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Cidades

Mortes no trânsito subiram 20,9% em MS entre 2018 e 2023

Estado possui uma das piores taxas do país, ocupando a 6ª posição de maior letalidade no trânsito

Por Jhefferson Gamarra | 12/05/2025 14:25
Mortes no trânsito subiram 20,9% em MS entre 2018 e 2023
Militares prestando atendimento a vitíma de acidente de trânsito em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf/Arquivo)

Mato Grosso do Sul teve um aumento de 20,9% nas mortes por acidentes de trânsito entre 2018 e 2023, conforme revela o Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em parceria com o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). O documento, que pela primeira vez traz uma seção dedicada exclusivamente à violência no transporte terrestre, mostra que o Estado segue tendência nacional de alta, mas com índices superiores à média brasileira.

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Mato Grosso do Sul registrou aumento de 20,9% nas mortes por acidentes de trânsito entre 2018 e 2023, segundo o Atlas da Violência 2025. Com 683 óbitos em 2023, o estado superou a média nacional de 16,2 mortes por 100 mil habitantes, apresentando uma taxa de 24,2 e ocupando a 12ª posição em letalidade no país. O crescimento acompanha a tendência nacional, porém com índices mais elevados. Acidentes envolvendo motocicletas lideram as estatísticas, com 275 mortes em 2023, aumento de 18% em relação a 2022 e 28,5% comparado a 2018. O perfil do motociclista como principal vítima fatal no Brasil reflete o aumento da frota, impulsionado por serviços de entrega por aplicativo. Fatores como infraestrutura deficiente, fiscalização insuficiente e políticas de incentivo à compra de veículos sem o devido acompanhamento em segurança contribuem para o cenário. A suspensão do DPVAT entre 2020 e 2023 também agravou a situação, impactando o atendimento às vítimas.

Em 2023, foram 683 mortes no transporte terrestre em Mato Grosso do Sul, contra 646 registradas em 2022, um aumento de 5,7%. A taxa de óbitos por 100 mil habitantes também cresceu, de 23,1 para 24,2. Para efeito de comparação, a média nacional nesse mesmo ano foi de 16,2 mortes a cada 100 mil habitantes, revelando que o Estado possui uma das piores taxas do país ocupando a 6ª posição de maior letalidade entre todas as unidades federativas em 2023.

No acumulado de 2018 a 2023, o Estado contabilizou 3.768 mortes por acidentes no trânsito. O crescimento ocorre em um contexto de retomada da elevação da mortalidade no trânsito após um período de queda observado até o final da década passada. Desde 2017, os números vêm aumentando de forma consistente em Mato Grosso do Sul.

O Atlas também destaca o aumento expressivo de óbitos envolvendo motocicletas. Em Mato Grosso do Sul, 275 pessoas morreram em acidentes com motos em 2023, um crescimento de 18% em relação a 2022, quando foram registrados 233 óbitos. Quando comparado a 2018, o aumento chega a 28,5%.

Mortes no trânsito subiram 20,9% em MS entre 2018 e 2023
Motociclista é hoje o principal perfil de vítima fatal do trânsito no Brasil (Foto: Marcos Malud/Arquivo)

A taxa de mortalidade envolvendo motociclistas no Estado passou de 8,0 óbitos por 100 mil habitantes em 2018 para 9,7 em 2023, o que representa uma alta de 21,3%. Nacionalmente, essa taxa é menor: passou de 5,5 para 6,3 no mesmo período.

Segundo o estudo, o motociclista é hoje o principal perfil de vítima fatal do trânsito no Brasil. O fenômeno está ligado ao grande aumento da frota de motocicletas nos últimos 30 anos, que teve seu pico em 2014, com quase 13 mil mortes em todo o país. Embora tenha havido uma leve redução nas mortes entre 2014 e 2019, a tendência de alta foi retomada a partir de 2019, coincidindo com a recuperação econômica, o crescimento da frota e o aumento das entregas por aplicativos.

O relatório aponta que o aumento das mortes está associado a fatores como crescimento da frota de veículos motorizados, especialmente de motocicletas, sem o acompanhamento proporcional de investimentos em infraestrutura, fiscalização e gestão do trânsito.

Segundo os pesquisadores, políticas públicas adotadas para incentivar a produção e a venda de veículos acabaram facilitando o acesso de famílias de baixa renda às motocicletas, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No entanto, isso não foi acompanhado por melhorias no sistema viário, tampouco por campanhas efetivas de educação no trânsito ou reforço na fiscalização.

Outro ponto destacado é a maior vulnerabilidade dos motociclistas. Por serem veículos mais leves e com menor proteção ao condutor, os acidentes envolvendo motos tendem a ser mais graves, muitas vezes fatais. Essa realidade impacta diretamente o sistema de saúde e aumenta os custos sociais e econômicos dos sinistros.

O Atlas da Violência também relaciona o agravamento da situação à suspensão da cobrança do seguro obrigatório DPVAT (Danos Pessoais por Veículos Automotores de Via Terrestre), que vigorou entre 2020 e 2023. Criado em 1974, o seguro era destinado a indenizar vítimas de acidentes de trânsito independentemente de culpa.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, a cobrança do DPVAT foi suspensa sob o argumento de que havia reservas suficientes para cobrir os pagamentos até 2023. A medida, no entanto, comprometeu o atendimento às vítimas no SUS (Sistema Único de Saúde), que dependia dos recursos do seguro para financiar parte da assistência hospitalar.

Segundo o documento, a extinção do DPVAT “reduziu a capacidade de atendimento às vítimas no SUS e eliminou a indenização às famílias, o que agrava ainda mais a situação das populações mais vulneráveis”. O seguro foi restabelecido por lei em 2024, após aprovação no Congresso Nacional e sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Atlas também destaca que a mortalidade no trânsito é mais acentuada nas regiões Centro-Oeste e Sul do país, enquanto o Sudeste registra os menores índices. Em 2023, Mato Grosso do Sul (24,2 mortes por 100 mil habitantes) teve índices piores que Estados como Bahia (18,2), Ceará (14,9) e Maranhão (21,4).

No panorama nacional, o Brasil registrou 34.881 mortes no trânsito em 2023, um crescimento de 2,9% em relação a 2022. A taxa de mortes subiu de 15,8 para 16,2 por 100 mil habitantes. Com isso, Mato Grosso do Sul apresenta um índice 49% superior à média brasileira.

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