Comerciante contesta absolvição de Gilmar Olarte e diz ter sido vítima de golpe
Após empréstimo de R$ 350 mil e perda do valor em transferências, homem cobra Justiça e relata drama familiar
Após a absolvição do ex-prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte, em processo por estelionato, o comerciante Divino Rodrigues, de 60 anos, expressou indignação e surpresa. Ele se apresenta como vítima de um golpe cometido, segundo afirma, por Olarte e outras duas pessoas. “Queria apenas ser ouvido pela Justiça”, desabafa.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
O comerciante Divino Rodrigues, de 60 anos, contesta a absolvição do ex-prefeito de Campo Grande, Gilmar Olarte, em processo por estelionato. Rodrigues alega ter sido vítima de um golpe envolvendo um empréstimo de R$ 350 mil para a reforma de um prédio que nunca foi transferido para seu nome. Segundo o comerciante, o esquema foi arquitetado em 2019 por Olarte, seu ex-pastor, e outras duas pessoas. O dinheiro do empréstimo teria desaparecido da conta no dia seguinte ao depósito. O Ministério Público informou que vai recorrer da decisão judicial que absolveu Olarte por falta de provas.
Na decisão, o juiz da 5ª Vara Criminal, Márcio Wust, considerou que os fatos narrados por Divino não configuram crime e que não há provas suficientes para sustentar uma condenação. O comerciante, porém, discorda. Afirma que foi induzido por Olarte a tomar um empréstimo de R$ 350 mil para reformar um prédio que nunca foi transferido para seu nome. O valor, segundo ele, desapareceu da conta no dia seguinte ao depósito.
A relação entre os dois começou anos antes, quando Divino passou a frequentar a igreja em que Olarte era pastor. “Ele foi meu pastor por oito anos. Batizou minha esposa e minha filha, frequentava minha casa. Quando estava de tornozeleira, escondido da polícia, foi até minha casa cantar para minha esposa, que estava em depressão”, relembra.
Segundo o comerciante, o golpe ocorreu no fim de 2019, após ele e a esposa viajarem para São Paulo. Durante esse período, Olarte teria ligado diversas vezes. Ao retornar a ligação, ouviu que havia uma “bênção grande” esperando por ele. Ao chegar em Campo Grande, foi com a esposa a uma reunião com Olarte e outro homem, identificado como “Dr. Diego”, que propuseram um empréstimo de R$ 1 milhão e mais R$ 500 mil em dinheiro, para a compra de um prédio, imóvel que Divino já desejava adquirir.
“Ele [Olarte] me disse: ‘Você precisa comprar um imóvel’. Já sabia de tudo. Planejaram tudo direitinho”, diz. Durante a conversa, Diego mostrou a foto do prédio, afirmando que ele estava em leilão por R$ 350 mil, embora o comerciante já soubesse que o valor real era de R$ 860 mil, conforme conversa anterior com o dono do imóvel.
No entanto, Diego e Olarte afirmaram que conseguiriam o local por R$ 300 mil, já que tinham bastante influência no leilão, e Divino aceitou a proposta. Pagou R$ 4.800 de suposta taxa de leilão e afirma ter feito entregas de dinheiro da compra do local até dentro da igreja. “Armaram a casinha pra mim. Levei dinheiro até no culto”, comenta.
O empréstimo de R$ 350 mil teria sido feito para a reforma do prédio. Segundo Divino, ele nunca foi ao banco: todos os trâmites foram feitos em uma sala comercial, com o auxílio da gerente, supostamente amiga de Olarte e Diego. A conta foi aberta, o dinheiro depositado, mas no dia seguinte o valor havia sido transferido para outras contas.
“Ele me deu a vida como pastor e depois destruiu minha família”, lamenta. Divino e a esposa confrontaram a gerente do banco, que teria confirmado que se tratava de um golpe.
O casal entrou na Justiça em 2020, mas a primeira audiência só foi marcada para março de 2025, e, segundo Divino, nunca aconteceu. Ele conta que foi surpreendido pela notícia da absolvição e buscou explicações com o Ministério Público, que garantiu que o processo não terminou e que uma nova audiência, com os advogados, está marcada para esta semana.
Mesmo sem saber exatamente o teor da reunião, Divino só quer ser ouvido. “A sensação é de ser roubado duas vezes.”
A suposta fraude desencadeou, segundo ele, uma crise familiar. A esposa, abalada emocionalmente, vive sob medicação pesada e se recusa a se alimentar. A filha teme pela saúde do pai, e Divino teme represálias. “Tenho medo do que o Gilmar possa fazer.”
O comerciante diz que só queria uma resposta do ex-prefeito. “Meu desejo era olhar para ele e perguntar: ‘Gilmar, por que você me roubou?’. Enquanto o Diego mexia no computador, ele estava ajoelhado, cantando e orando, dizendo que a bênção era grande”, relembra.
A sentença do juiz destaca a ausência de provas documentais sobre a existência do dinheiro e da conta bancária vinculada a Olarte. Divino afirma o contrário: garante que os documentos existem e estão com o Ministério Público. O órgão informou que vai recorrer da decisão.
Em nota en caminhada ao Campo Grande News, o advogado Rodrigo Rocha Belini, que representa o ex-prefeito, disse que todas as acusações são "inverídicas" e foram contestadas judicialmente. A defesa destaca que o Judiciário, de forma autônoma e imparcial, considerou os fatos narrados na denúncia como improcedentes e determinou a absolvição sumária de Olarte, com base nos artigos 386, inciso III, e 397, inciso III, do Código de Processo Penal.
Ainda conforme a nota da defesa, o Ministério Público recorreu da decisão por meio de embargos de declaração, alegando obscuridades e contradições na sentença. No entanto, os embargos foram rejeitados, mantendo-se válida a decisão que absolveu sumariamente Gilmar Olarte.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.