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Tem dias que só no outro dia…

Por Cristiane Lang (*) | 04/11/2024 08:30

Existem dias que parecem não ter fim. Momentos em que o relógio se arrasta, enquanto enfrentamos batalhas internas, externas ou, muitas vezes, ambas. A vida não avisa quando nos dará um respiro ou quando jogará mais peso em nossos ombros. Às vezes, acordamos e sentimos o dia já desgastado antes mesmo de começar, uma mistura de fadiga, preocupações e desafios que parecem insuportáveis. Nesses momentos, o único consolo parece ser a perspectiva do amanhã.

Essa ideia de que “tem dias que só no outro dia” reflete a noção de que algumas situações não podem ser resolvidas imediatamente. É uma frase que traduz aquela sensação de sobreviver um dia de cada vez, respirando fundo e se agarrando à esperança de que amanhã as coisas estarão diferentes, ainda que apenas um pouco.

Aceitar a Limitação do Hoje

Há um certo grau de sabedoria em aceitar que nem todos os problemas serão resolvidos hoje. Por mais que a cultura moderna exija produtividade, superação constante e respostas rápidas, existem questões que precisam de tempo, de digestão e de amadurecimento. Forçar uma solução imediata para um problema complexo, seja emocional, profissional ou pessoal, muitas vezes é contraproducente e gera ainda mais estresse.

Aceitar a limitação do presente e dar a si mesmo permissão para descansar é fundamental. Afinal, o tempo é um aliado importante na resolução de conflitos internos e no entendimento das situações que nos afligem. Algumas respostas só aparecem após uma boa noite de sono, quando a mente finalmente se acalma e consegue processar melhor as emoções.

A Esperança do Recomeço

A expressão “tem dias que só no outro dia” carrega também uma sutil esperança de renovação. O amanhã oferece a possibilidade de um recomeço, uma nova chance de enfrentar o que parecia impossível no dia anterior. A mente cansada e o corpo exausto dificilmente enxergam soluções criativas ou tomam decisões sábias. Permitir-se esperar pelo dia seguinte não é fugir do problema, mas sim uma forma de cuidar de si mesmo e se preparar para enfrentá-lo com mais clareza.

O Ciclo da Vida e o Tempo de Cura

Entender que certos dias simplesmente não são bons é fundamental para lidar com a impermanência da vida. Tudo passa, tanto as boas quanto as más fases. O amanhã é um lembrete de que o ciclo continua girando, e assim como a dor é temporária, o alívio também é possível.

Permitir-se um respiro, um intervalo para o tempo fazer o seu trabalho, é uma escolha corajosa. Reconhecer a própria limitação e aceitar que nem sempre seremos capazes de resolver tudo de imediato é um ato de auto-compaixão. É preciso lembrar que, às vezes, o máximo que conseguimos fazer é sobreviver ao hoje e deixar para reavaliar no dia seguinte.

“Tem dias que só no outro dia” é um lembrete de que somos humanos, e isso significa que não somos imunes ao cansaço, à frustração e à incerteza. Há momentos em que o mais sábio a se fazer é reconhecer que, por hoje, não há mais o que fazer. É uma mensagem sobre aceitar a própria vulnerabilidade e confiar na capacidade do tempo de trazer uma nova perspectiva.

O que não foi solucionado hoje, pode ser que amanhã, com um pouco mais de clareza e um pouco menos de peso, se resolva. E assim, vivemos um dia de cada vez, na esperança de que o amanhã seja, se não melhor, pelo menos mais leve.

(*) Cristiane Lang é psicóloga clínica, especialista em Oncologia pelo Instituto de Ensino Albert Einstein de São Paulo. 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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