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Para governantes, não é bom negócio ser eficiente no Brasil

Por Marco Asa (*) | 26/01/2014 09:11

Você já deve ter parado para pensar no quanto as obras públicas foram mais adequadas e duráveis e no quanto os serviços públicos já foram mais eficientes no Brasil. Aliás, eficiência é uma palavra que causa calafrios nos governantes. Sabe por quê? Se tudo der certo, ficar pronto no prazo, sair nas especificações adequadas e correr dentro do orçamento, como teremos os “aditivos de contrato”? Como teremos “as verbas emergenciais nas licitações”?

Além disso, no Brasil temos alguns absurdos, tais como:
- Nas ruas da cidade, observe: existem ruas e avenidas pavimentadas nas décadas de 70 e começo de 80 que estão lá, até hoje, lisinhas. Outras, inauguradas já nos anos 2000, parecem colchas de retalhos de tanto remendo. Nas minhas produtivas aulas do curso de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, aprendi que, para um asfalto durar, ter qualidade, é preciso se atentar a base, que fica sob a manta asfáltica, o piche. Esta base deve ter pedra brita de dureza adequada, ser profunda e de qualidade. Caso contrário, com as chuvas, as pedras se dissolvem e aparecem os buracos. Acontece que, para o eleitor, aparece só a parte de cima, o piche. Aí temos o “nossa, que prefeito bom, olhou por nós e asfaltou nosso bairro esquecido”. Só que o asfalto tem prazo de validade e, em um ano, na época das chuvas, temos que contratar outra empreiteira amiga para fazer a famosa “operação tapa-buraco”. Mais dinheiro, mais propina e mais “deixa o homem (ou a mulher) trabalhar”, quando alguém reclama da administração...

- O Nordeste brasileiro é um dos locais mais propícios à geração de energia eólica (dos ventos) no planeta. E, lá, foi construído um dos maiores parques eólicos do Brasil. Lindo! Era para estar funcionando há anos, caso não “esquecessem” de projetar um linhão que transporte a energia produzida nas torres para a companhia distribuidora.

Agora, depois de quase uma década de pás rodando em vão, um primeiro linhão, bem tímido, ficará pronto no primeiro trimestre deste ano. Quem é o culpado por esse absurdo? Ninguém sabe e ninguém nunca vai saber. Alguém vai ser punido por esse absurdo? Faz-me rir...

-O sistema ferroviário no Brasil foi sucateado a mando de não sei quem. Todos no Mato Grosso do Sul ou no interior de São Paulo têm saudade dos tempos das românticas viagens de trem. Tem até música: “Enquanto este velho trem, atravessa o Pantanal. O meu coração está batendo desigual”. Pois é. Não tem mais trem de passageiro, mas o trem continua velho. A linha da antiga Rede Ferroviária Federal foi privatizada e os trilhos e dormentes continuam velhos. No interior de São Paulo, acidentes são frequentes, causando até mortes. Em Campo Grande (MS), espaços da antiga RFFSA apodrecem, assim como antigas carcaças de vagões e máquinas apodrecem e viram maternidade do mosquito da dengue por esse Brasilzão de meu Deus...Você sabe onde foi aplicado o dinheiro da privatização da malha ferroviária brasileira? Nem eu! Na conservação e modernização da malha é que não foi. Pra onde foi o dinheiro então?

- Há muitos anos, quando eu era “foquinha” no extinto jornal Diário da Serra, em Campo Grande (MS), lembro de ter feito uma matéria para o caderno de Economia sobre a integração de sistema de saúde. Tempos depois, já quando era sócio do Jornal O Mirante, em Peruíbe (SP), lembro de ter publicado um material sobre a integração do então cartão do SUS, Sistema Único de Saúde. Era uma maravilha. O brasileiro, com seu “supercartão”, seria atendido em qualquer posto de saúde do Brasil e, em instantes, todo o seu prontuário, da vacina do Zé Gotinha ao remédio do Alzheimer, apareceria para o médico e, voilá, saberíamos o remédio a ser aplicado, se o cidadão é alérgico etc. Mas (viu, sempre tem um “mas”), o sistema de informatização não era único. Cada prefeitura ficou responsável de computar os dados e administrar a central. Cada prefeito e secretário de saúde vislumbrou, então, uma possibilidade de ganhar dinheiro e, mais uma vez, ficou no projeto e no capital inicial empregado...

- Lembra quando cada prefeitura era responsável pela coleta de lixo? Que havia uma frota que funcionava e os coletores eram felizes funcionários públicos? Pois bem. Em nome da “economia” na redução das folhas de pagamento, começou a farra das licitações para a contratação de empresas de lixo. Aí, a cada troca governo, há uma briga para vem quem recolhe nosso lixo. Ganha (claro) quem oferece a melhor propina. Enquanto isso, não há uniformidade da coleta, a limpeza do mato das calçadas sempre fica a desejar (exceto perto das eleições, é claro). Além disso, algumas empresas “milagrosamente” cresceram tanto que estão presentes em Capitais e cidades do interior. Existem “monstros” do setor como Litucera e Vega Sopave, dentre outras. Conheço caso de prefeitos que “sumiram” com as frotas próprias de coleta da prefeitura para justificar a contratação das empresas particulares. E a folha de pagamento não encolheu um centavo, justificativa para a demissão de servidores públicos responsáveis pela limpeza e a contratação de empresas particulares...

Temos inúmeros outros exemplos, como o lobby de empresas que “deram ideias” aos políticos, que nos obrigaram a compras coisas e, depois, fica tudo por isso mesmo. Lembram-se dos kits de primeiros socorros que todo brasileiro era obrigado a ter no carro? Todo mundo comprou. Alguém ganhou com isso. Mas, não precisa mais.

Aliás, o Brasil é o país do “deixa pra lá”, do “fazemos como podemos”, do “ah, dinheiro público não é de ninguém”. De ninguém, cara pálida? Ano passado fomos obrigados a pagar mais de R$ 1 trilhão em impostos. Isso é o equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da Argentina, ou seja, pagamos de impostos (só os federais) o mesmo que os Argentinos produzem durante todo o ano. Temos retorno? Quase nenhum. Quase tudo vai para custeio, ou seja, para pagar políticos, seus assessores, seus carros, seu combustível, seu material de escritório, seu gasto com postagens, passagens, hotéis, seguro Premium máster blaster de saúde para os distintos e seus familiares etc. etc. etc.
Ah, esqueci. E tem a Copa do Mundo em junho. Olé Brasil!

(*) Marco Antônio dos Santos Araújo, Marco Asa, é jornalista, publicitário e escritor. Contato pelo e-mail marcoasa2003@hotmail.com

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