Enganados por 40 anos, herdeiros vão receber mais de R$ 1 milhão de indenização
Beneficiário de procuração falsa explorou fazenda indevidamente e prolongou entrega por meio de mais de 10 processos
Depois de quase 40 anos de trâmites judiciais, os herdeiros de fazenda Campo Alegre, em Mato Grosso do Sul, devem receber mais de R$ 1 milhão em indenização por danos morais de beneficiário de procuração falsa. A decisão da Terceira Turma do STF (Superior Tribunal de Justiça) foi proferida no mês passado e condenou o beneficiário de procuração falsa a pagar R$ 100 mil para cada um dos 11 herdeiros e legítimos proprietários do imóvel.
Por maioria de votos, o colegiado entendeu que as sucessivas manobras judiciais e extrajudiciais – foram mais de 10 processos relacionados ao imóvel - privaram indevidamente os verdadeiros donos de usufruir da área cuja propriedade foi reconhecida por sentença judicial transitada em julgado em 1995. No entanto, os problemas se arrastavam desde 1970.
A turma restabeleceu sentença que condenou os beneficiários da procuração a indenizar cada herdeiro em R$ 100 mil por danos morais, enquanto os danos materiais deverão ser calculados na fase de liquidação.
A decisão é parte de recurso, que teve origem em ação indenizatória que discutia a divisão de terras particulares, ajuizada pelos herdeiros em 1988, mas que teve como causa uma procuração reconhecidamente falsa de 1970, utilizada para sucessivas e ilícitas cessões de uma área de mais de 1.500 hectares.
Dividida em duas fases, a ação divisória teve, até o momento, apenas trânsito em julgado da sentença da primeira fase, que reconheceu a propriedade e o direito de dividir o imóvel comum e extinguiu o condomínio, em 1995. A fazenda foi restituída aos autores da ação apenas em 2011.
Após a sentença de procedência da indenização por danos morais e materiais, o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) reformou o julgamento de primeiro grau por entender que o simples ajuizamento de sucessivas ações pelos beneficiários da procuração falsa não constituiria crime.