Estudar é um direito, não um luxo: o Brasil que ainda exclui seus estudantes
No Brasil, o 11 de agosto costuma ser celebrado com frases de efeito sobre o “poder transformador da educação”. Mas, diante da realidade concreta, essa data convida a uma reflexão mais incômoda: o que significa estudar num país em que o acesso à educação ainda é privilégio para poucos, e resistência para muitos?
Apesar de ser um direito constitucional, estudar no Brasil continua sendo um desafio estrutural. Milhões de estudantes enfrentam jornadas duplas, fome, racismo, falta de transporte, adoecimento mental, desigualdade digital e violências simbólicas diárias. Em vez de símbolo de oportunidade, o ambiente educacional pode se tornar espaço de exclusão, especialmente para jovens negros, indígenas, periféricos, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e tantos outros atravessados por múltiplas vulnerabilidades.
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Na universidade, essas desigualdades persistem. Embora as políticas de cotas tenham ampliado o acesso ao ensino superior, a permanência ainda é frágil. Boa parte dos estudantes precisa trabalhar para sobreviver, enquanto enfrenta estruturas institucionais que pouco dialogam com suas experiências. A universidade pública, apesar de seu papel fundamental, ainda reproduz lógicas de elitismo e epistemicídio.
Como lembrou Paulo Freire, educar é um ato político. Estudar não é apenas acumular diplomas, mas desenvolver consciência crítica sobre o mundo e sobre si. No entanto, para que essa transformação aconteça, é preciso garantir condições materiais e simbólicas para que os estudantes permaneçam nas escolas e universidades, com políticas públicas consistentes, acesso à cultura, ao cuidado e ao reconhecimento. A educação precisa romper a lógica meritocrática que individualiza o sucesso e invisibiliza os obstáculos estruturais.
A educação, quando verdadeiramente pública, gratuita e de qualidade, tem o potencial de romper ciclos de opressão e produzir futuros mais justos. Mas isso exige um compromisso ético com a escuta, com a diversidade e com a redistribuição de oportunidades. Como alerta bell hooks, não basta ensinar conteúdos; é preciso criar espaços onde a experiência dos estudantes seja levada a sério como forma legítima de produção de conhecimento.
Celebrar o Dia do Estudante, portanto, é mais do que parabenizar. É reconhecer a coragem de quem estuda apesar dos obstáculos, valorizar trajetórias que desafiam estatísticas e afirmar que a educação precisa deixar de ser promessa para se tornar prioridade. Estudar, em um país como o nosso, ainda é um ato de resistência — e também de esperança.
(*) Thalita Cardoso, estudante de jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e estagiária do Núcleo de Assessoria de Imprensa da Secom/UnB
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