Sob risco de falência e com dívida de R$ 20 milhões, El Kadri recorre à Justiça
Foco é conseguir suspensão de cobranças por no mínimo 60 dias para que hospital possa respirar

Sob risco de falência e com uma dívida que se aproxima dos R$ 20 milhões, o Hospital Geral El Kadri, fundado em 2004, recorreu à Justiça em busca de socorro para manter as portas abertas. A súplica principal é pela suspensão dos bloqueios bancários, determinados em sentenças, e pela liberação dos valores retidos de operadoras de planos de saúde. Uma medida cautelar foi apresentada à Vara de Falências na semana passada, mas, apesar do pedido de urgência, o material ainda não havia sido apreciado.
RESUMO
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O Hospital Geral El Kadri, em Campo Grande, enfrenta grave crise financeira com dívidas próximas a R$ 20 milhões. A instituição recorreu à Justiça solicitando a suspensão de bloqueios bancários e a liberação de valores retidos por operadoras de planos de saúde, através de uma medida cautelar apresentada à Vara de Falências. Sob nova gestão empresarial, o hospital busca recuperação após atingir seu pior momento no final de 2024. A administração atual negocia com 29 credores e solicita prazo de 60 dias para reorganização financeira, período considerado crucial para manter o funcionamento da unidade, que tem entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão bloqueados mensalmente por determinações judiciais.
Negociações com pelo menos 29 credores já estão em curso. Em outra frente, o hospital conseguiu marcar uma audiência de conciliação. Na medida cautelar, que busca antecipar os efeitos de uma recuperação extrajudicial, o foco é a suspensão de cobranças e bloqueios por no mínimo sessenta dias, período considerado vital para que a unidade tenha algum alívio financeiro.
Atualmente, o hospital está sob a gestão de um grupo empresarial que busca a recuperação das contas e a repaginação do atendimento. Mafuci Kadri, fundador da unidade, foi contatado e informou estar distante da administração, sem condições de comentar o momento atual. Ele se limitou a dizer que a nova direção tem como objetivo reerguer o estabelecimento.
Na petição apresentada à Justiça, os advogados do El Kadri afirmam que o hospital atingiu "o fundo do poço" no final de 2024, enfrentando um risco real de falência, mas que houve melhoras desde então. Segundo o documento, "ao longo dos anos de 2023 e 2024, o Hospital chegou ao fundo do poço, faturando mensalmente menos da metade de seu custo operacional". A situação só não se agravou porque a família Kadri se desfez de imóveis e alocou recursos próprios para estabilizar as finanças.
Em seguida, o hospital "procedeu à contratação de gestores hospitalares profissionais e especialistas em reestruturação empresarial para ajudar a reconduzir o Hospital ao equilíbrio financeiro, os quais iniciaram sua atuação no dia a dia da operação nos últimos meses". Com a nova gestão, a expectativa atual é que a unidade "deixará de ser deficitária – incluindo previsão de pagamento mensal de despesas financeiras e de todo o passivo exigível – até o final de 2026."
O texto protocolado também reforça a importância social do hospital para o atendimento à saúde e para a manutenção dos empregos, alertando para o "risco sistêmico de colapso irreversível do Hospital, em caso de vencimento antecipado das dívidas financeiras e ausência de pagamento das parcelas de novembro das transações tributárias firmadas junto à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional." O El Kadri, vale ressaltar, já havia renegociado dívidas federais com o Tesouro.
A defesa da unidade destaca que o plano de recuperação extrajudicial foi protocolado com a adesão de ao menos 29 credores, que detêm mais de 50% dos créditos sujeitos à recuperação. O êxito da reorganização, portanto, dependeria de uma intervenção rápida do Judiciário.
Diante do quadro, os representantes legais pleiteiam que o juiz conceda a medida cautelar para determinar a suspensão de todas as execuções e bloqueios patrimoniais pelo prazo inicial de sessenta dias, o que permitiria ao hospital "respirar" financeiramente.
A liberação do fluxo de caixa e o afastamento da ameaça de falência são cruciais, conforme a petição, para que a nova administração possa pagar os débitos essenciais e, principalmente, manter o atendimento aos pacientes.
Atualmente, de R$ 800 mil a R$ 1 milhão são bloqueados todos os meses em pagamentos determinados judicialmente, inclusive os valores recebidos dos planos de saúde. A defesa explana que "estão sendo comprometidos os valores recebidos dos planos de saúde, que são absolutamente necessários para o pagamento de despesas de máxima importância, como salários de funcionários, honorários médicos e insumos hospitalares."
Por fim, o documento assegura que o hospital continua funcionando em "pleno vapor" e que "não vai deixar de funcionar, a não ser que continuem os bloqueios dos credores, estes sim passíveis de levar o Hospital à falência". A defesa ainda indica que, após os sessenta dias de suspensão, "os credores que ainda não fecharam acordos com o hospital, poderiam, em tese, retomar normalmente suas execuções."
Explicação - Sobre como o hospital chegou nessa situação, a defesa explica que há uma crise sistêmica que "assola o setor hospitalar no país, levando muitos hospitais privados de pequeno e médio porte – com gestão familiar e capital concentrado, tais como o Hospital – à falência, recuperação judicial ou venda de seus ativos e operação para grandes conglomerados empresariais."
Ela cita que, aqui em Campo Grande (MS), não foi diferente. Nos últimos cinco anos, o Hospital Proncor e o Hospital Santa Marina foram comprados pela Rede D’Or, e o Hospital do Coração, pelo Grupo Santa, vinculado ao Banco Bradesco. Além disso, outros grandes grupos da área da saúde já planejam sua entrada na Capital, como a Hapvida.
Cita ainda a construção de hospitais próprios pelas duas maiores operadoras de saúde de Mato Grosso do Sul. “Ademais, em 2016 e 2017, a Unimed (União de Médicos) e a Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) – as duas principais operadoras de planos de saúde privados no Estado de Mato Grosso do Sul e maiores fontes de renda e pacientes para o hospital – inauguraram modernos complexos hospitalares para atendimento exclusivo de seus segurados, o que reduziu o fluxo de atendimentos privados por anos e pressionou ainda mais as margens do hospital.”
O advogado Antônio Castro, do escritório Corsino Motta Castro, de São Paulo, foi procurado e aguarda-se retorno.
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