Após 2 anos, adolescente consegue falar de foto impactante no alto de torre
Imagem percorreu redes sociais, mas não contou história da menina que teve depressão ainda na infância
Foram precisos exatos dois anos depois daquele 23 de junho para a a adolescente de 17 anos conseguir falar abertamente sobre a foto que expôs a pior fase de sua vida. Na imagem, que ilustrou reportagens e se espalhou pelas redes sociais, a menina, à época com 15 anos, aparece no alto de uma caixa d'água no Bairro Pioneiros, em mais uma das 10 vezes em que tentou tirar a própria vida.
“Eu não sentia sede nem fome. Estava no fundo do poço e ninguém conseguia me ajudar. Era apenas tristeza”, lembra.
Daquele dia ela se recorda com precisão. Na noite anterior havia brigado com mãe. Aliada à depressão que enfrentava, a discussão se tornou gatilho para mais uma vez tentar o suicídio.
A menina conta que perto das 7 horas, quando moradores do condomínio começavam a despertar, saiu do apartamento onde mora e partiu em direção ao reservatório. Lá, escalou torre de aproximadamente 50 metros e do alto logo notou a aproximação de pessoas na tentativa de convencê-la de não ser aquela a solução para o que enfrentava.
De lá, só conseguiu sair depois de ouvir a voz da irmã, então com 5 anos, apelava por sua vida. “Quando desci de lá me senti acolhida”, conta.
Foto virou 'símbolo' da prevenção - Durante esses dois anos, as fotos daquele dia, tiradas por vizinhos e por quem passava pelo local, circularam na mídia, em conversas de WhatsApp, e até mesmo ilustraram palestras de combate e prevenção ao suicídio. No entanto, nunca contaram a história da menina que teve depressão ainda na infância, e que tentou suicídio pela primeira vez aos 12 anos.
Desde o início da doença, foram anos lutando contra o vazio que insistia em rodear. "Eu cheguei a tomar nove remédios por dia, por muitas vezes achava que não teria saída", lembra. Até ser vencida, a doença teve vários e difíceis estágios, que também envolveram a família.
"Às vezes ela tinha recaídas, era internada por se cortar. Outras vezes se isolava, se trancava no banheiro. Para vencer tivemos que viver um dia de cada vez", recorda a mãe da garota, que tem 36 anos e trabalha como vendedora.
Para a mãe, amor e paciência foram as armas usadas para que ela pudesse ajudar a filha. "É preciso muita conversa, paciência e amor. A gente acha que nunca vai acontecer com a gente,mas ninguém está livre disso", relata.
A melhora veio somente após dois anos de intenso acompanhamento médico e tratamento com remédios específicos. O apoio incondicional da família e o chamego com o gato “Floquinho” foram suportes essenciais na batalha.
Hoje a conversa sobre tudo o que se passou tem a leveza de quem descobriu que, por mais difícil que seja, é possível vencer a depressão. Segundo a adolescente, de tão pouca idade, mas com tanto já vivido, a experiência com a doença ganhou significado maior. A missão de ajudar quem passa pelo mesmo problema.
“Hoje quando as pessoas falam em suicídio geralmente mostram estatística. Quero através da minha experiência mostrar o exemplo de alguém que se curou. Passar a mensagem de que por mais difícil e demorado que seja, é possível superar”, afirma.
Peça ajuda - Nem sempre é fácil tratar do tema dessa reportagem. A orientação dos especialistas é que o diálogo pode, inclusive, preservar vidas.
Em Campo Grande, o Grupo Amor Vida (GAV) presta serviço gratuito de apoio emocional a pessoas em crise através dos telefones (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 (Claro) e (67) 99644-4141 (Vivo), todos sem identificador de chamadas. Ligue sempre que precisar!
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