ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
MAIO, SEXTA  10    CAMPO GRANDE 24º

Cidades

Dormindo lado a lado, casais vivem incógnita de só um pegar covid

É possível que apenas marido ou mulher se contamine, mesmo vivendo tão próximos

Paula Maciulevicius Brasil | 11/05/2021 12:47
Foto de beijo de máscara é brincadeira entre o casal que viveu mistério: ela pegou covid, mas ele não, mesmo dormindo lado a lado. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto de beijo de máscara é brincadeira entre o casal que viveu mistério: ela pegou covid, mas ele não, mesmo dormindo lado a lado. (Foto: Arquivo Pessoal)

No final do ano passado, quando os primeiros sintomas de gripe apareceram, a administradora Silvia Rosso, de 37 anos, correu para fazer o teste da covid-19. Com dois resultados negativos, ela descartou a possibilidade de estar com o coronavírus e seguiu a vida normal dentro de casa, dormindo ao lado do marido e também com a filhinha de 3 anos.

Às vésperas do Natal, Silvia tentou comprar um perfume, mas não conseguiu sentir o cheiro, o que acendeu o alerta. "Eu não estava melhorando, não estava com olfato... Aí tive a certeza que era a covid", lembra. No dia seguinte, procurou atendimento hospitalar explicando que já tinha testado negativo duas vezes. "O médico falou vamos fazer o PCR, porque você está com covid", recorda.

Dormindo os três, ela, o marido e a filha na mesma cama, porque a menininha volta e meia "invade" o quarto dos pais para terminar a noite ali, só Silvia tinha sintomas e dessa vez o resultado deu positivo. "Eu olhava para eles, e eles ótimos. Eu já estava com nove dias de sintomas, então nos isolamos do mundo, mas continuamos no sofá vendo filme juntos, dormindo juntos, uma vida normal", descreve. Até porque, aos 3 aninhos, Stella não conseguiria ficar afastada da mãe.

Sem sintomas, passado um mês que a mãe melhorou, o marido e a filha fizeram exames para saber se eles tinham sido assintomáticos. O resultado, surpreendeu a administradora. "Deu zerado, dos dois. Eles não tiveram covid, e olha, eu dei Graças a Deus", lembra.

Stella, Silvia e Cristóvão. Dos três, só mãe pegou covid. (Foto: Arquivo Pessoal)
Stella, Silvia e Cristóvão. Dos três, só mãe pegou covid. (Foto: Arquivo Pessoal)

À época Silvia questionou os médicos sobre como seria possível só ela ter se infectado e não ter passado para a família. "Eles não sabem, pode ser muitos fatores", pontua. Como havia acabado de perder o pai para um câncer, a administradora acredita que foi a única a pegar porque estava com imunidade baixa.

O caso de Silvia não é isolado e tem acontecido em muitas famílias em Campo Grande. Cientistas já tinham percebido que algumas pessoas são imunes à pandemia, mas ainda buscam respostas para saber por que alguns são infectados e outros não, apesar de terem sido igualmente expostas ao vírus? Haveria um componente genético que explicasse?

Pesquisa - Um estudo publicado no jornal O Estado de São Paulo, do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da USP (Universidade de São Paulo) analisou dados de 86 casais, em que um dos cônjuges foi infectado pelo coronavírus e o outro não. O objetivo era justamente tentar encontrar perfis genéticos capazes de explicar a discrepância. Os dois trabalhos foram publicados na plataforma científica MedRxiv e ainda não foram revisados por pares.

A gente tem certeza de que a genética está envolvida em vários aspectos da doença”, afirmou o biólogo Mateus Vidigal, principal autor do estudo.

“Queríamos investigar a influência da genética na infecção, na variabilidade de sintomas e no desfecho; além dos mecanismos de resistência e suscetibilidade à doença.”

Covid foi mesmo um susto e Lívia teve Antônio em março. (Foto: Arquivo Pessoal)
Covid foi mesmo um susto e Lívia teve Antônio em março. (Foto: Arquivo Pessoal)

A partir do sequenciamento genético dos 86 casais, no total 172 voluntários, os cientistas conseguiram detectar duas sequências específicas de variantes ligadas ao sistema imunológico que chamaram de MICA e MICB. Nos indivíduos infectados, as MICA estavam aumentadas, e as MICB, reduzidas. Nos resistentes, as MICB apareciam mais. A descoberta pode ajudar não apenas a entender o desenvolvimento da doença como também servir de base para futuros medicamentos.

Outro caso - Em janeiro, Lívia e o marido Jefferson tiveram a mesma surpresa. Jornalista, grávida de 7 meses, Lívia percebeu em casa que o marido passou a ficar rouco. "Ele foi falando e a voz meio sumindo. Isso era de sexta para sábado. No dia seguinte ele apresentou estado febril e ficou nessa por três dias, uma febrezinha que não passava e não baixava mesmo com remédio", conta.

"Separados" dentro de casa, Lívia monitorava o marido Jefferson pelo WhatsApp. (Foto: Arquivo Pessoal)
"Separados" dentro de casa, Lívia monitorava o marido Jefferson pelo WhatsApp. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na terça-feira, o marido que não melhorava do estado febril começou também a tossir e ficar mais cansado, o que fez com que os dois marcassem de fazer o teste. "Ele tossia ali, comigo. A gente é aquele tipo de casal grudado que fica junto o tempo todo. Eu até zoava quando nos casais um pegava covid e o outro não que alguém dormia de calça jeans, até que eu vi que não era regra mesmo não, era possível um pegar e o outro não", relata.

O marido testou positivo, ela, negativo. Os familiares ficaram todos preocupados, até pela gestação de Lívia e as consequências que a covid poderia trazer a ela e ao bebê.

"Conversei com meu obstetra e na hora ele pediu que eu me afastasse por 14 dias. Eu não consegui ficar em outro lugar, então a gente readequou a casa. Fiquei dormindo no quarto do bebê e ele no nosso", explica.

Passados 14 dias, o marido fez o teste novamente e já deu negativo. Durante todo o tempo, Lívia não teve nenhum sintoma. "Eu estava dormindo com eles todas as noites e não fui infectada. Posso atribuir às vitaminas da gestação? Minha imunidade? Sangue O positivo? Não dá pra saber, mas que foi muita sorte foi", acredita a jornalista.

Nos siga no Google Notícias