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Reabilitação implanto-suportada em paciente idosa com Doença de alzheimer

Marco Polo Siebra (*), Alexandre Franco Miranda (*) e Fernando Luiz Brunetti Montenegro (*) | 06/12/2012 08:15
Reabilitação implanto-suportada em paciente idosa com Doença de alzheimer

De acordo com dados do IBGE no Brasil, a população idosa constitui-se de 21 milhões de pessoas, representando 10% da população total brasileira (IBGE, 2012).

Na projeção estatística realizada pela Organização Mundial de Saúde – OMS, a população idosa brasileira vai aumentar quinze vezes até o ano de 2025, quando serão, aproximadamente, 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais de idade, o que fará com que o país seja o sexto lugar no contingente de pessoas idosas (Brasil, 2010).

O envelhecimento, juntamente com outros fatores de riscos associados, contribui para a evolução da demência e o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas (Lima, 2006; Neri, 2001), destacando-se a doença de Alzheimer, que atinge cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo, entre as quais 5% com idade acima de 65 anos,
40% com idade superior a 80 anos, e 55% com idade acima de 90 anos (Silva, 2005).

Os idosos com demência necessitam de tratamento especializado (Araújo, 2010), por isso o tratamento odontológico deve ser realizado por um cirurgião-dentista ciente da importância do atendimento diferenciado para essa população de maneira a adaptar-se às necessidades do paciente por meio de um planejamento e execução clínica individualizada (Miranda et al, 2010).

Dentre os principais princípios éticos e profissionais no acolhimento desses pacientes, a humanização na assistência e manejo do cuidado devem ser destacados (Thumé, 2010), principalmente focando na tranquilidade do idoso e confiança adquirida por parte do paciente em relação ao profissional. Atividades lúdicas e participativas podem ser eficientes (Rosa et al, 2008).

O odontogeriatra, como uma formação gerontológica, deve planejar o tratamento do indivíduo com Alzheimer de maneira interdisciplinar, no sentido de avaliar o paciente com demência como um todo, ou seja, seus aspectos bio-psico-socias (Miranda e Miranda, 2008).
Um dos aspectos importantes no tratamento desses pacientes é o diálogo com os familiares e cuidadores para que se tenham uma boa organização das atividades direcionadas no dia a dia e consigam, a partir de artifícios clínicos e de orientações individualizadas, manter uma satisfatória saúde bucal (Souza e Rosa, 2006).

A demência do tipo Alzheimer é a que mais atinge a população idosa e apresenta uma maior frequência entre o gênero feminino. Caracterizada por um declínio progressivo das funções cognitivas, sendo a memória a função cognitiva mais afetada, outros aspectos também podem estar envolvidos, como a linguagem, orientação espacial, dificuldades no aprendizado e cuidados pessoais, como por exemplo, a manutenção de uma correta saúde bucal (Bandeira et al., 2006; Miranda et al., 2010).

A demência, doença de Alzheimer, em seu curso clínico, está dividida em três fases: inicial, moderada e avançada (Engelhardt et al., 2005), condições determinantes de um correto planejamento odontológico que vise a manutenção da saúde bucal e qualidade de vida desses idosos (Friedlander, 2006).

No estágio inicial da doença de Alzheimer, o paciente ainda pode ser atendido no consultório odontológico, facilitando os procedimentos e cooperação. Quando a doença encontra-se no estágio moderado e avançado, os cuidados odontológicos tornam-se complicados devido às limitações das doenças e condições específicas dos pacientes como paranóia, agressividade, não comunicação e dependência (Miranda et al.,2012).

O presente trabalho tem como finalidade relatar um caso clínico de reabilitação implanto-suportada em uma idosa com diagnóstico de Alzheimer, em fase leve para moderada, em que o planejamento, execução e proservação foram feitos em ambiente de consultório odontológico com acompanhamento de mais de dez meses.

Relato de caso

Paciente B. N. Y, 93 anos, melanoderma, diagnosticada com demência do tipo Alzheimer desde 2003, atualmente, em dezembro de 2005, se encontra na fase inicial para moderada, procurou atendimento especializado em consultório odontológico particular.

Não apresentava alterações sistêmicas e sua condição clínica bucal era caracterizada por ser usuária de uma prótese total superior (PTS) antagonizada com uma prótese parcial removível (PPR), grampos apoiados nos dentes 43, 42, 41 e 31 e pouca inserção óssea.

