Criançada fica dentro de casa e disciplina é garantida pelas mulheres
Nas ruas do maior bairro de Campo Grande, brincar é só depois da aula, mulheres que ensinam e até as avós aprendem tecnologia

A manhã que começa fresquinha e muito rapidamente dá lugar ao sol a pino não tem muito colorido das crianças nas ruas do bairro Aero Rancho, o maior de Campo Grande, nesta quinta-feira (30).
As poucas que foram vistas estavam com a família aproveitando uma folga na véspera de feriado, mas a regra da disciplina é unânime: sair pra brincar é só depois da aula. Para garantir respeito às aulas em casa, até as avós se viram para aprender a lidar com a tecnologia e garantir que as crianças consigam acompanhar as aulas online.
Tudo indica, conforme disseram as famílias, que ajudar as crianças fica para as mães, as avós e até as irmãs mais velhas. Como as aulas não são ao vivo, mas sim gravadas, o desafio é ainda maior para elas organizarem horários e garantir a rotina.
Os pais no máximo dão orientação reforçada para garantir que obedeçam. É que comentou o borracheiro Ailton Dalto, 26. Conforme explicou, quem acompanha as aulas e tarefas do filho de 7 anos é a mãe da criança.
“Quem ajuda a fazer tarefas é a mãe, ele estuda de manhã e assiste aula no celular”, disse, ao explicar que a família não tem computador. “Eu falo para ele fazer as tarefas e só depois brincar”, comentou, ao citar que o filho solta pipa na rua e brinca com carrinhos.
Na família da estudante Françoise Rodrigues, 23, quem ajuda a irmã mais nova é ela mesma, com auxílio da outra irmã de 22. A caçula, de 7, também assiste às aulas no celular.
“Temos que pegar mais no pé. Revisamos e vemos se precisa de mais ajuda”, comentou ela. A professora manda os vídeos em um grupo de whatsapp, junto com as tarefas da semana. “Não temos dificuldade, mas ela só quer andar de bicicleta”, conta.
A avó e mãe Lucimari dos Santos Alves, 43, assistia a filha e o neto brincarem em frente da casa onde vive com eles nesta manhã. As crianças soltavam pipa e o neto ainda frequenta o pré. Lucimari estuda enfermagem e sequer sabia mexer na plataforma online quando as aulas da faculdade deixaram de ser presenciais.
Agora, além de aprender o próprio estudo, tem também de aprender a lidar com a tecnologia e o conteúdo escolar para garantir o ensino da filha. “Estou aprendendo a ter paciência. Estou aprendendo a mexer e estou tendo que aprender o conteúdo para poder passar”, conta ela.
Brincar é só depois de terminar as tarefas do dia. Aí sim, tinta guache, desenhar e soltar pipa estão liberados.