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Totem da Paz

Por Rosildo Barcellos (*) | 30/11/2013 08:21

“O Brasil não foi descoberto não, Santo Padre. O Brasil foi invadido e tomado dos indígenas. Esta é a verdadeira história de nosso povo, Santo Padre. Eu deixo aqui o meu apelo, apelo de 20 mil índios que habitam, lutam pela sua sobrevivência, nesse País tão grande e tão pequeno para nós”. Com essas palavras dirigidas ao sumo pontífice João Paulo II, o mundo conhecia Tupã-Y (Deus pequeno, em guarani), em julho de 1980 na capital do Amazonas. Um verdadeiro líder nascido às vésperas dos festejos natalinos no início da década de 20, na localidade denominada Rincão do Júlio, proximidades de Ponta Porã, no então Mato Grosso.

Essa mesma voz que fez tremer o planeta,pela repercussão internacional que teve foi calada com cinco tiros na noite de 25 de novembro de 1983. Conta a história que dias antes ele havia recusado uma oferta significativa de um fazendeiro para que convencesse os kaiowá a saírem da aldeia de Pirakuá, em Bela Vista, para um local específico proposto pelo governo.Mas esse calar foi momentâneo, porque Marçal de Souza, nos manuscritos de seus discursos deixou muito mais que letras alinhadas. Com ele aprendemos a dar valor na tríade de importância : Palavra,Terra e Teko (jeito de ser indígena).

Marçal de Souza já havia completado 63 anos quando feneceu ao lado de sua esposa,a índia Celina Vilhava, com 27 anos e que estava grávida de nove meses,mas quando o assunto era lutar pela sua gente tinha a vitalidade de um menino. Aliás, órfão antes de completar dez anos ele foi educado numa missão presbiteriana,onde aprendeu muito e também residiu com um oficial do exército em Recife/PE onde teve a oportunidade de continuar estudando.Quando retorna a Ponta Porã, já na década de 40 renova-se com a cultura de sua gente e torna-se guia e intérprete dos antopólogos Egon Shaden e Darcy Ribeiro,trabalhando também de enfermeiro no posto da Funai.Inclusive,na ocasião de sua morte Darcy Ribeiro discursou no senado,chamando o amigo de brilhante intelectual Guarani.

Com gestos e palavras eloquentes,Marçal de Souza não foi simplesmente um líder mas sim um símbolo da resistência inteligente, procurando ser combativo dentro da legalidade, fato que o promove e o ascende intelectual e espiritualmente. Por sua memória,não podemos deixar que o estampido da pólvora seja mais alto que o diálogo do entendimento que a guerra seja maior que a paz e que o bem seja derotado pela iniquidade. Temos força,inteligência e vontade para isso!

(*) Rosildo Barcellos, articulista

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