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O que faltanos devedores

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 08/09/2014 16:01

Permanentemente o Brasil e outros países têm vivido na corda bamba dos déficits e dívidas. O problema está no desequilíbrio na produção e comércio mundiais. Tal como nas empresas, o Estado precisa equilibrar o que entra com o que sai. Cada país deveria controlar melhor o que importa, comparando com o quanto é produzido internamente e com a quantidade exportada, num comércio justo e harmonioso. Em vez de organizar isso, foi permitida e incentivada a formação de déficits a serem cobertos com empréstimos, gerando juros para uma minoria. Depois veio o deslocamento das fábricas, provocando mais déficits, tudo sendo coberto com papel moeda. Agora tem muito papel em circulação gerando perturbação, consumo desordenado. Mas quem produz? Sem a fabricação diminuem os empregos. Com muita liquidez, o crédito se amplia e fica mais barato, até que surja a próxima ressaca.

Assim como ainda não aprendemos a dominar a energia atômica para o bem, o mesmo ocorre com o dinheiro e as finanças, que mal empregados conseguem detonar qualquer nação que não respeite o equilíbrio e se deixe levar por interesses particulares, criando artificialismo e dependência, passando o dinheiro quente ou mal-intencionado a dirigir os seus destinos. O Brasil permaneceu travado por vinte anos ajustando a dívida. A Argentina ainda se mantém atormentada por uma dívida mal resolvida agora reclamada nos tribunais. O mundo se torna refém das dívidas.
Gastar acima das receitas e gastar mal, aumentando a dívida, faz parte da cartilha de como arruinar um país e mantê-lo na dependência dos financiamentos. Isso está errado. Mas quem diz o que deve ser feito para estimular o crescimento nesta época de vacas magras e tantos artificialismos das economias mais fortes sobre os mais fracos? Com o atual nível de população, se faz necessário elevada dose de disciplina. No entanto, para que haja circulação e consumo, é fundamental o nível de distribuição de renda. Com uma população muito pobre, o consumo não pode evoluir.
Na história da formação econômica do Brasil se passaram séculos sem que houvesse grandes preocupações com o preparo da população e com a redução da desigualdade e pobreza; também não houve grande evolução e diversificação dos bens produzidos. O país permaneceu numa economia travada, apesar do grande potencial existente. O país ficou dependente dos produtos primários, sem foco na industrialização.
Quando a renda e o poder permanecem em poucas mãos por longo período, a nação fica estagnada, não evolui, gerando um apagão por séculos. O progresso real só pode surgir quando não ocorre a exclusão forçada. O mundo carece da era da inclusão na utilização das riquezas ofertadas pela natureza para o bem geral, mas exige que todas as pessoas se movimentem de forma adequada. É necessária ainda uma governança democrática que impeça a tirania. Não surgirá uma nação forte onde a inclusão não for levada a sério.
Na economia existem muitos diagnósticos, mas como na Copa 2014, todos falam, mas ninguém explica que o fracasso da seleção brasileira resultou da ausência de preparo sério e eficiente de longo prazo, exatamente o que falta ao país como um todo. Deixamos de formar os craques, ou seja, jogadores de futebol especiais por seu discernimento e destreza. Permitimos a entrada do crack, droga mortal que veio para aniquilar as novas gerações.
Nada fizemos para formar boas equipes aptas para enfrentar o novo futebol ágil e com passes de bola certeiros. Na Alemanha , ao contrário, antes de cuidar do futebol, o governo, as empresas e os cidadãos se preocuparam em fortalecer a pátria. Nada fizemos para impedir o declínio das novas gerações. Que futuro poderemos alcançar? No Brasil há individualismo no futebol e fora dele; falta um alvo generalizado que contribua para se construir um país de valor para os que aqui vivem.

Provavelmente a próxima década trará uma reviravolta geral. As alterações do clima certamente afetarão drasticamente os mananciais e a agropecuária. Estamos nos preparando para isso? O que vai acontecer quando as reservas de recursos naturais se extinguirem? Para o mundo haverá a possibilidade de reciclagem e outros materiais, mas para as regiões fornecedoras, ficarão imensas cicatrizes nas montanhas e vales, e a miséria por não ter ocorrido um preparo melhor.

Necessitamos de estadistas que, enxergando a realidade, sejam responsáveis pelo futuro, zelando pela democracia, sustentabilidade e inclusão, sem demagogia. Mas acima de tudo, que não se deixem dominar pela cobiça por riquezas e poder nem se tornem vítimas dela, e que tenham como base para seus planos e ações, o reconhecimento e respeito à grande lei natural da Criação, do equilíbrio, que requer a adequada retribuição para tudo que recebermos.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club de São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

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