Crânio achado reacende dor de famílias que buscam Naiara e Wellington há 17 anos
Pais relatam armadilha, celulares enterrados em casa de suspeito e quase duas décadas sem respostas
A descoberta de um crânio humano na última sexta-feira (28), em Campo Grande, reacendeu uma angústia que atravessa quase duas décadas para as famílias de Naiara Ribeiro Lucas, então com 17 anos, e Wellington Afonso Aguero, 14. No ponto de ônibus onde os dois adolescentes foram vistos pela última vez, no Nova Lima, o pai dela, Benedito Lucas, hoje com 58 anos, resumiu o que reviveu ao ver a notícia: “Pode ser, pode não ser. Mas toda ossada mexe com a gente.”
RESUMO
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O desaparecimento dos adolescentes Naiara Ribeiro Lucas, 17 anos, e Wellington Afonso Aguero, 14 anos, ocorrido em 8 de fevereiro de 2009 em Campo Grande, permanece sem solução após 17 anos. O caso voltou à tona com a descoberta de um crânio humano na última sexta-feira, reacendendo a angústia das famílias. A única pista concreta do caso foi a descoberta dos celulares dos jovens enterrados na casa de João Leonel da Silva, posteriormente preso por outros crimes. Apesar das diversas buscas e análises de ossadas encontradas ao longo dos anos, o paradeiro dos adolescentes continua sendo um dos maiores mistérios de Mato Grosso do Sul.
O impacto da possível identificação não é algo novo para ele. “Teve aquela ossada achada na fossa aqui no bairro, teve aquele cemitério clandestino lá para o Danúbio Azul, onde encontraram vários jovens… toda vez a gente pensa que pode ser. A gente queria que estivessem vivos, mas hoje já não sabe mais o que pensar”, diz. “É complicado. Toda ossada acende alguma coisa na nossa cabeça.”
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Ao lado do marido, Neusa Lucas, 57 anos, parece reviver o dia 8 de fevereiro de 2009 todas as vezes que fala sobre a filha. “A gente vive num mistério. Eu, no fundo, acho que a minha filha não está viva… mas eu preciso de um desfecho. De paz.” Ela conta que não há notícias do caso há pelo menos três anos. “Ninguém fala nada para a gente.”

A mãe de Wellington, Suely Fernanda Afonso, 51 anos, tenta completar a frase da vizinha, mas a voz falha. “É uma angústia que não termina. É pior que a morte, porque quando você enterra alguém, você sabe onde está. Até quem tem um cachorro sabe onde está. Nós não sabemos dos nossos filhos.”
As famílias concordam em um ponto: aquela madrugada foi uma armadilha. Foi a única vez em que Naiara pulou o muro para encontrar o namorado no ponto de ônibus onde conversamos. Poucas horas depois, desapareceram sem deixar vestígios.
O que veio depois só ampliou o mistério. Os celulares que desapareceram com os dois passaram a ligar de madrugada, a receber mensagens, a acionar linhas da própria família. “O aparelho recebia tudo o que a gente mandava”, lembra Suely. “A polícia pedia para escrever dizendo que estava tudo bem, que eles podiam voltar. Mas ninguém respondia.”
Fio de esperança - A investigação ganharia um ponto decisivo quando, em diligência, a polícia encontrou os celulares de Naiara e Wellington enterrados no quintal da casa de João Leonel da Silva, preso em 2016 por latrocínio contra outro casal. “Por que ele enterrou os celulares? Por quê?”, pergunta Suely. “O desfecho está ali. Eu penso nisso todos os dias.”
Ela chegou a ver o suspeito de assassinar o filho pessoalmente. “Ele é frio. Muito frio. Eu queria falar com ele. Uma mãe chorando, pedindo… às vezes isso faz alguém falar. Mas nunca deixaram. Ele não quis conversar comigo.”
Entre ossadas analisadas, DNA coletado e buscas que nunca apontaram um caminho concreto, o tempo apenas empurrou o caso para um silêncio quase absoluto. Nenhum vestígio, nenhum corpo, nenhuma confirmação. Só a espera.

Nas casas das famílias, nada foi jogado fora. Roupas, documentos, objetos, tudo permanece guardado. Para eles, o caso nunca será arquivado. “Meu neto às vezes faz umas coisas que parecem com o Wellington”, diz Suely. “Aí aperta o coração.” Sobre a filha, Neusa resume: “A Naiara era trabalhadora, cheia de sonhos. Ela nunca foi esquecida.”
Antes de deixar o ponto de ônibus, todas repetiram o mesmo pedido, que não mudou em 17 anos: “Se alguém sabe de algo, que fale. Nem que seja anônimo. Só diga onde está. Para enterrar. Para ter paz.”
Relembre o caso - O desaparecimento de Naiara Ribeiro Lucas, 17 anos, e Wellington Afonso Aguero, 14, ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 2009, no Bairro Nova Lima. Eles foram vistos pela última vez no ponto de ônibus onde costumavam se encontrar, sem levar objetos pessoais que indicassem fuga. Depois disso, nenhum vestígio concreto sobre o paradeiro dos dois foi encontrado.

Nos dias seguintes, os celulares dos adolescentes registraram chamadas feitas durante a madrugada e recebimento de mensagens enviadas pelas famílias. Parte das interações foi identificada como trote, mas outras ligações nunca foram esclarecidas. A investigação considerou desde o início a possibilidade de crime.
As buscas se estenderam por fossas, terrenos baldios e áreas de mata da região, até que uma diligência levou a polícia à casa de João Leonel da Silva, onde os celulares dos dois foram encontrados enterrados. Apesar do achado e do histórico do suspeito, que anos depois seria preso por latrocínio contra outro casal, a ausência de corpos e de elementos que indicassem a dinâmica do desaparecimento impediu avanço para responsabilização formal naquele momento. O inquérito acabou arquivado por falta de materialidade.
Ao longo dos 17 anos seguintes, diferentes ossadas localizadas em Campo Grande foram analisadas, sem vínculo com o caso. O desaparecimento de Naiara e Wellington permanece sem solução e é considerado um dos mistérios mais emblemáticos de Mato Grosso do Sul. O Campo Grande News tentou contato com a Polícia Civil para saber se há algum procedimento em andamento ou possibilidade de reabertura da investigação, mas não houve retorno.
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