A queixa principal era a presença de dor ao mastigar os alimentos. Após uma avaliação clínica, detectou-se a presença de uma ulceração traumática causada pela PPR inferior na região do dente 43. O plano de tratamento inicial foi direcionado no reembasamento periódico de 6 em 6 meses das próteses a fim de melhor estarem adaptadas, pois a troca das mesmas poderiam proporcionar desconforto à paciente.

Após 06 anos de acompanhamento, em julho de 2011, a paciente retornou ao consultório com histórico de fratura do dente 43, ao qual teve como solução clínica a realização de sua extração, perdendo assim a estabilidade da prótese parcial removível e abalando ainda mais os dentes 42, 41 e 31 ao ponto de comprometê-los, levando-os à indicação de exodontia devido à falta de inserção óssea.

Como os dentes 42, 41 e 31 estavam comprometidos periodontalmente, a proposta de tratamento direcionada à paciente e em comum acordo com a filha, foi extração dos mesmos e a instalação de quatro implantes osseointegrados para fixação de um protocolo inferior com carga imediata. Em seguida confeccionou-se um protocolo inferior e uma prótese total superior em três dias, buscando promover o máximo de conforto para paciente através da estabilidade da prótese inferior sobre os implantes. O objetivo dessa proposta era não deixar a paciente deprimida com a perda da função mastigatória devido à utilização de uma prótese total convencional e sem instabilidade. A família foi informada, participou e consentiu o tratamento. Realizou-se uma radiografia panorâmica, identificando a ausência do dente 43 e o comprometimento periodontal dos dentes 42, 41 e 31.

Foi realizado o acompanhando do pós-tratamento a cada 24 horas durante uma semana, sempre orientando a família e os cuidadores de como deveria ser feito à higiene bucal no pós-operatório com uma prótese fixa nos implantes. Depois do acompanhamento da primeira semana de 24 em 24 horas foi realizado um plano de acompanhamento do pós-tratamento pelo período de um ano.

Assim, foi realizada a proservação de 3 semanas após a instalação, com reforço nas técnicas de higiene e limpeza da prótese da paciente, mostrando a importância da participação dos familiares e cuidadores no cuidado da saúde bucal do paciente. Orientações para a manutenção da saúde bucal da paciente e condições satisfatórias de higienização foram dadas à família e aos cuidadores, salientando a importância de se usar luvas descartáveis na realização dessas atividades.

Com 5 semanas foi realizada proservação para verificar como estava sendo realizada a higiene e limpeza da prótese. Foi identificado que as técnicas ensinadas estavam sendo colocadas em prática, pois a saúde bucal estava melhor do que na visita de 3 semanas. Em todas as visitas da paciente ao consultório teve-se o cuidado com o acolhimento humanizado, promovendo um ambiente acolhedor, todos os funcionários da clínica chamavam a paciente pelo nome e procuravam deixá-la tranquila, pois todos tinham consciência de que o tratamento ia além da manutenção da saúde bucal e da reabilitação do sistema estomatognático da paciente, visando também à melhora da qualidade de vida e respeito pelas condições gerais de saúde da mesma.

Após dez meses de proservação, foi realizada uma nova radiografia panorâmica a fim de acompanhamento do tratamento realizado. Foi observado a correta inserção dos implantes na região mandibular, sem alterações. A paciente apresentava-se calma o frequencimetro usado para avaliar o grau de ansiedade ou tensão da paciente demonstrou uma frequência de 63 batimentos por minuto, o que significava que ela estava calma. E nessa proservação também foi observado a eficiência na higienização e satisfação da paciente, dos familiares e dos cuidadores. Garantindo um resultado satisfatório até o momento.

