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Política – um visão holística

Por Enildes Corrêa (*) | 02/10/2016 15:30

Os períodos eleitorais suscitam-nos inúmeras análises e reflexões. Através dos programas eleitorais, vemos a apresentação de candidatos políticos que parecem bem preparados para o exercício do mandato ao qual se candidatam e outros que, ao falar, se revelam tão alienados de si mesmos quanto da realidade externa, demonstrando total despreparo para representar politicamente o povo em qualquer instância.

Não há critérios consistentes de seleção para que uma pessoa possa se candidatar a um cargo eletivo. Desde que filiado a algum partido político pelo prazo de um ano, qualquer indivíduo que resolver, num estalar de dedos, candidatar-se, segue em frente com sua pretensão, geralmente movido por interesses pessoais e egoístas, sem passar por nenhuma avaliação criteriosa a fim de checar a sua capacidade para defender os interesses do povo, assim como o seu caráter e a sua idoneidade moral. Nas últimas eleições, apesar da Lei da Ficha Limpa, ainda tivemos candidatos que são notoriamente “ficha suja”. Essas candidaturas tornam-se uma afronta à cidadania.

Como podemos admitir que, para cargos de representação política, os requisitos para a admissão dos candidatos possam ser tão simplistas do jeito que são, sem quaisquer critérios mais rigorosos, para conceder a alguém o direito de pleitear o voto de cada cidadão? Toda profissão requer uma formação específica. Por que a de político, a qual exige um alto grau de responsabilidade no desempenho de suas atividades para com toda uma sociedade, deve ser diferente?

Os partidos políticos deveriam ministrar, aos candidatos, cursos de qualificação política cujos princípios fossem baseados na visão holística, para que estes incorporassem, na sua bagagem pessoal, além de conhecimentos na área das ciências política, econômica, social, filosófica, entre outras, uma boa dose de autoconhecimento para, consequentemente, adquirirem uma compreensão mais avançada e integrada da vida. Afinal, o principal objetivo da política não é o de trabalhar pela vida? Seria uma forma de assegurar a qualidade mínima dos postulantes a um cargo público e demonstrar mais respeito pelo eleitor, pelo patrimônio público e pelas aspirações de um povo.

Os líderes políticos deveriam ser exemplos de pessoas sensíveis, conscientes e éticas, porém, infelizmente, o que vemos por aí, de forma geral, revela exatamente o contrário. E a luta maior dessa classe é pela conquista e manutenção do próprio poder. Como alguém já disse: “prevalece o amor ao poder ao invés do amor ao povo”. Naturalmente, há as exceções.

Se os indivíduos entrarem para a vida pública movidos por interesses meramente pessoais, como lutarão com competência e integridade pelos direitos do povo, se o primeiro passo básico foi dado em direção contrária?

Como modificar uma realidade dolorosamente desumana, como a das crianças abandonadas, se não há olhos que enxerguem além das próprias necessidades, nem sensibilidade suficiente para se deixar tocar pela dor do outro? Como governarão ou legislarão com justiça, se não encontraram a sabedoria dentro de si mesmos? Até definir e distinguir o que exige uma ação prioritária fica confuso. Como administrar com equilíbrio a vida pública se não há equilíbrio nem uma certa ordem na vida pessoal? Como lidarão com clareza e inteligência com os grandes problemas de uma sociedade se a visão está turva, coberta por véus de ilusão, que fazem distorcer a realidade?

Talvez por isso, os problemas não sejam resolvidos devidamente, por serem ignorados ou por não serem vistos com a devida sensibilidade, inteligência e clareza.

Só o ser consciente, sensível, amoroso e compassivo tem condições de operar transformações que, de fato, humanizem uma sociedade. E é o autoconhecimento que nos conduz à via da humanização e da divinização, construindo a ponte da consciência em cada pessoa.

São essas pontes, de consciência e de amizade pela vida, que a humanidade inteira precisa para que se efetue uma passagem para tempos melhores, com mais justiça social e dignidade para todos os cidadãos deste planeta.

(*) Enildes Corrêa é Administradora e palestrante. Profª de Anubhava Yoga e Terapeuta Ayurveda com formação e aperfeiçoamento na Índia.

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