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Capital

Animais levam vida de rico e provam que Capital é a "cidade dos bichos"

Elverson Cardozo e Cleber Gellio | 21/08/2013 07:00
Cleo dos Santos mora em frente a uma reserva ambiental e não deixa de cuidar dos quatis. (Foto: Cleber Gellio)
Cleo dos Santos mora em frente a uma reserva ambiental e não deixa de cuidar dos quatis. (Foto: Cleber Gellio)
Animais levam vida de rico e provam que Capital é a "cidade dos bichos"

Hoje eles comem pães, arroz, frutas e até bolos. Gastam, em média, R$ 2,5 mil por mês. Recebem visitas frequentes e vivem tranquilos, sem esquentar a cabeça. Bela, Amarelo, Eduard, Callayam e Terê são, talvez, os quatis mais “vida mansa” que existem. Mas os bichinhos, moradores de uma reserva ambiental do Bairro Zé Pereira, já passaram por “perrengues”. Felizmente, tiveram sorte.

Esta é mais uma história do mundo animal, que prova: Não fosse Morena, “apelido” oficial da Capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, que completa 114 anos na segunda-feira (26), poderia ser, quem sabe, a “cidade dos bichos”.

Cleo dos Santos, 51 anos, vizinha da reserva do Zé Pereira, foi quem deu a vida de rei aos animais, depois que sensibilizou com a situação em que eles se encontravam.

Tudo começou quando, certo dia, ela chegou em casa e viu alguns quatis fuçando a lixeira em busca de alimentos. Tocada com a cena, a moradora resolveu agir e, desde aquele dia, 27 de dezembro de 2004, passou a tratá-los.

“Sempre gostei de animais, mas, quando vi aquela situação, não aguentei. Poderia acontecer com eles o que já vinha acontece com gatos na vizinhança, que estavam morrendo com os alimentos domésticos contaminados”, disse.

Bando vive uma vida boa. Não há do que reclamar. (Foto: Cleber Gellio)
Bando vive uma vida boa. Não há do que reclamar. (Foto: Cleber Gellio)

Preocupada com a questão legal, Cleo entrou com contato com órgãos responsáveis e obteve a autorização para tratá-los. Hoje, só ela tem permissão para entrar na área.

Mas na reserva da rua Alexandrino Marques, conhecida como a “Rua dos Quatis”, não vivem só esses mamíferos, que somam cerca de 180. A mata também é a “casa” de macacos bugios, capivaras, peixes, araras, periquitos, tucanos, cobras, mutum e até jacarés.

A identificação com a dona Cleo é tanta que alguns animais vão até ela comer na mão. Basta que os chame pelos nomes. Na lista dos quatis, o preferido é Bela.

"Ela tem mais afeto, talvez porque exerce a liderança no grupo. Quando ouve a minha voz, já traz o resto do bando”, comentou. O mais arteiro é o Amarelo, que dá trabalho. “Ele briga com os outros e vai para a rua”, contou a moradora. Vira e mexe, a mulher precisa sair atrás dele.

Entre o bando de macacos, estão Jack, Chesper e Aliça, a única que, meio desconfiada, ainda se aproximou das lentes de nossa reportagem.

No alto da árvore, macaco se espreguiça e a cena vale o registro. (Foto: Cleber Gellio)
No alto da árvore, macaco se espreguiça e a cena vale o registro. (Foto: Cleber Gellio)
Este outro se arrisco para conseguir pegar o pão. (Foto: Cleber Gellio)
Este outro se arrisco para conseguir pegar o pão. (Foto: Cleber Gellio)

Com tantas espécies, o lugar virou ponto turístico do bairro e, diariamente, recebe visitantes. Dias desses, durante um único final de semana, mais de 150 pessoas passaram pelo lugar. A “muvuca” era tanta que alguém, assustando, pensando que fosse um acidente chamou o Corpo de Bombeiros.

“Recebo pessoas de diversas regiões do Brasil e até do mundo. Já passaram por aqui turistas do Japão, Coreia do Sul, Itália, França, Marrocos, entre outros. Não faz muito tempo, presenciei um fato curioso: ao sair de casam, vi um grupo de umas 20 pessoas, sentadas em cadeiras e lanchando de frente para os animais. Eram paraguaios que vieram conhecer a reserva”, relembrou, entusiasmada.

Quem conhece a reserva, tece elogios. “Isso aqui é muito bom. Não precisamos sair para ver a fauna e a flora do nosso Estado”, disse a instrutora de trânsito Weslayne Ramalho, 25 anos, que estava no local, admirando a paisagem e os animais, acompanhada do marido, Gregory Patrick da Silva, 23 anos.

Jurema Villarinho, 50 anos, e o esposo, Nélio Villarinho, 51 anos, costumam caminhar próximo à reserva. O casal já teve boas surpresas. Essa semana, por exemplo, eles viram um preá entrando na área, mas dizem ter encontrado até ninho de tartaruga.

Para Jurema, essa característica da cidade é ponto positivo. “Aqui temos os ipês, as araras e muitos outros atrativos da natureza. Quando falo com alguns amigos que moravam aqui e se mudaram, relato o quanto nossa cidade está bonita com suas áreas verdes e parques. É um dos atributos que uso quando alguém diz que quer conhecer Campo Grande”, destacou.

