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Capital

Amigas narram horror após serem estupradas por quase 1h: "Achei que iria morrer"

Jovens foram abordadas na saída de academia e estupradas; autor foi preso em flagrante pela PM

Dayene Paz | 17/07/2022 12:00
Delegacia de Atedimento à Mulher, em Campo Grande, que investiga o caso. (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegacia de Atedimento à Mulher, em Campo Grande, que investiga o caso. (Foto: Henrique Kawaminami)

"Parece que não foi real, que não aconteceu. Pensei que a gente ia morrer". Em meio ao relato do que definem como pesadelo, aparecem a angustia e a indignação de duas jovens, estupradas e agredidas por Juarez Bastos de Lima, de 49 anos, em Campo Grande. O homem - com histórico policial pelo mesmo crime - foi preso em flagrante e a polícia investiga se há mais vítimas.

Ainda abaladas, neste sábado (16) as amigas conversaram por telefone com o Campo Grande News sobre o dia do crime, mas terão os nomes preservados por serem vítimas do estuprador. Na reportagem, serão chamadas de Ana, 24 anos, e de Maria, 22.

As jovens treinam juntas na academia do Residencial Oliveira, na Capital. Na quinta-feira (14), como de praxe, chegaram por volta das 19 horas ao local. "A gente chegou quase no mesmo horário. Eu fui andando e ela de carro", conta Ana. Ao terminarem o treino, as amigas seguiram para o mercado nas proximidades, depois retornaram ao veículo, estacionado ao lado da academia.

Maria conta que costumava estacionar o carro na parte mais iluminada, mas naquele dia o local estava lotado. "Vi muito carro lá e fiquei com medo de estacionar errado, então fiz a rotatória e coloquei no lugar que dava pra mim, perto de uma árvore", lembra Maria. A motorista então entrou no carro e ligou a luz.

Jovens pensaram que era assalto - Ana entrou pelo lado do passageiro e já estava colocando o cinto quando alguém abriu a porta. "Foi quando eu vi um senhor todo de preto e boné perto da sobrancelha. Ele falou para não olhar pra ele. Colocou uma faca no meu pescoço e logo entreguei meu celular, nem reagi", descreve Ana.

No entanto, o homem as amarrou. "Pediu para ir pra frente com o corpo e amarrou minha mão para trás com cadarço de sapato. Depois, mandou eu sair do carro enquanto amarrava a Maria. Na hora eu pensei em correr e pedir ajuda na academia, mas no momento que pensei em fazer isso eu lembrei que ele estava com a faca na Maria, então eu preferi não reagir. A polícia sempre fala para não reagir em assalto".

Em seguida, as jovens foram colocadas nos bancos de trás do carro. "De joelho no assoalho, de costas para ele e a cabeça no banco. Qualquer movimento da nossa cabeça ele mandava abaixar", lembra Ana. O criminoso tomou a direção e seguiu com o carro. "Só consegui ver postes e árvores, demorou, não sei quanto tempo, uns 10 ou 12 minutos, ele foi dirigindo procurando um lugar", afirma.

Quando chegou em local ermo, Ana acreditou que já nem estava na cidade. "No começo achei o mato alto, começou arranhar o carro e não tinha mais poste de luz. Pensei que a gente estava saindo de Campo Grande. Quando chegamos, ele abriu a porta e puxou nosso cabelo para sair. Naquele momento ainda pensei que ele ia deixar a gente abandonada para roubar nossos pertences e fugir, na minha cabeça passava isso". Já Maria, só pedia para não acontecer o pior. "Pensei que a gente ia morrer, pensei sim que ele ia estuprar".

Já fora do carro, as jovens foram vendadas. "Se a gente olhava ele batia. Quando saímos, ficamos de costas para o carro, momento em que ele vendou a gente. Eu pedi para ficar sentada, porque já estava com dor. O nó foi tão forte que eu tentava puxar, mas não dava. A minha perna estava dormente e fui tentando me arrumar, fiquei sentada no chão", lembra Maria.

