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Rolezinho: protesto inconsciente contra a solidão das "amizades virtuais?

Por Fábio Trad (*) | 19/01/2014 16:15

As "relações virtuais", recheadas de símbolos e códigos, anunciam seu esgotamento. Superficiais e fluidas, as "amizades" digitais negam o pressuposto da afetividade: o contato epidérmico.

O crescente individualismo, esse fenômeno global em boa parte estimulado pelas redes sociais conectadas, que tantas vezes aproximam os distantes e distanciam os próximos, incomoda e transborda.

Não se trata, obviamente, de questionar os inestimáveis benefícios, de resto irreversíveis, da internet, das redes sociais, para o indivíduo e para a democracia.

O que se impõe discutir, nos parlamentos, na academia e nas próprias redes sociais, é o crescente fenômeno do excessivo isolamento objetivo das pessoas, muitas delas com milhares de amigos virtuais enquanto amargam a solidão na vida real.

O reflexo direto desse fenômeno é o esgarçamento do espírito comunitário, a diluição dos laços de comunidade em torno dos quais se assentou, até aqui, a sociedade contemporânea.

Para o renomado sociólogo polonês Zygmunt Bauman, estudioso do tema, o retrato social de nossa época expõe “o indivíduo solitário numa multidão de solitários” – e esse isolacionismo, aliás inerente à uma tal de pós-modernidade pausterizante, tem profundos reflexos na escala de valores sociais e humanos e, por isso mesmo, nas liberdades democráticas em construção permanente.

Para uma vida satisfatória, digna e relativamente feliz, o ser humano depende de dois valores fundamentais: segurança e liberdade.

Segurança sem liberdade é escravidão; e liberdade sem segurança significa o caos – é ainda Bauman que o diz. A busca, talvez impossível, da fórmula para harmonizar esses dois valores constitui o desafio permanente da democracia. Que, por isso mesmo, é processo contínuo e não um fim a ser alcançado.

Dessa perspectiva, a crescente autonomia do indivíduo como afirmação da plena liberdade parece avançar hoje para a exacerbação do individualismo que, em última instância, resulta no enfraquecimento dos laços de solidariedade e de concreto convívio das diferenças, insumos fundamentais para o amálgama da democracia.

Portanto, a salutar afirmação da identidade individual e a crescente confirmação de autonomia pessoal, em si mesmas valores essenciais, não podem desaguar no individualismo narcísico, aliás, cada vez mais facilitado pela “solidariedade virtual” que idealiza os distantes e ignora ou rejeita os próximos e reais.

O fenômeno "rolezinho", visto com desconfiança por muitos, permite variadas leituras no amplo campo de ideias e ideologias.

Certo é que a cada reflexão a respeito do assunto, tonifica em meu espírito a ideia de que as pessoas não suportam mais ter uma legião de "amigos" desconhecidos, e, muitos, senão todos, trocariam os milhares de "amigos" virtuais por um de verdade.

Quem sabe se em um rolê encontro algum?

 

(*) Fábio Trad é deputado federal pelo PMDB de Mato Grosso do Sul.

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