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Um mistério de meio trilhão

Por Helder Caldeira* | 20/10/2011 12:30

Uma história esquisitíssima estampou as páginas de uma das revistas mais respeitadas e de maior circulação do país no último final de semana e seu vazamento à imprensa promete sacudir Brasília nos próximos dias. E não apenas a capital federal, mas todo o povo brasileiro. Um empresário paulista é autor de duas ações que estão tramitando na Justiça (uma na 2ª Vara Federal de Campinas/SP e outra na 21ª Vara de Justiça Federal em Brasília/DF) onde ele afirma ser dono de aproximadamente R$ 497 bilhões, que estariam depositados em sua caderneta de poupança na agência da Caixa Econômica Federal de Hortolândia, município de 200 mil habitantes, no interior de São Paulo. Motivo das ações? Ele quer ter acesso à sua suposta fortuna, que estaria bloqueada no banco.

Até aqui, essa história parece absolutamente surreal, afinal estamos falando de um cidadão brasileiro que tenta provar na Justiça que possui uma cifra astronômica quase dez vezes maior que o patrimônio do megaempresário Eike Batista, considerado o mais rico do país. Mais que isso: meio trilhão de reais faria do empresário paulista o homem mais rico do mundo, com uma fortuna quatro vezes maior que o líder do ranking mundial da Forbes, o magnata mexicano Carlos Slim. Por fim, esse montante supera, e muito, o que a própria Caixa Econômica Federal afirma possuir no total de seus ativos. Ou seja, em tese, tudo não passaria de uma maluqueira burlesca. Mas a história não acaba aqui!

O mistério de meio trilhão de reais ganha contornos assombrosos quando a revista Época, em matéria assinada pelos repórteres Marcelo Rocha e Eumano Silva, revela que a empresa da qual é sócio o suposto bilionário está registrada na Junta Comercial de São Paulo com capital social de R$ 10 bilhões e que, só em março deste ano, uma de suas subsidiárias fechou contratos de prestação de serviços com a Petrobras superiores a R$ 68 milhões. Opa! Agora deu “zebra”! Tem caroço nesse angu!

Se existe ou não essa dinheirama na caderneta de poupança de um empresário paulista, a Justiça, a Receita Federal e até o Banco Central têm meios para descobrir. Um deles é exigir que fosse revelada a origem do depósito de R$ 421.803.635.909,91 que teria sido realizado há três anos, em 15 de outubro de 2008, e cujos rendimentos, até hoje, teriam elevado esse valor para R$ 497 bilhões. Em sendo uma história verídica, teremos alguns problemas, como, por exemplo, o fato de que as autoridades monetárias brasileiras “não perceberam” uma empresa de R$ 10 bilhões, cujo sócio tem meio trilhão na conta bancária. Se for um golpe, teremos muitos problemas! Um deles é o fato da estatal Petrobras estar fechando contratos milionários com empresas e pessoas sem uma mínima avaliação de idoneidade ou qualquer averiguação de informações prestadas.

É exatamente no meio desse lamaçal que desaparecem os bilhões que faltam para a saúde, para a educação, para a infraestrutura e para o verdadeiro desenvolvimento. Dinheiro que vai direto para os cofres da corrupção institucionalizada desse país. A farta maioria dos pobres cidadãos brasileiros, ainda que na pasmaceira e mansidão, ao ler barbaridades desse calibre circulando entre cifras inimagináveis e golpes inacreditáveis, deve mesmo se sentir idiota, apatetada. Porque, no fim, sábias são as palavras da jornalista Mônica Waldvogel: “Não é questão de castigo ou de merecimento. Nós temos exatamente o governo que queremos ter”.

(*) Helder Caldeira é escritor, jornalista, político, palestrante e conferencista

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