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Saídas para a crise

Por Clemente Ganz Lúcio (*) | 22/09/2015 08:01

A sociedade brasileira está imersa em um crise econômica e política que coloca em risco, mais uma vez, a trajetória do desenvolvimento do país. Ao mesmo tempo, para ser superada, essa crise exige medidas duras e difíceis que, se realizadas e sustentadas pela sociedade brasileira, podem recolocar o país em uma nova trajetória de crescimento econômico e de desenvolvimento social.

O Brasil é um grande e importante jogador na economia mundial. Os países ricos e as empresas multinacionais não brincam nesse jogo e, sempre que podem, submetem nosso desenvolvimento aos seus interesses. A soberania nacional depende, inclusive para realizar determinada estratégia distributiva, da capacidade econômica do país para induzir o crescimento com recursos próprios.

O fortalecimento do mercado interno de consumo de massa é um dos eixos que faz rodar nossa economia. O outro eixo é a participação no mercado internacional com uma pauta robusta de commodities e produtos industriais. O motor que coloca esses dois eixos em movimento é o desenvolvimento industrial, essa capacidade de criar e transformar produtos que agregam valor, sofisticando a base produtiva com tecnologias inovadoras, especialmente aquelas que renovam e preservam o meio ambiente e criam bem-estar social e qualidade de vida.

O desenvolvimento industrial difunde tecnologia e cria produtos para a agricultura, demanda serviços mais sofisticados e mobiliza novas capacidades do comércio.

Cabe ao Estado aportar infraestrutura econômica e social para sustentar o desenvolvimento produtivo, assim como aportar os instrumentos de política industrial. Ao mesmo tempo, é fundamental também que a política econômica coloque o câmbio e os juros posicionados para promover e animar o desenvolvimento produtivo, bem como mobilize crédito de longo prazo com taxa de juros decentes.

A crise internacional continuará longa e não favorecerá saídas que dependam muito da demanda externa. Por isso, a primeira tarefa é fortalecer o eixo interno (mercado interno e investimentos em infraestrutura), preparando, ao mesmo tempo, a base produtiva brasileira para participar do mercado mundial, com competitividade desde já, para atender a demanda do mercado interno.

A reorganização fiscal do Estado para um orçamento equilibrado é uma urgência que deve ser claramente explicitada para a sociedade. Nesse movimento, abre-se a oportunidade para a promoção do debate sobre o orçamento público, com a análise, de maneira transparente, do conjunto das despesas correntes, das fontes de receita e da regressividade da estrutura tributária, assim como das dívidas e dos custos da dívida. É urgente também uma atuação mais vigorosa em relação aos créditos existentes, à sonegação e à evasão fiscal, entre outros.

Uma reorganização como essa envolverá mudança na posição relativa de todos os agentes econômicos, empresários, trabalhadores e do próprio Estado. Uma visão de curto prazo e essencialmente corporativa, sem olhar o interesse geral do país e da nação, não criará condição para as profundas mudanças estruturais, urgentes e necessárias. A crise é uma oportunidade para novos compromissos, para corrigir a situação atual, com ações que sejam capazes de antecipar o futuro e que deem sentido aos sacrifícios do presente. Se bem conduzidas, e sem grandes intercorrências, essas ações poderão trazer resultados ao país que, em médio prazo, terão a capacidade de sustentar um robusto crescimento, permitindo uma nova etapa de desenvolvimento social. Não há mágica. É necessária a construção
política de compromissos, com muito trabalho, para que se possa atingir bons resultados e partilhá-los entre todos.

(*) Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

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