Prova funcional  com os dentes para analisar a estética e a oclusão
Prova funcional com os dentes para analisar a estética e a oclusão

Discussão

De acordo com Bandeira et al. (2006) a demência do tipo Alzheimer é a que mais atinge a população idosa e apresenta uma maior frequência entre o gênero feminino. É caracterizada por um declínio progressivo das funções cognitivas, sendo a memória a função cognitiva mais afetada, outros aspectos como a linguagem, orientação espacial, dificuldades no aprendizado e cuidados pessoais, como por exemplo, a manutenção de uma correta saúde bucal.
O atendimento da saúde bucal das pessoas com Alzheimer deve ser estruturado de forma interdisciplinar, tendo a participação dos profissionais de saúde que tratam do paciente, como também o envolvimento da família. Segundo Gurgel e Miranda (2012) os demais profissionais que podem trabalhar de forma interdisciplinar com o cirurgião dentista são aqueles envolvidos na saúde sistêmica do paciente: o médico geriatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e a nutricionista.
Os cuidadores também exercem papel fundamental no tratamento odontológico, pois são eles que promovem o histórico médico e dental inicial do paciente. Segundo Hilgert et al.(2003), define-se como cuidador “qualquer pessoa que proporciona cuidados ao paciente, podendo ser esposo(a), filhos(as) ou irmão(ã), é o responsável pelo paciente, é quem permite ou não o tratamento, sendo importante no sucesso do programa de preservação da saúde bucal”.

A formação do odontogeriatra exige conhecimento aprofundado das doenças que acometem os indivíduos idosos, para que possam atuar como orientadores dos familiares e cuidadores. No cuidado bucal são importantes as orientações sobre a supervisão da higiene oral dos pacientes. No caso da doença de Alzheimer deve mostrar na prática como deve ser o auxílio a esses pacientes desde o estágio inicial até o estágio mais avançado, com o propósito de manter a qualidade funcional da mastigação e a saúde bucal do paciente com esta doença (Santiago et al., 2008).

Miranda et al. (2009) destacam a importância da capacitação do cirurgião-dentista para que possa planejar
o tratamento multidisciplinar para idosos demenciados, importância no tratamento odontológico do paciente com

Alzheimer, destacando a importância dos recursos auxiliares para o manejo das diferentes alternativas clínicas de intervenção. Com a proposta de oferecer segurança ao manter uma qualidade de vida. Marchini et al. (2010) evidenciam que o tempo de recuperação do paciente idoso no pós-operatório do implante-suportado deve ser acompanhado de perto pelo cirurgião dentista, bem como as orientações para os familiares e cuidadores de idosos. No caso da paciente de Alzheimer deste estudo as orientações foram no sentido da higienização e limpeza da prótese. Pode-se identificar satisfação por parte da paciente e dos familiares pela recuperação da funcionalidade mastigatória da paciente.

Miranda et al. (2009) destacam a importância da capacitação do cirurgião-dentista para que possa planejar
o tratamento multidisciplinar para idosos demenciados, principalmente tendo o cuidado para preservar as individualidades dos pacientes, procurando trabalhar dentro de uma avaliação do contexto familiar.

Satisfação da paciente  com as próteses, devido à melhora  na sua mastigação em consequência da estabilidade  da inferior  após 10 meses da instalação
Satisfação da paciente com as próteses, devido à melhora na sua mastigação em consequência da estabilidade da inferior após 10 meses da instalação

Conclusão

A intervenção clínica-cirúrgica de reabilitação implanto-suportada, a partir de um planejamento multi-interdisciplinar, de cooperação da paciente e participação familiar em todas as etapas, pode ser realizada pelo odontogeriatra com formação gerontológica, principalmente na fase inicial da demência.

A conduta do odontólogo odontogeriatra, a partir de uma intervenção humanista, pode ser um efetivo recurso nas atividades clínicas de reabilitação e promoção de qualidade de vida para esses pacientes idosos com Alzheimer. De forma geral o relato de caso mostra o quanto é recompensante profissionalmente ver a satisfação da paciente em ter a função mastigatória preservada, a alegria da família em ver o ente querido voltando à normalidade e com sua saúde oral restabelecida. Assim, para finalizar este estudo pode-se dizer que o atendimento odontológico humanizado é de fundamental importância para os pacientes com doença de Alzheimer, procurando orientar os familiares e cuidadores na forma de prevenir as doenças bucais.

(*) Marco Polo Siebra: Especialista em Prótese dentária (ABO/MS), Odontogeriatria (CFO/DF) e Implantodontia (BACG/MS).

(*) Alexandre Franco Miranda: Mestre e Doutorando em Ciências a Saúde – UnB; Professor do curso e Odontologia da Universidade atólica de Brasília (UCB) – Odontogeriatria; SBGG-DF.

(*) Fernando Luiz Brunetti Montenegro: Mestre e Doutor pela FOUSP, Centro de Saúde Escola Paula Souza; SBGG-SP.

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