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Cidades

Placar de mortes desafia estudo que vê resistência à covid em quem teve dengue

No Estado, as doenças têm números de noticações parecidas, mas a letalidade da covid é expressivamente maior

Marta Ferreira | 22/09/2020 13:54
Arte: Ricardo Gael
Arte: Ricardo Gael

Quem teve dengue em 2019 ou no começo deste ano demorou mais a contrair o novo coronavírus. É que aponta estudo em desenvolvimento sob liderança do cientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor catedrático da Universidade Duke, na Carolina do Norte (Estados Unidos), que coloca Mato Grosso do Sul na condição de um dos estados onde isso pode ter ocorrido, em razão da alta incidência de contágio pelos quatro tipos de enfermidades transmitidos pelo Aedes aegypti .

Os números objetivos deste ano indicam números parecidos de registros de dengue e covid-19 em Mato Grosso do Sul, com mais de 60 mil casos para as duas doenças.

Mas a letalidade é muito maior para o novo vírus.

Enquanto a dengue, transmitida por um mosquito, matou 42 pessoas no Estado, de janeiro a setembro, a covid-19, cujo contágio vai do contato pessoal a objetos contaminados, já está perto de 1,2 mil óbitos, entre abril e setembro.

A pesquisa - Os resultados preliminares do trabalho científico, ainda não divulgado oficialmente, foi revelado pela agência Reuters. O inquérito científico aponta que lugares nos quais grande parte da população teve dengue pouco antes ou durante a pandemia de covid-19 registraram números menores, também, de mortes causadas pela doença.

Em síntese, a leitura indica possível “imunidade cruzada”, ou seja: proteção contra o coronavírus para quem teve dengue recentemente. Isso poderia ocorrer, também, com as vacinas já aprovadas para a dengue, segundo os indícios.

Enquanto a dengue, transmitida por um mosquito, matou 42 pessoas no Estado, de janeiro a setembro, a covid-19, cujo contágio vai do contato pessoal a objetos contaminados, já está perto de 1,2 mil óbitos, entre abril e setembro.

Arte: Ricardo Gael
Arte: Ricardo Gael

Cautela – Destacada por vários veículos de imprensa, inclusive com a citação de Mato Grosso do Sul como um dos estados que comprovam a sugestão da pesquisa, por ter menos casos de covid-19 em relação ao restante do País, o estudo foi recebido com um tom de “vamos esperar mais”, pela infectologista Maria Croda, integrante do COE (Centro de Operações Emergenciais).

O organismo foi criado no começo do ano, para gerenciar a crise sanitária provocada pela pandemia de covid-19.

Indagada se, para quem está na lida diária do controle da doença, as indicações do estudo são percebidas, Mariana é cuidadosa, mas enfática.

A gente não consegue perceber isso. Nós somos um dos estados que mais tiveram dengue, e na nossa micro, sem fazer uma análise macro, não percebemos isso”.

Ela faz a ressalva de que a pesquisa ainda está para ser divulgada ainda portanto, é preciso esperar. “A gente não consegue ter criticidade maior”, explica.

Com o que já foi tornado público, a médica aponta que a realidade não sustenta a teoria.

Tivemos pacientes com dengue e covid ao mesmo tempo”, lembra.

O mais conhecido personagem de contágio duplo foi o ex-senador Delcídio do Amaral. Ele foi vítima da “covengue”, como ele mesmo citou, e ficou internado, recebeu alta, mas tede de voltar para o hospital. Ou seja, o quadro foi severo.

No comentário da infectologista, ela citou Corumbá, uma das cidades com mais altos índices de letalidade da covid-19, e onde a incidência de dengue é um problema recorrente.

Outro aspecto comentado por ela é a suposta proteção das vacinas contra dengue.

“A vacina da dengue aqui é muita baixa. É uma vacina privada, não tem cobertura vacinal importante”.

Há ainda as variantes dentro da própria dengue. A imunidade para quem já teve a doença não é permanente, e só vale para o tipo de vírus adquirido. São 4 e cada epidemia, um deles domina.

O cientista Miguel Nicolelis. (Foto: Agência Brasil)
O cientista Miguel Nicolelis. (Foto: Agência Brasil)

O que diz o cientista – Na visão de Nicolelis, famoso pelo trabalho que tenta devolver o movimento a pessoas afetadas por lesões na coluna, a descoberta “surpreendente” levanta a intrigante possibilidade de reação cruzada entre o vírus da dengue e o Sar-Cov-2.

“Se comprovada correta em futuros estudos, esta hipótese pode significar que a infecção pela dengue ou uma eventual imunização com uma vacina eficaz e segura para dengue poderia produzir algum tipo de proteção imunológica para Sar- coc-2, antes de uma vacina para sars-cov-2 se tornar disponível", diz o estudo, divulgado com com exclusividade pela Reuters.

O pesquisador afirmou, em entrevista exclusiva à Reuters, que já existem trabalhos mostrando que pessoas que têm sorologia positiva para dengue testam positivo para coronavírus sem ter coronavírus, sugerindo que essas pessoas produzem um anticorpo que age nas duas doenças.

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