O argumento, se bem trabalhado, costuma impressionar os visitantes, tanto é que alguns acreditam mesmo que, no Mato Grosso – isso mesmo, sem o “do Sul” -, cobras e jacarés atravessam as ruas. Se a visão é equivocada, a realidade, quando confrontada, gera boas surpresas.

Jibóia resolveu agarrar a presa em frente à governadoria. (Foto: João Garrigó/Arquivo)
Jibóia resolveu agarrar a presa em frente à governadoria. (Foto: João Garrigó/Arquivo)

Cenas do dia a dia - Capivaras atravessando o asfalto, na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), viraram cena clássica, digna de registro. Mas o mamífero, de cara dócil e comportamento tranquilo, já foi encontrado até dentro de um guarda-roupa. Estava lá, com jeito de “não fiz nada”.

Quem não se lembra da “capivarinha”, de 50 quilos, que resolveu se alojar no móvel de uma casa, na Aldeia Urbana Marçal de Souza? Rendeu boas risadas e, claro, manchetes.

Em março, o Corpo de Bombeiros teve um trabalho danado para retirar um boi, da raça Girolando, que caiu em uma piscina. Há 1 ano e seis meses, outra surpresa: uma jibóia resolveu degustar uma pomba, lentamente, em frente à janela da Governadoria, no Parque dos Poderes.

Na ocasião, da sacada da janela, o governador, André Puccinelli (PMDB), brincou com a equipe do Campo Grande News: “Deixa as cobras aí de fora, pois elas são mais puras do que as daqui de dentro”. “Sábias palavras”, replicaram alguns leitores.

As araras barulhentas, porém, elegantes, garantem um show à parte, provocando surpresas e olhares de encantamento, especialmente em quem vem de fora. Estão em várias regiões da cidade, do centro aos bairros.

Bióloga e presidente do Instituto Arara Azul, Neiva Guedes afirma que, desde 2009, o número dessas aves na cidade tem aumentado. Em 2010, a equipe que faz parte do Projeto Aves Urbanas, composto por alunos de mestrado e graduação da Anhanguera-Uniderp, monitorou 2 ninhos, contra 16 em 2011 e 30 em 2012. Os dados de 2013 ainda não foram finalizados.

Araras garantem um espetáculo à parte. (Foto: Marcos Ermínio)
Araras garantem um espetáculo à parte. (Foto: Marcos Ermínio)

Apesar do aumento, o percentual de filhotes que voaram em 2012 foi bem menor que em 2013. “Caso a situação se repita, talvez não tenhamos araras povoando o céu da cidade no futuro”, explicou

Com relação às araras canindé (Ara ararauna), disse a pesquisadora, “a população aumentou bastante. “Temos mais de 200 araras circulando pela cidade. Elas se estabeleceram e ficam por aqui o ano inteiro. Já as araras vermelhas (Ara chloropterus), são visitantes ocasionais. Estão aqui na cidade em determinadas épocas do ano, quando encontram frutos específicos para sua alimentação”. Não há um estudo nesse sentido, completou, mas a estimativa é que existam pelo menos 40 aves dessa espécie na cidade.

A bióloga comenta que a cidade é bastante arborizada e as árvores frutíferas do cerrado, as de vegetação original e as plantadas, atraem uma série de animais, não só as araras, porque fornecem alimentação.

“Comparada com outras cidades, como Goiânia, Curitiba, Brasília, que são cidades com boa qualidade de vida, Campo Grande ganha, por ter mais arborização”, ressaltou.

A teoria faz sentido. Biólogo e coordenador do Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) da Capital, Elson Borges, diz que o órgão não tem um estudo pronto sobre a população de animais na cidade, mas há estimativas.

Capivara é figura fácil na cidade. Esta estava no Parque das Nações Indígenas. (Foto: João Garrigó)
Capivara é figura fácil na cidade. Esta estava no Parque das Nações Indígenas. (Foto: João Garrigó)

No Parque das Nações Indígenas, onde o Centro atua, vivem pelo menos 300 capivaras, mas o número, se somar todas as regiões, é bem maior. Quatis, só no Parque dos Poderes, deve ter pelo menos 200. Na saída de Rochedo, mais 100.

O Parque do Prosa é a casa de uma família de bugios, composta por cerca de 10 integrantes. Os saguis, aproximadamente 50, dividem o espaço com eles. Até um casal de jaguaratirica, coisa rara, já foi flagrado no local. Do resto, inclusive das aves que, nas palavras do biólogo, “estão se multiplicando, adquirindo hábitos urbanos”, não há um levantamento.

Para quem vive de pesquisar esse universo, a variedade de espécies, esse contato mais próximo com a natureza, é motivo de orgulho. Na avaliação de Neiva Guedes, uma cidade rica em biodiversidade proporciona ao ser humano maior qualidade de vida. “Conviver com exemplares da fauna, ajuda a recuperar o estresse do dia a dia, a curar de depressão e a diminuir a ansiedade”, considerou.

Veja, abaixo, uma galeria de imagens com registros dos fotógrafos João Garrigó e Marcos Ermínio.

Confira a galeria de imagens:

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