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Cidades

Arcebispo se esquiva e só 1 padre comenta declaração de Papa sobre gays

"O que o Papa está fazendo é o papel de pai, de quem acolhe", diz padre Agenor, o único que se pronunciou sobre fala

Paula Maciulevicius Brasil | 22/10/2020 12:18
Papa Francisco acena para o público durante a audiência de 21 de outubro de 2020. (Foto: Gregorio Borgia/AP)
Papa Francisco acena para o público durante a audiência de 21 de outubro de 2020. (Foto: Gregorio Borgia/AP)

"As pessoas homossexuais têm direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deverá ser descartado ou ser infeliz por isso", diz Papa Francisco.

Desde ontem, quando a fala do Papa Francisco sobre a união civil de homossexuais no documentário "Francesco" repercutiu no mundo todo, o Campo Grande News tenta ouvir padres da Capital. Em silêncio, nem o arcebispo Dom Dimas se pronunciou. Hoje, por mensagem, ele apenas disse que gravaria um vídeo sobre o tema, que até o momento desta publicação, não havia saído.

Depois de tentar falar com 10 padres, entre eles representantes das igrejas Nossa Senhora da Abadia, Perpétuo Socorro, São João Bosco, apenas um religioso atendeu ao telefone e respondeu com tranquilidade.

Os dizeres do Papa reproduzidos em todos os jornais vieram do documentário que entrou em cartaz na Itália ontem (21), no qual Francisco defende, entre temas como ambiente, pobreza, migração e desigualdade, que os homossexuais precisam ser protegidos por leis de união civil. Foi a forma mais clara que Francisco já usou para falar de direitos dos LGBT's.

Padre Agenor tem 60 anos de idade, 30 de vida religiosa e compartilha das mesmas opiniões do Papa Francisco. (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)
Padre Agenor tem 60 anos de idade, 30 de vida religiosa e compartilha das mesmas opiniões do Papa Francisco. (Foto: Arquivo/Marcos Maluf)

"Eu, pessoalmente, estou muito tranquilo. Enquanto igreja o que o Papa fez é uma coisa muito tranquila, aqui no Brasil há muitos anos os homoafetivos têm direito ao casamento civil". A declaração é do padre Agenor Martins da Silva, ferrenho defensor dos direitos humanos e que se vê em muitas das causas pronunciadas pelo Papa.

Agenor tem 60 anos de idade, metade deles dedicados à vida religiosa, também é mestre em Sagrada Escritura e em Campo Grande tem um trabalho consolidado na região do Parque do Lageado na coordenação do Instituto Misericordes Sicut Pater que recebe 65 crianças carentes no contra-turno escolar, oferecendo comida, lazer, entre outras atividades.

"O que o Papa não disse é acolher o matrimônio, porque matrimônio é uma palavra que vem do latim matrimonium. Mater, que se refere à mãe e monium que quer dizer lei. Consequentemente, em sua origem esta palavra designava o reconhecimento social de uma mulher casada, já que através do matrimônio a mulher adquiria o status oficial e o reconhecimento para ser a mãe. Então, o Papa Francisco não fala matrimônio, ele fala casamento civil, e aqui no Brasil não tem porquê a gente estranhar, já que homoafetivos podem se casar há anos", diz o padre.

Agenor reforça que o trecho que saiu do documentário reflete exatamente o acolhimento que a Igreja e o Papa devem exercer. "Ele não diz que deve ou que não deve, o que ele diz é que LGBT's têm direito à constituir família, e o que as pessoas negam a eles é exatamente isso, de ser família".

Sem saber como "dizer de outra forma", o padre que é tão ligado a causas sociais e atua em uma das áreas mais vulneráveis da cidade em relação à criminalidade, violência e miséria, Agenor se indigna em ver que o discurso do Papa vira polêmica.

Registro de 2016 traz o padre Agenor beijando a mão do Papa Francisco durante curso em Roma. (Foto: Arquivo Pessoal)
Registro de 2016 traz o padre Agenor beijando a mão do Papa Francisco durante curso em Roma. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Sabe o que é polêmica? Polêmica é a pessoa receber R$ 300,00 de auxílio emergencial, polêmica é 40% do Pantanal queimado, polêmica é os moradores de onde eu moro, no Parque do Sol, na Cidade de Deus, estarem há oito anos esperando casa, moradia, isso é polêmica", levanta.

A fala do Papa é vista pelo padre como de acolhimento e ele recorre até ao hino do Vaticano para descrever. "A Igreja é mãe e mestra. Este é hino do Vaticano, a Igreja é mãe e mestra e é quem acolhe os filhos. O que o Papa está fazendo é o papel de pai, de quem acolhe. Qualquer pessoa humana é filha de Deus, qualquer, se é hetero, se é homossexual, se é da sigla LGBTQI+, todos são filhos de Deus".

Sobre preconceito, o padre fala que a "homofobia é coisa deste mundo e precisa ser superada e aconselha os homofóbicos a conviverem com os pais de LGBT's.

"Quem tem problema precisa conviver com um pai ou uma mãe que tem filho LGBT, perguntar como que as mães e os pais desses jovens se relacionam. Aliás, quero aqui citar Elke Maravilha que uma vez disse assim: 'você quer ver letra bonita? Quer ver caderno caprichado? Quer ver casa limpa, quer ver honestidade? Fale com os homossexuais'. E é verdade", parafraseia.

Na conversa, padre Agenor deixa claro que compartilha dos mesmos posicionamentos do Papa Francisco. Na imagem que ilustra a matéria, ele aparece pedindo benção e beijando a mão do Papa.

"Eu o conheço pessoalmente, fui enviado como missionário da misericórdia para um curso de 15 dias em Roma, em 2016, e estive com ele em vários momentos. Sinto que quando ele abre as palavras saem da minha boca. Ele é fantástico".

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