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Cidades

Vítima descobre, na terapia, que era violentada pelo marido

Ela encontrou apoio psicoterápico no Ceamca, que já atendeu 277 mulheres e 45 crianças neste ano.

Por Inara Silva | 11/09/2025 14:31
Vítima descobre, na terapia, que era violentada pelo marido
Marcela faz psicoterapia uma vez por semana no Ceamca. (Foto: Juliano Almeida)

Marcela* acreditava que vivia um casamento normal, ainda que marcado por ofensas e humilhações. Os xingamentos eram rotina: “inútil”, “encostada” e tantos outros que a faziam acreditar que realmente não tinha valor.

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Uma mulher descobriu, durante sessões de psicoterapia no Centro Especializado de Atendimento à Mulher, à Criança e ao Adolescente em Situação de Violência (Ceamca), que era vítima de violência sexual e psicológica por parte do marido. Durante cinco anos de casamento, ela sofreu abusos sem reconhecer que estava sendo violentada.O caso veio à tona após uma ameaça de morte que a levou a buscar medidas protetivas. O Ceamca, que atendeu 277 mulheres entre janeiro e julho deste ano, oferece atendimento gratuito e está expandindo seus serviços para 12 municípios do interior de Mato Grosso do Sul através de convênios com prefeituras locais.

Em alguns momentos era alvo de palavras duras; em outros, o marido se mostrava carinhoso. Quando, magoada, se recusava a corresponder, ouvia que não sabia reconhecer quando ele a tratava bem. Para evitar novas discussões, acabava cedendo.

O silêncio na intimidade

Na vida íntima, a violência assumia outra forma. Marcela viveu inúmeras relações sexuais sem consentimento, marcadas por agressividade e dor. Chorava, implorava para que ele parasse. Em resposta, recebia ironias: era chamada de “fresca” e acusada de “mimimi”.

Foram cinco anos de casamento, incluindo períodos de separação. O estopim ocorreu quando foi expulsa de casa e uma briga envolveu sua família. O marido chegou a ameaçá-la de morte. Foi então que os parentes a convenceram a registrar um boletim de ocorrência e pedir medida protetiva.

Vítima descobre, na terapia, que era violentada pelo marido
Mulher fala da importância do acompanhamento psicoterápico. (Foto: Juliano Almeida)

A descoberta no Ceamca

Encaminhada ao Ceamca (Centro Especializado de Atendimento à Mulher, à Criança e ao Adolescente em Situação de Violência) pela Delegacia da Mulher, Marcela descobriu que o que vivia tinha nome: violência sexual e psicológica.

“Eu achava que violência doméstica era só apanhar, mas não é. Pensava que, como mulher, eu deveria fazer o que ele quisesse porque era emocionalmente e financeiramente dependente dele. Eu aceitava”, lamenta, emocionada.

Hoje, ela participa semanalmente de sessões de psicoterapia e faz um alerta para que outras mulheres busquem ajuda:

“Aqui eles te escutam. Ajudaram-me a perceber que eu não precisava passar por isso”, afirma, ao explicar que aceitou dar a entrevista para sensibilizar outras vítimas.

Atendimento gratuito e apoio psicológico

De janeiro a julho deste ano, o centro atendeu 277 mulheres, com 1.004 acompanhamentos, além de 45 crianças e adolescentes, que receberam 214 atendimentos. O serviço de psicoterapia é gratuito e oferecido semanalmente.

No ano passado, foram realizados 1.970 atendimentos a 404 mulheres, além do acompanhamento de 32 crianças e adolescentes, totalizando 88 atendimentos infantis.

Assim como Marcela, as vítimas chegam ao serviço por encaminhamento da rede de apoio - Delegacia Especializada, Casa da Mulher Brasileira, Conselho Tutelar, Defensoria Pública, Ministério Público, secretarias municipais ou estaduais. Também é possível agendar diretamente pelo WhatsApp: (67) 99653-5913.

Vítima descobre, na terapia, que era violentada pelo marido
Coordenadora do Ceamca, Veridiana Almeida, mostra os dados de atendimentos (Foto: Juliano Almeida)

Diagnóstico das vítimas

Segundo a coordenadora Veridiana Almeida, o trabalho começa com uma entrevista aprofundada feita por assistentes sociais, que preenchem um formulário com informações sobre saúde, vida social, financeira e familiar, além do histórico de violência e da avaliação de risco. A partir desse levantamento, é elaborado um diagnóstico que orienta encaminhamentos para psicoterapia, assistência jurídica, acolhimento em abrigo ou outros serviços.

Após a triagem, Marcela esperou um mês na fila para iniciar o atendimento.

“Três situações têm prioridade no acompanhamento psicoterápico: violência sexual, ideação suicida e sobreviventes de tentativa de feminicídio. Mas atendemos todas as mulheres, independentemente da classe social”, explica Veridiana.

Para procurar o Ceamca, não é exigido boletim de ocorrência.

“Respeitamos o desejo da mulher. O importante é que ela encontre um espaço seguro para se fortalecer e decidir os próximos passos”, conclui a coordenadora.

Vítima descobre, na terapia, que era violentada pelo marido
Veridiana Almeida explica como funciona o Ceamca. (Foto: Juliano Almeida)

Expansão para o interior

O centro, que atende principalmente mulheres de Campo Grande, está ampliando sua atuação. Um convênio firmado entre o Governo do Estado e 12 municípios — Alcinópolis, Bataguassu, Brasilândia, Cassilândia, Costa Rica, Japorã, Mundo Novo, Pedro Gomes, Selvíria, Porto Murtinho, Sonora e Rio Brilhante — permitirá a implantação de unidades regionais. As prefeituras assumirão parte dos custos, após incluir a verba na LOA (Lei Orçamentária Anual).

Serviço: Pessoas interessadas no atendimento podem procurar o Ceamca pelos seguintes canais: telefone/WhatsApp (67) 99653-5913 e e-mail: ceamca@sec.ms.gov.br.

* Nome fictício para proteger a vítima.

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