 27 principais metrópoles do Planeta, com sede em Londres, que indica: São Paulo, com 335 lojas, e Rio de Janeiro, com 252, estão entre as que apresentam o menor número de livrarias (3,5 e 5, respectivamente) e bibliotecas (apenas uma) para cada cem mil habitantes.

A líder mundial, em termos de livrarias, é Buenos Aires, com 734 lojas. Este número significa 25 pontos de venda para cada cem mil habitantes, à frente de Berlim, Nova York, Londres, Paris, Madri, Tóquio e Amsterdã. No tocante às bibliotecas públicas, a campeã mundial é Paris, com sete estabelecimentos para cada cem mil habitantes. Na capital argentina, são três.

Os dados reiteram a necessidade de nosso país implementar os pontos de venda. A insuficiência destes, ainda, ainda mais acentuada em bairros periféricos e municípios distantes dos grandes centros, é um dos fatores responsáveis pelo baixo índice de leitura no Brasil: 1,7 livro/ano por habitante. Essa média poderia ser ainda menor se não fosse o esforço epopeico dos vendedores porta a porta, que utilizam até pequenos barcos para chegar às mais remotas localidades, levando o livro aos compradores mais improváveis.

O trabalho do Fórum Mundial de Cidades Culturais, demonstrando estatisticamente uma realidade há muito conhecida pelo mercado editorial brasileiro, legitima a proposta que estamos trabalhando na Câmara Brasileira do Livro (CBL), de um programa, em âmbito nacional, que contempla a leitura nos parques, criação de bibliotecas volantes, de feiras e mecanismos para fomentar a abertura de novas livrarias. Além disso, considerando os dados da última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, na qual os professores são apontados como os principais incentivadores dos leitores, segundo 45% dos entrevistados, queremos capacitar docentes para dinamizar sua relevante atuação de estímulo ao livro nas presentes e novas gerações.

Nossa meta é que o projeto tenha a participação do mercado editorial e suas entidades de classe, ao lado de organismos estatais. Com o mesmo propósito, aprimoraremos a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e seguiremos apoiando eventos similares em todo o Brasil, pois as feiras também aproximam o público das obras e seus autores.

O acesso ao livro é decisivo para que a sociedade apodere-se do conhecimento, assim como a escolarização. Com baixo índice de leitura e a 60ª colocação, dentre 76 países, no novo ranking da qualidade do ensino que acaba de ser divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil terá imensas dificuldades para evitar crises intermitentes, estabelecer um crescimento econômico duradouro e cumprir com sucesso um projeto de desenvolvimento.

Devemos inspirar-nos nos princípios do próprio Fórum Mundial de Cidades Culturais, compartilhando sua crença na importância do conhecimento para a criação de sociedades prósperas. Somente assim poderemos definir uma agenda focada num futuro urbano sustentável. Por isso, é decisivo que o livro vá cada vez mais aonde o leitor está, outorgando-lhe a cidadania plena.

(*) Luís Antonio Torelli é presidente da Câmara Brasileira do Livro.

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