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‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas

Acervo de 140 mil itens recolhidos no Jardim Noroeste conta com cabelo, brinquedo, cerveja, sela de cavalo, pipa e até bibelô de presépio no aguardo de uma destinação final da Justiça

Rafael Ribeiro | 12/03/2017 10:09
‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
Caixas e pilhas: os objetos apreendidos no galpão do TJ chamam a atenção logo na entrada (Fotos: Marcos Ermínio)
‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
Andréia Batista a responsável pelo galpão, há 15 cadastrando o crime sul-mato-grossense
‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
Funcionário do TJ descarregavam um lote de bicicletas recolhidas nas delegacias de Campo Grande

A entrada não tem indicações, mas a presença de dois policiais militares na portaria dá uma ideia do que encontrar no galpão de 2 mil metros quadrados. Isolado quase que na zona rural de Campo Grande, no Jardim Noroeste, o ‘depósito do crime’ de Mato Grosso do Sul passa despercebido entre as garagens vizinhas de ônibus e caminhão. Mas guarda em seu interior mais de 150 mil objetos apreendidos judicialmente que de um jeito ou outro foram utilizados ou são peças fundamentais de crimes cometidos no Estado.

O espaço é amplo, bem iluminado e curiosamente bem arrumado, seja nas 670 caixas empilhadas logo na entrada do local, ou nos 22 armários do tipo arquivo, com corrimão giratório, que ocupam a área central do galpão. Mas a visão mais característica é a dos inúmeros montinhos que se formam ao longo do espaço.

E são esses montinhos que reservam as maiores surpresas. Nem só de facas e armas de fogo os crimes são cometidos. Objetos inusitados como pipa, violão, cela de cavalo e até bibelôs de um presépio se destacam em meio aos usuais. Só de celulares são 10 mil aparelhos parados. Além de 50 mil DVDs falsificados, por exemplo.


Mas qual a origem de tudo isso? Todos os objetos são entiquetados com códigos e dados. E somente Andréia Batista, 41 anos, 15 deles como funcionária do Poder Judiciária, pode responder.

É ela a responsável pela organização do local. Com a experiência adquirida há algum tempo, em alguns itens sequer precisa olhar a etiqueta para contar a origem. “Esse foi um crime de Jaraguari (a 44km de Campo Grande), em 2013. Bandidos invadiram um sítio e mataram o dono”, disse, apontando para a inusitada sela de cavalo que se destaca no cenário.

Na verdade, o latrocínio (roubo seguido de morte) do fazendeiro trouxe ao galpão toda uma coleção de simpáticos bibelôs que formavam o presépio da casa. “Era Natal”, justificou. E assim que funciona, a polícia achou bem apreender tudo para colher provas sobre o crime, o juiz aceitou o pedido, ela cadastra, estoca e espera a decisão final sobre o item. Nem sempre é rápido.


É o caso do violão. A etiqueta aponta a data da apreensão: junho de 2008, pela Derf (Delegacia Especializada em Roubos e Furtos). Foi objeto considerado crucial na prisão de um homem acusado de roubar um estúdio musical. E até hoje tem no galpão sua moradia, com a honra de ser a mais antiga peça atualmente ali depositada.


“Mas nem sempre foi assim”, apontou a funcionária. “Mas com o tempo acabamos criando uma rotina eficiente de trabalho.”


Prática – Perfeccionista. Essa é a qualidade que Andréia julga ser essencial para a função. A cada nova apreensão que chega, a rotina é a mesma. São anotadas todas as características possíveis e as informações da apreensão e do crime relacionado.


Não é uma tarefa simples. Uma faca, por exemplo, é separada por mais de cinco detalhes, como o tamanho da lâmina, o formato do serrilhado, o estilo do cabo e a fabricante.


É assim com tudo. Das mais de 120 televisões ali estocadas até os 15 cabos de enxadas, todos completamente diferentes entre si e usados em algum tipo de crime.

‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
O violão furtado de um estúdio: hóspede mais antigo do galpão, permanece em estado de novo e sem dono
‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
DVDs piratas já separados para destruição: reutilização de produtos ilícitos é proibida e destruição é instantânea
‘Depósito do crime’ de MS tem 10 mil celulares e muitas peças inusitadas
Testemunha de um latrocínio, a sela de cavalo é moradora do galpão desde 2008

“Fazemos uma espécie de tutela”, diz Andréia. “Não podemos perder uma agulha aqui dentro. Muitos desses objetos pode não ter nenhum valor material para mim ou você. Mas têm para alguém específico. Temos que garantir que caso ele consiga reaver o bem, esse esteja na melhor das condições para devolução.”

O cuidado é visível até pelo simpático pipa. Apreendido em 2013 em operação da Polícia Civil que fechou local de venda de cerol, produto proibido. Mesmo frágil, segue embalado e intacto, ao lado de diversas latas de cerveja de um bar lacrado no mesmo ano pela Polícia Militar.

Nem tudo é permitido ser visto no ‘depósito do crime’. A parte de dinheiro e armas de fogos, por exemplo, é mantida em sigilo por questões de segurança. No mesmo local estão até bens ‘biológicos’ apreendidos, como pedaços de cabelo e perucas. “Posso só dizer que manusear um revólver é como segurar uma caneta hoje em dia para mim”, disse a funcionária, enquanto mostra o pátio externo.

No dia da visita do Campo Grande News, por exemplo, um caminhão descarregava uma leva de bicicletas apreendidas. Agora elas são cerca de 300 no total, junto de 400 motos e 200 carros.

Destinação – Cabe aos desembargadores chefes do Tribunal de Justiça decidir qual o destino final dos bens apreendidos. São três opções: leilão judicial, para itens que a Justiça considera ter algum valor, destruição, para ilícitos ou produtos de repasse probido, como bebias alcóolicas, remédios e inflamáveis, e até doação, esse último explicando a ausência, por exemplo, de brinquedos ou roupas, quase sempre repassados a instituições de caridades.

Os leilões são o tipo de destinação mais conhecido da população. O último deles aconteceu em 14 de dezembro e 5 mil objetos foram vendidos a interessados. Neste pregão, um aparelho de som da última geração, cujo modelo usado é vendido por até R$ 4 mil na internet, foi arrematado por R$ 450.

Por enquanto, os leilões judiciais estavam sem uma periodicidade certa para acontecerem. A idéia é que com a posse do novo desembargador do TJ, Divoncir Schreiner Maran, em fevereiro, eles possam acontecer ao menos mensalmente.


Andreia perdeu a conta de quantos telefonemas ou visitas recebeu de pessoas querendo reaver seus bens. Mas o processo não é tão simples, o que explica a manutenção do número alto de itens no depósito.


Além da solicitação a um juiz do pedido, processo burocrático já em seu início, ainda é necessária a comprovação da posse do objeto. Ou seja, nada de pegar celular apreendido sem nota fiscal. Ou bens supérfluos, como roupas e afins. O processo é lento.

“Acredito que isso tudo é muito sério, uma parte fundamental do processo, pois é aqui que estão objetos cruciais para a apuração dos crimes. Por isso não se pode permitir um acesso fácil a eles. É justo”, opinou Andréia, com a prancheta na mão já catalogando as bicicletas descarregadas instantes antes.

VEJA ALGUNS DOS OBJETOS INUSITADOS DO DEPÓSITO DO CRIME:

Confira a galeria de imagens:

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