Pai que perdeu esposa e 3 filhos em acidente recupera forças em grupo de apoio
Oldiney Centurion e o filho de 12 anos sobreviveram à tragédia ocorrida na BR-060, em Sidrolândia
O vendedor Oldiney Centurion Saraiva, 42 anos, e o filho de 12 anos são os únicos sobreviventes do acidente que matou a esposa e outros três filhos do casal. A tragédia ocorreu no dia 6 de abril deste ano, na BR-060, entre Sidrolândia e Campo Grande, provocado por um motorista bêbado.
RESUMO
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O vendedor Oldiney Centurion Saraiva, 42 anos, e seu filho de 12 anos sobreviveram a um trágico acidente na BR-060 que vitimou sua esposa e outros três filhos. O acidente, causado por um motorista embriagado, ocorreu em abril deste ano entre Sidrolândia e Campo Grande. Pai e filho encontraram amparo no Navit, projeto do Ministério Público de Mato Grosso do Sul que oferece suporte psicológico, jurídico e médico às vítimas de crimes violentos. O menino, que sofreu múltiplas fraturas, recupera-se em casa após cinco cirurgias, enquanto o pai lida com a perda da família e sequelas físicas do acidente.
Desde a tragédia, pai e filho têm enfrentado uma dura rotina de dor física e emocional, mas encontraram amparo no Navit (Núcleo de Apoio às Vítimas de Crimes e Atos Infracionais Violentos), projeto do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
“Quando você enfrenta uma situação dessas, fica totalmente perdido”, afirma Oldiney ao classificar como imprescindível a assessoria que tem recebido. “Para quem está passando por isso, precisa de alguém que o acolha. Se todo dia eu pudesse dar um abraço neles, eu daria”, diz emocionado.
Dor e recomeço
No momento do acidente, toda a família usava cinto de segurança e o filho de quatro meses estava no bebê-conforto, no colo da mãe. Eles vinham de Sidrolândia rumo à Capital, após passarem o fim de semana com a família da esposa.
A colisão foi provocada pelo mecânico David Lopes Queiroz, 29 anos, que dirigia embriagado e invadiu a pista contrária. O carro da família ficou totalmente destruído e o motorista que causou as mortes acabou preso pelos crimes de homicídio doloso e tentativa de homicídio.
O vendedor sobreviveu com cortes e hematomas, sofreu perda da memória e ainda sente dores no abdome. O filho fraturou o maxilar, quebrou as duas pernas e o braço.
Durante os 20 dias de internação na Santa Casa de Campo Grande, o menino passou por cinco cirurgias e hoje se recupera em casa. Acamado, com fixadores de metal nas duas pernas e no braço, ele precisa de ajuda para todas as atividades. Aos poucos, se recupera e já chegou a dar os primeiros passos.
“O meu filho é o que me dá motivos para continuar. Mas tem dias que penso em fechar os olhos e não querer acordar”, desabafa o pai.
Apoio essencial
O suporte do Navit começou logo na segunda semana após o acidente. Oldiney foi encaminhado pela promotora do caso e, desde então, faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico. O filho recebe atendimento médico em casa, além de auxílio escolar.
“Eu precisava muito e eles arrumaram psiquiatra, equipe de enfermagem e aula em casa para meu filho”, conta o vendedor ao ressaltar que não deseja para ninguém o que tem passado, mas aceitou dar a entrevista para que outras pessoas saibam da existência desse serviço.
Leide Centurion tem acompanhado de perto a luta do irmão e resume o trabalho do núcleo: “É uma dose de carinho por vez, com apoio em cada necessidade da família”.
Além do suporte emocional, o Navit também atuou em questões jurídicas, como um processo judicial que Oldiney enfrentou por causa da interrupção da compra de uma casa. A negociação havia começado antes do acidente e foi interrompida após a tragédia.
Logo após o acidente, a prioridade se voltou para o filho. Oldiney vendeu o outro carro da família e foi providenciar as necessidades urgentes do menino, o que o levou a abandonar a compra do imóvel.
Foi preciso contratar profissionais de saúde, fazer a locação de uma cama hospitalar, entre outras providências para garantir qualidade de vida ao filho.
O Núcleo também ajudou a transferir para o serviço público algumas despesas de saúde que estavam sobrecarregando a família.
“Eles não perguntam ‘o que você precisa’. Eles conversam, ouvem, e vão identificando cada demanda. No primeiro contato, ficamos quase duas horas conversando”, lembra Oldiney.
A rede familiar
Além do Núcleo, pai e filho contam com o suporte da família. A sogra, que morava em Sidrolândia, se mudou para a casa deles na Capital. Irmãos e cunhados também se revezam para ajudar.
O vendedor tenta se recuperar aos poucos, ainda não voltou 100% para a rotina, usa medicação regularmente e mantém o ritmo do trabalho reduzido.
O que é o Navit
Criado em 2022 pelo MPMS, o Navit nasceu dentro do Núcleo Criminal. Desde 2023, já realizou 290 atendimentos. Atualmente, acompanha 105 casos, sendo que há situações que envolvem até quatro núcleos familiares.
Idealizado pelas promotoras de Justiça, Renata Goya e Lívia Barian, o objetivo do Núcleo é garantir acolhimento imediato a familiares de vítimas de homicídios, feminicídios, tentativas de homicídio e de feminicídio e latrocínio.
Antes do Navit, o Ministério Público já oferecia atendimento pelo Projeto Acolhida, criado em 2021, que se restringia ao atendimento de parentes ou pessoas que sofreram os efeitos dos crimes de homicídio e feminicídio.
Agilidade para o atendimento
Segundo a promotora Renata Goya, coordenadora do Núcleo Criminal e de Vítimas, a proposta é evitar que famílias sejam revitimizadas, tendo que repetir inúmeras vezes o relato da tragédia. Assim, a equipe identifica as necessidades da família e atua para auxiliá-la por meio dos parceiros.
“A gente não solta a mão de ninguém. É amor e carinho. Não tem outra palavra”, resume Renata Goya.
A promotora Lívia Barian, coordenadora do Núcleo do Tribunal do Júri, complementa:
“Logo após o crime, a pessoa está em luto. Como vai pensar? A vida dela está uma bagunça. O núcleo pega na mão, passa na frente, arruma vaga em escola, faz a intermediação de atendimento médico e jurídico. É acolhimento em cada detalhe”.
Atualmente, o projeto está em funcionamento em Campo Grande e Dourados, e em fase de implantação em Chapadão do Sul. As promotoras sonham que o projeto se torne um programa maior e futuramente resulte na concretização de uma política pública voltada aos parentes das vítimas.
Como buscar ajuda
O Navit conta com equipe de assessoria jurídica, serviço social e psicologia e tem parcerias com o Tribunal de Justiça, a Secretaria de Justiça (Polícia Civil e Polícia Militar), a Secretaria Municipal de Saúde, a Secretaria Municipal de Assistência Social, os Conselhos Tutelares, a Secretaria de Estado, a Secretaria Municipal de Educação, universidades e organizações do terceiro setor.
“Só funciona porque existem pontos focais como esses parceiros”, afirma a promotora Renata Goya.
A entrada no projeto pode ser espontânea ou por encaminhamento de promotores que atuam nos casos. Há situações também de busca ativa por parte da equipe do Núcleo quando há crimes repercutidos na imprensa.
Em Campo Grande, o projeto funciona na sede do Ministério Público. O atendimento pode ser solicitado pelo telefone (67) 3357-2552, WhatsApp (67) 99250-4911 ou e-mail navit@mpms.mp.br.
