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Capital

À espera do enterro de vítima, irmã diz que delegado preso "não ligou" para caso

Marta Ferreira | 23/06/2020 14:36
Claudionor em uma foto com a irmã, que ainda espera para sepultar os restos mortais dele. (Foto: Álbum de família)
Claudionor em uma foto com a irmã, que ainda espera para sepultar os restos mortais dele. (Foto: Álbum de família)

“Se o Obara tivesse investigado, não teria morrido mais gente”. A frase é de Márcia  Longo Xavier, de 55 anos, irmã de Claudionor Longo Xavier, uma das sete vítimas de Cleber de Souza Carvalho, o “Pedreiro Assassino”, na prisão desde 15 de maio. Márcia está se referindo ao delegado Márcio Shiro Obara, ex-titular da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídio), onde o desaparecimento de Claudionor foi registrado em abril de 2019.

A família ainda não conseguiu fazer o sepultamento de Claudionor.

O delegado Mário Shiro Obara foi presa durante a operação Omertà, na quinta-feira passada (18), sob suspeita de proteger organização criminosa à qual são atribuídas execuções de desafetos. Para a irmã de Claudionor, a autoridade policial, agora afastada das funções, também tinha outro “defeito” em sua atuação profissional: não “ligava” para casos de desaparecidos.

Ela afirma ter ouvido isso inclusive de um investigador durante uma das várias idas à unidade policial para saber do andamento das buscas por ele.

Agonia de mais de um ano - Os restos mortais do irmão de Márcia só foram localizados este ano, no dia 16 de maio, depois da prisão do serial killer. Segundo as investigações, a vítima foi assassinada a pauladas e enterrada em um terreno no Bairro Sírio Libanês.

Márcia, que está afastada do trabalho por quadro de depressão agravado por fibriomialgia, diz que chegou a ser atendida pelo delegado, mas que nunca foi feito nada para achar Claudionor. Depois a descoberta do assassinato, afirma, policiais tentaram ouvi-la como parte da investigação, mas ela preferiu não falar.

Márcia é taxativa ao dizer que, se o homicídio do irmão tivesse tido apuração adequada, outras mortes confessadas por Cleber teriam sido evitadas e os corpos de outras vítimas, que ficaram sumidos por até cinco anos, seriam localizados. Ou seja, para ela, se o trabalho policial tivesse sido feito, vidas teriam sido preservadas e a justiça feita antes contra o assassino em série.

Entre o sumiço de Claudionor, de 50 anos, e o dia 15 de maio deste ano, quando o criminoso foi preso, foram cometidos mais dois assassinatos foram descobertos.

Das 7 vítimas confessadas por Cleber de Souza Carvalho, Claudionor foi a 5ª em ordem cronológica. Depois dele, foram assassinados José Leonel Ferreira dos Santos, 61 anos no dia 2 de maio de 2020, Timóteo Pontes Romã, 62, anos no dia 3 de maio.

Os crimes foram desvendados depois da morte de José Leonel,  assassinato que teve participação da mulher e da filha de Cleber, também presas. A família estava morando na casa da vítima, onde o corpo foi enterrado no quintal.

Claudionor Longo Xavier, que desapareceu em abril de 2019, foi uma das 7 vítimas do "Pedreiro Assassino" já descobertas. (Foto: Álbum de família)
Claudionor Longo Xavier, que desapareceu em abril de 2019, foi uma das 7 vítimas do "Pedreiro Assassino" já descobertas. (Foto: Álbum de família)

À espera da despedida – A agonia dos parentes de Claudionor Longo Xavier ainda não terminou. Falta dar a ele o último destino, o sepultamento digno a que toda família tem direito para seus entes falecidos.

Os restos mortais foram localizados no dia 15 de maio, à noite, ou seja, há pouco mais de um mês. O “Pedreiro Assassino” disse, segundo informado no dia pela polícia, ter matado uma pessoa chamada “Claudionor”, há cerca de um ano, e enterrado o corpo dela no mesmo imóvel no qual foi achado o cadáver de José Jesus de Souza, 45 anos. O corpo dessa vítima havia sido desenterrado no dia anterior.

Márcia Longa Xavier disse já ter sido informada por funcionário público que o irmão já foi identificado e reclama da burocracia para conseguir fazer os funerais.

“Eu preciso seguir com a minha vida”, desabafa Márcia Longo Xavier sobre o fato de ainda não ter feito o funeral do irmão.

Cuidado - A explicação obtida pelo Campo Grande News é de que esses trâmites são mesmo complexos, pois é preciso ser concluído o laudo pericial, que neste caso exigiu exame de DNA, para confirmar oficialmente que se trata da vítima informada pelo assassino.

Em resposta à reportagem, a Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Públicas) informou que o corpo está realmente para liberação, porém é preciso de autorização judicial para a confecção da certidão de óbito.

Para que esse processo se confirme, é preciso que o laudo vá para a delegacia responsável pelo caso oficialize essa informação. A complexidade, segundo o esclarecimento obtido, é para que não seja entregue à família o corpo errado, dada as condições em que os restos mortais foram encontrados.

Sobre a demora nas apurações, quando Cleber de Souza Carvalho foi preso, uma das explicações dadas é que só foi possível desvendar o caso depois que vizinhos desconfiaram do sumiço da última vítima e acionaram a Delegacia, que prendeu mãe e filha e chegou ao criminoso em série.

O delegado Márcio Obara, citado na reportagem, está preso preventivamente. A defesa dele negou as denúncias feitas a ele, incluindo recebimento de propina, e disse que pediria a liberdade por meio de habeas corpus no Tribunal de Justiça.

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