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Capital

Altamir pede celular de Natal para falar com a família do filho que se foi

Campanha de Natal "adote um idoso" do Sirpha tem 79 pedidos de presente para quem quiser ser Papai Noel dos velhinhos

Paula Maciulevicius Brasil e Bruna Marques | 19/11/2020 13:27
Saudade brota nos olhos de idoso que foi adotado por músico. (Foto: Marcos Maluf)
Saudade brota nos olhos de idoso que foi adotado por músico. (Foto: Marcos Maluf)


"Celular modelo antigo, com teclado de botões".

Este é o terceiro item da lista de 79 pedidos que os idosos do Sirpha Lar do Idoso fazem ao Papai Noel. O pedido número 3 até já foi adotado ao que parece, mas por trás dele existe uma história de adoção, de amor e principalmente de saudade.

Altamir Soares de Oliveira, hoje com 77 anos, pede um celular do modelo antigo, daquele de botões, em que o teclado não é touch screen e sim digitado letra por letra, número por número para poder falar com a nora quando a saudade do filho que o adotou bater mais forte.

Porta-retrato dos dois é a lembrança da família de Altamir. (Foto: Marcos Maluf)
Porta-retrato dos dois é a lembrança da família de Altamir. (Foto: Marcos Maluf)

Em 2019, no Dia dos Pais, o Lado B chegou a narrar a história da perspectiva de quem, na velhice, descobriu novo significado para a paternidade quando foi "adotado" pelo músico Mário Fonseca Júnior. O músico era voluntário na casa e os dois criaram tamanho laço que aos finais de semana seu Altamir ia para a casa do filho e da nora ficar junto dos netos.

Até outubro do ano passado, Mário Júnior ia duas vezes por semana ao lar de idosos ver o pai e alegrar os demais moradores com música. As visitas foram interrompidas quando o músico morreu num acidente na Avenida Cônsul Assaf Trad. Conhecido como Juninho da Fonseca, ele era maestro do Coral Guarani, violinista e violeiro conhecido no Brasil e Paraguai, além do filho do coração de seu Altamir.

Quando a notícia chegou ao lar, foi a assistente social Natália Grabowski quem ficou responsável por informar, aos poucos, o acidente para o idoso. "Ele nos surpreendeu. Já tinha acontecido e fomos falando que ele estava no hospital, que tinha sido muito grave, para ver a reação dele. Até ele me perguntar: 'ele morreu, né'?"

A cena descrita é repetida hoje por Natália. Foi ela quem junto de uma enfermeira levou o pai para se despedir do filho no velório. Altamir ficou ao lado do caixão consolando a nora e os netos.

Pedido no Natal é por celular para matar as saudades. (Foto: Marcos Maluf)
Pedido no Natal é por celular para matar as saudades. (Foto: Marcos Maluf)

"Eu tinha sentido alguma coisa. Tinha sonhado com ele aquela noite, que ele estava tocando e a gente cantando", recorda Altamir. "Eu penso nele todos os dias, eu peço pro padre rezar por ele. Sonho que ele está conversando comigo", conta o pai.

O contato com a nora e os três netos continua quase que diário, pelo tablet da instituição através de video chamadas e também de visitas presenciais. Mas para o coração do pai, o vazio que ficou com a morte do filho não parece ser preenchido tão facilmente.

"Eu pedi o celular, porque era o que eu queria para falar com ela todo dia. Ela é uma filha que eu tenho", explica o motivo do pedido ao Papai Noel.

À equipe, seu Altamir quer até mostrar as fotos que tem dos netos no quarto, mas somos impedidos de entrar no quarto por conta da pandemia. "Quero que você veja as fotos", insiste o avô coruja. Mas no fim, ele entende que é por conta da covid-19 que o trânsito na instituição está regrado.

No ano passado, o idoso pediu uma camiseta do Palmeiras. Ganhou 14 delas e as usava diariamente. Só trocava de roupa para vestir o manto verde e branco.

As fotos dos netos e do filho, que Altamir guarda no coração. (Foto: Marcos Maluf)
As fotos dos netos e do filho, que Altamir guarda no coração. (Foto: Marcos Maluf)

Adote um idoso - Assim como as crianças pedem para o Papai Noel, os idosos também têm sua listinha de desejos. Neste Natal, a Sirpha Lar do Idoso anotou os pedidos dos 79 moradores da casa. As opções mostram a simplicidade dos desejos, de quem acima do presente, gostaria de ser lembrado no Natal.

Cada pedido carrega uma história, como a do mais velho da instituição, seu Aniceto que aos 107 anos pede lápis de cor e livrinhos de colorir, ou do seu Geraldo que quer uma câmera fotográfica para tirar foto dos passarinhos e das pipas que ele adora observar.

Entre os itens mais pedidos estão perfumes, kit banho e de cuidados para barba, além de roupas e calçados. A "cartinha" que nada mais é do que o nome de cada idoso junto das suas preferências está sendo disponibilizada pelo WhatsApp. Basta enviar uma mensagem para o número 9-9170-7797 que você recebe as sugestões de cada um deles.

A campanha começou nesta semana e quem adotar precisa entregar na Sirpha ou combinar o local de entrega até o dia 10 de dezembro.

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