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Capital

Após 2 anos, adolescente consegue falar de foto impactante no alto de torre

Imagem percorreu redes sociais, mas não contou história da menina que teve depressão ainda na infância

Clayton Neves | 25/06/2020 08:47
Após 2 anos, adolescente consegue falar de foto impactante no alto de torre
Bombeiros durante resgate da adolescente no dia 23 de junho de 2018. (Foto: Arquivo)

Foram precisos exatos dois anos depois daquele 23 de junho para a a adolescente de 17 anos conseguir falar abertamente sobre a foto que expôs a pior fase de sua vida. Na imagem, que ilustrou reportagens e se espalhou pelas redes sociais, a menina, à época com 15 anos, aparece no alto de uma caixa d'água no Bairro Pioneiros, em mais uma das 10 vezes em que tentou tirar a própria vida.

“Eu não sentia sede nem fome. Estava no fundo do poço e ninguém conseguia me ajudar. Era apenas tristeza”, lembra.

Daquele dia ela se recorda com precisão. Na noite anterior  havia brigado com mãe. Aliada à depressão que enfrentava, a discussão se tornou gatilho para mais uma vez tentar o suicídio.

A menina conta que perto das 7 horas, quando moradores do condomínio começavam a despertar, saiu do apartamento onde mora e partiu em direção ao reservatório. Lá, escalou torre de aproximadamente 50 metros e do alto logo notou a aproximação de pessoas na tentativa de convencê-la de não ser aquela a solução para o que enfrentava.

De lá, só conseguiu sair depois de ouvir a voz da irmã, então com 5 anos, apelava por sua vida. “Quando desci de lá me senti acolhida”, conta.

Foto virou 'símbolo' da prevenção - Durante esses dois anos, as fotos daquele dia, tiradas por vizinhos e por quem passava pelo local, circularam na mídia, em conversas de WhatsApp, e até mesmo ilustraram palestras de combate e prevenção ao suicídio. No entanto, nunca contaram a história da menina que teve depressão ainda na infância, e que tentou suicídio pela primeira vez aos 12 anos.

Após 2 anos, adolescente consegue falar de foto impactante no alto de torre
Menina ainda carrega nos braços marcas da época em que se automultilava. (Foto: KísieAinoã)

Desde o início da doença, foram anos lutando contra o vazio que insistia em rodear. "Eu cheguei a tomar nove remédios por dia, por muitas vezes achava que não teria saída", lembra. Até ser vencida, a doença teve vários  e difíceis estágios, que também envolveram a família.

"Às vezes ela tinha recaídas, era internada por se cortar. Outras vezes se isolava, se trancava no banheiro. Para vencer tivemos que viver um dia de cada vez", recorda a mãe da garota, que tem 36 anos e trabalha como vendedora.

Para a mãe, amor e paciência foram as armas usadas para que ela pudesse ajudar a filha. "É preciso muita conversa, paciência e amor. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente,mas ninguém está livre disso", relata.

A melhora veio somente após dois anos de intenso acompanhamento médico e tratamento com remédios específicos. O apoio incondicional da família e o chamego com o gato “Floquinho” foram suportes essenciais na batalha.

Hoje a conversa sobre tudo o que se passou tem a  leveza de quem descobriu que, por mais difícil que seja, é possível vencer a depressão. Segundo a adolescente, de tão pouca idade, mas com tanto já vivido, a experiência com a doença ganhou significado maior. A missão de ajudar quem passa pelo mesmo problema.

“Hoje quando as pessoas falam em suicídio geralmente mostram estatística. Quero através da minha experiência mostrar o exemplo de alguém que se curou. Passar a mensagem de que por mais difícil e demorado que seja, é possível superar”, afirma.

Peça ajuda - Nem sempre é fácil tratar do tema dessa reportagem. A orientação dos especialistas é que o diálogo pode, inclusive, preservar vidas.

Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!

O horário de funcionamento das 07:00 às 23:00, inclusive sábados, domingos e feriados. Informações também pelo site (clique aqui).

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