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Cidades

Ao menos 5,2 mil pessoas receberam 2ª dose de vacina fora do prazo recomendado

Bula da Coronavac sugere intervalo de 14 a 28 dias, mas estudos preliminares indicam 10 dias de "tolerância"

Guilherme Correia | 27/04/2021 12:20
Frasco de Coronavac com ponta da seringa inserida para ser aplicada em paciente (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Frasco de Coronavac com ponta da seringa inserida para ser aplicada em paciente (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Ao menos 5,2 mil imunizados com Coronavac em Mato Grosso do Sul têm registro do tempo de aplicação entre 1ª e 2ª dose muito além do que é considerado adequado - o período estipulado em bula do fármaco é de duas a quatro semanas, mas estudos preliminares sugerem que possa haver "tolerância" de aproximadamente 10 dias.

Levantamento feito pela reportagem, com base em dados do Ministério da Saúde, verificou diferença da data de aplicação de pouco mais de 150 mil imunizados no Estado. Conforme noticiado pelo Campo Grande News, há quem tenha recebido apenas 1ª dose e se indignado com a falta da disponibilização do imunizante, que requer duas aplicações para garantir total eficácia prevista contra casos de coronavírus.

Grande maioria dos registros, cerca de 82%, são de pacientes que receberam as duas doses de vacina em período ideal conforme a própria instituição fabricante da vacina. De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a bula da Coronavac - produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac - especifica duas doses de 0,5 mililitro, com intervalo entre sete a 28 dias.

Entre os casos mais atípicos estão pacientes com diferença de até 91 dias entre uma dose e outra, além de outros que constam com menos do que sete dias. Alguns poucos dados, inclusive, indicam pacientes com data de 1ª dose feita depois da 2ª dose.

A imunologista e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Inês Tozetti explica que aplicação de vacina diferente da recomendada está sujeita a apresentar efeitos colaterais não previstos, bem como deixar de garantir total eficácia. "Quando uma forma de administração é estabelecida para uma vacina - por exemplo, duas doses com intervalo de 30 dias - foi realizado um estudo com acompanhamento clinico e laboratorial para obter o máximo de proteção e consequentemente o mínimo de efeitos colaterais".

Como na covid-19 tudo é muito novo e dinâmico, deve-se evitar ao máximo o surgimento dessas intercorrências, mas quando ocorrer o aconselhado é um acompanhamento clínico e laboratorial dos pacientes pós-vacinação. Somente dessa forma poderemos saber as implicações do procedimento", explica Tozetti.

Por meio de nota, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) atribui as divergências a possíveis erros de registros causados pelos municípios sul-mato-grossenses no momento de inserção dos dados nos sistemas de saúde.

Além disso, a pasta também ressalta que o Estado segue diretrizes e recomendações do PNI (Plano Nacional de Imunização) a respeito da administração de doses, que orienta armazenamento das mesmas em baixa temperatura, além do prazo de duas a quatro semanas para aplicação de Coronavac e de 12 semanas para a Astrazeneca.

"A Secretaria Estadual de Saúde vem trabalhando junto aos municípios no intuito de fomentar estratégias e ações de forma a ofertar uma para a população uma vacinação eficiente e segura. Nesse sentido, os municípios seguem recomendações técnicas postas pelo PNI, laboratórios – fabricantes esses regulados pela Anvisa", diz nota.

Erros no registro - Vale ressaltar outras divergências têm aparecido nos registros de vacinados contra o coronavírus, já que cada município é responsável pela imunização e coleta de dados, os encaminhando ao governo estadual e então ao Ministério da Saúde. Na semana retrasada, a pasta informou em coletiva que cidades que não "prestarem contas" sobre a campanha de imunização poderiam até ficar sem lotes de vacinas.

Além disso, levantamento feito com base nos mesmos dados indica que pelo menos 255 pessoas receberam vacinas de fabricantes diferentes entre 1ª e 2ª dose - prática não recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) por falta de evidências científicas se é eficaz ou não. Outra questão também abordada foi a falta de especificação de prioridade de pacientes que tenham recebido vacina.

Outro fator também associado é a demora na entrega de novas vacinas por parte do governo federal. Em entrevista concedida ontem (26) ao Campo Grande News, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, comentou que muitas pessoas aguardam disponibilidade de dose para 2ª aplicação. "Faltam muitas doses da Coronavac para completar o ciclo da imunização, a fase D2, que é a segunda dose. Nem sei se ainda vem essa semana. Estamos ansiosos, assim como a população”, disse.

Segundo o titular da SES, o atraso na aplicação não oferece risco para quem está aguardando, já que, segundo ele, há estudos que mostram que quanto maior a diferença de dias entre as duas doses, maior pode ser a eficácia do imunizante. “Existem estudos que falam de até seis semanas entre as doses, então pela minha experiência acredito que uma diferença de até 10 dias depois dos 28 da primeira dose, não ofereça risco nenhum".

A imunologista Inês Tozetti ressalta que, mesmo com a possibilidade de interferência nos resultados do imunizante, quando situações imprevistas ocorrem, a recomendação é que não se deixe de aplicar em data futura. "Para todas as vacinas, sempre se indica que é melhor tomar a segunda dose fora do tempo previsto, que não tomar. Mais uma vez quanto a essa doença, tudo é muito novo e somente acompanhando que se vacinou e que poderemos ter conclusões", diz.

Resende também mencionou que a pasta aguarda nota técnica do Ministério da Saúde sobre essa questão, além de reforçar que a falta de previsão para nova remessa de vacinas faz com que haja muito pacientes sem a imunização completa, o que pode dificultar nos benefícios da campanha de imunização.

Até o momento, Mato Grosso do Sul já recebeu 14 lotes de imunizantes contra covid-19, desde 18 de janeiro, quando teve início a campanha. Na última remessa, que chegou em 22 de abril, foram enviadas ao Estado 10 mil doses de Coronavac, que foram usadas para aplicação da segunda dose em idosos com 65 anos ou mais.

Vacinação - Monitor estadual indica que mais 680 mil pessoas receberam pelo menos uma dose de imunizante, o que faz com que Mato Grosso do Sul esteja sempre nas primeiras posições do ranking nacional de vacinação - atualmente ocupa 2ª colocação.

De acordo com dados apresentados pela SES, a vacinação já tem feito com que hospitalizações por covid-19 estejam reduzindo entre faixas etárias já imunizadas desde janeiro. Mesmo que a variante P1 afete grupos mais jovens e quebre recordes da doença, pacientes com 80 anos ou mais - priorizados inicialmente na campanha - apresentaram redução no índice de casos mais graves.

(matéria editada às 15h38 para acréscimo de informações)

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