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Cidades

Militar é demitido uma semana depois de voltar à coordenação da Funai

Capitão reformado José Magalhães Filho havia sido nomeado em fevereiro e afastado do cargo em maio deste ano

Jones Mário | 24/08/2020 09:08
José Magalhães Filho, demitido da coordenação da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
José Magalhães Filho, demitido da coordenação da Funai em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

O capitão reformado do Exército, José Magalhães Filho, foi demitido da coordenação regional da Funai (Fundação Nacional do Índio) de Campo Grande, nesta segunda-feira (24). O militar havia sido reconduzido ao cargo há apenas uma semana.

A portaria que exonerou Magalhães Filho da Funai foi publicada hoje (24) no DOU (Diário Oficial da União). O ato é assinado pelo secretário-executivo do ministério da Justiça e Segurança Pública, Tercio Tokano.

O militar teve retorno ao cargo aprovado na última segunda-feira (17). Ele assumiu a coordenação da Funai em fevereiro deste ano e ficou afastado da função por três meses, a partir de maio, após imbróglio na Justiça.

Representantes dos povos indígenas foram à Justiça Federal contra a indicação de Magalhães Filho ao cargo e conseguiram medida liminar, que determinou a suspensão da nomeação.

A ação foi ajuizada após entrevistas do coordenador com discurso “carregado de estereótipos, preconceito social e racismo” quando se referia aos povos indígenas.

Numa delas, Magalhães Filho disse que “o índio fala de cultura nas suas festas, mas quando chega lá a festa é só comida”.

Em outra, afirmou que a língua indígena era uma “barreira”, incentivou o ensino da língua portuguesa em aldeias, “e assim começar a namorar com pretinho, com branquinho, e essa integração vem surgindo automaticamente”, completara.

Ainda em maio, o TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) acatou recurso da AGU (Advocacia-Geral da União) e derrubou a liminar deferida em primeiro grau.

Agente da Polícia Federal na sede da coordenação da Funai (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)
Agente da Polícia Federal na sede da coordenação da Funai (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

“Aventureiro” - A nomeação de José Magalhães Filho à Funai em Campo Grande foi alvo de protestos. O então coordenador chegou a convocar a Polícia Federal ao prédio da entidade, o que deixou a relação com os povos indígenas ainda mais hostil.

Liderança kadiwéu da Aldeia Alves de Barros, localizada em Porto Murtinho, Ambrósio da Silva classifica o militar como “um aventureiro”.

“Nunca foi amigo. Ele entrou na Funai já demonstrando desconfiança com a casa em que ele estava, convocou a Polícia Federal. Depois fez declarações, um besteirol envolvendo a pessoa do indígena. Não sei se a indicação dele foi para fazer uma sátira”, comenta.

A reportagem procurou José Magalhães Filho, que não atendeu ou retornou as ligações.

O ministério da Justiça também foi procurado e questionado sobre o motivo para a exoneração do militar. Não houve resposta.

Represália - A demissão do capitão reformado pode estar ligada à derrubada, no Senado, do veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao projeto que previa a concessão de reajustes a servidores federais. A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) votou contra o governo, que prometeu reagir.

José Magalhães foi candidato a deputado estadual pelo PSL em 2018, ano em que Soraya foi eleita para o Senado. Com a alcunha de "Magalhães, o Homem do Megafone", recebeu 1.325 votos.

Soraya Thronicke é presidente regional do PSL em Mato Grosso do Sul. Via assessoria de imprensa, a parlamentar disse que "não vai se manifestar sobre o assunto agora, porque não sabe ainda o que aconteceu". (Colaborou Leonardo Rocha)

*matéria alterada às 10h30 para acréscimo de informações.

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