O homem passou a revistar o carro e até esse momento, ainda parecia ser um assalto. "Ele estava dentro do carro, começou a perguntar a profissão dos nossos pais, a nossa, onde a gente morava, se era perto da academia, se tinha dinheiro, rastreador no carro e então perguntou o meu nome", conta Maria. Foi então que ele estuprou as jovens.

Ele tentava forçar beijos e, sem retribuição, fez ameaças de morte. "Como eu não estava retribuindo o beijo, ele disse 'você quer morrer'. Eu estava agachada, meio de costas, então ele me bateu e falou 'faz direito'. De início ele não tinha colocado preservativo, só depois colocou".

Local onde estuprador abordou vítimas que saíam de academia. (Foto: Henrique Kawaminami)
Local onde estuprador abordou vítimas que saíam de academia. (Foto: Henrique Kawaminami)

O crime continuou. "Depois me ergueu apoiada no carro, pediu para tirar o sapato do pé esquerdo, tirou minha calça do mesmo lado e tentou penetração anal. De início, ele não estava conseguindo, então ele foi para o lado da minha amiga, ficava revezando. Depois, obrigou que a gente fizesse oral nele. Me batia, puxava meu cabelo", descreve Ana.

Nesse momento, durante a conversa com a reportagem, a voz de Maria embargou. "Foi horrível, uma dor insuportável. Eu tentava me segurar, mas era uma dor tão grande, não conseguia respirar", descreve.

Após cerca de uma hora, o homem parou. "Deu água, pediu para colocar a roupa e nesse momento, eu e ela de joelhos, a minha faixa caiu e dei uma olhada no lugar que a gente estava. Mas com medo dele ver que eu olhei o local e querer matar a gente, avisei que caiu a faixa", lembra Maria.

A amiga, Ana, também conseguiu perceber alguns detalhes no caminho de volta. "Teve um momento que minha venda desceu e eu pensei 'se eu for sair viva eu tenho que pegar o maior número de registro de memória'. Vi sapato, a camisa dele, tudo isso foi essencial na hora de repassar para a polícia".

Na volta, ele desamarrou as mãos das meninas. "Depois, mandou a gente ficar sentada com a venda e a cabeça baixa. Ele falava a todo momento que se a gente colaborasse não iria machucar. De dez em dez minutos ele falava isso", revela Ana.

Juarez foi preso em flagrante, no Conjunto União, em Campo Grande. (Foto: @sheriff67_oficial)
Juarez foi preso em flagrante, no Conjunto União, em Campo Grande. (Foto: @sheriff67_oficial)

As jovens contam que o caminho de volta pareceu ser mais rápido. "A gente estava até então de venda e não sabíamos onde estávamos, era um local muito grande, não um terreno baldio, era uma área bem grande e erma. Quando chegamos de volta, ele tirou a Maria e falou 'agora vocês podem ir embora'. Eu desci, vi que a gente estava atrás da escola e reconheci a região. A Maria falou 'vamos para a sua casa' e eu disse vamos para a delegacia".

As jovens então seguiram até o batalhão de polícia mais perto. "A gente estava tão nervosa que quase batemos em um casal de moto, mas a Maria conseguiu frear. Quando chegou no batalhão da PM, passamos todas as descrições, dos locais e das características dele". Juarez não havia levado os celulares das jovens, mas roubou os fones de ouvido e uma quantia em dinheiro. Ele foi preso em flagrante pouco tempo depois do crime.

Ana afirma que ainda está aterrorizada e mal consegue dormir. "Parece que foi um sonho, que não é real e não aconteceu. Foi muito traumatizante, não consigo dormir, parece que estou lá ainda, parecia que tinha uma venda no meu olho", lamenta.

Maria também tem passado as noites acordadas após o crime. "Não consigo ficar sozinha, tudo foi um pesadelo que é difícil processar. Estou sentindo uma tristeza, eu choro as vezes, porque é muito difícil barrar a lembrança. Qualquer coisa que alguém me faça rir me sinto culpada", revela. "Ele ameaçou a gente, falou que não íamos ter paz se denunciássemos, tirou foto da minha carteira de motorista, mas eu não ia ficar quieta, não era uma opção. Eu quero que nunca mais ele saia, que fique preso para sempre".

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