Em sonhos durante intubação, Luciano ouvia que a hora dele não havia chegado
Sequelas da covid e da internação ainda persistem, apesar da vida nada sedentária antes da doença
Com a música instrumental Tema da Vitória, eternizada nas transmissões de Fórmula 1 e mais conhecida como “a música do Ayrton Senna”, Luciano de Menezes Dias, 46 anos, foi recebido em casa no último dia 5 de abril, 26 dias depois de ser intubado por conta de complicações da covid-19.
Num ritmo de vida que não era nada sedentário e com uma saúde, até então, de ferro, Luciano foi surpreendido pela covid-19 no começo de março, logo depois da esposa ter passado pelos sintomas, mas sem agravamento. Ele contou que viajaram para o Rio de Janeiro (RJ) em fevereiro e um dia após voltarem, a esposa começou a apresentar sintomas.
Nele, cansaço, moleza e falta de ar eram os sinais de que não estava bem. Duas idas ao médico e retorno para casa com medicamentos para tomar. Mas no dia 10 de março, bastante debilitado, foi chegar ao hospital e em questão de horas, ser intubado. “Eles tentaram manter no oxigênio, mas não melhorei. A saturação continuava baixa”, contou.
Para ele, precisar ser intubado por causa da doença foi algo que nunca passou pela cabeça. “Eu praticava corrida quase todos os dias, pedalava bastante. Eu era muito saudável antes da covid. Não era sedentário, não fumo e já fazia 5 meses que não bebia”, relatou, tentando mostrar a gravidade da doença.
“Jamais achei que comigo ia agravar. Sabia que podia pegar, que ninguém está livre, mas eu tinha esperança que ia ser leve. Quando minha mulher estava mal, com sintomas fortes, eu estava bem. Achava que pela vida regrada que eu levava, não ia ter nada demais”.
No entanto, veio e intubação e apesar do medo, ele encarou a situação sabendo que seria o melhor diante do alto comprometimento do pulmão com a infecção. “Eu tenho muito que agradecer a Deus, à minha família, amigos e muitas pessoas que eu não conheço, mas que oraram e torceram pela minha recuperação”, destacou.
Visões – foram 13 dias intubado, respirando por aparelhos. Nesse interim, tentou-se a extubação, mas ele não resistiu e voltou ao tubo. “A traqueostomia só não veio por questão de horas. Acordei um dia antes”, comemorou.
Mas foi durante o período desacordado que ele teve sonhos marcantes, com familiares falecidos avisando que a hora dele não tinha chegado.
“Tive visões com familiares que já faleceram e até encontrei com eles, mas no sonhos eles mandavam eu voltar”, disse, lembrando que o mais marcante foi com um tio, morto em março do ano passado. “Me lembro bem que ele que falava forte pra voltar, que não era minha hora. Foi marcante”, ressaltou.
Hoje, recuperado, as sequelas persistem, sejam da covid ou dos dias acamado. “Continuo com os remédios anticoagulantes e para o pulmão, vitaminas”. Fisioterapia também faz parte do dia a dia, já que Luciano perdeu parte do movimento do pé direito. “Ando ou na cadeira de rodas ou no andador”, contou.
Ele também apresenta um quadro de “adormecimento” da parte superior da cabeça e ainda, perdeu a audição do ouvido direito. “Ainda estamos investigando se isso é decorrente da covid, dos remédios da intubação”, diz, ressaltando que está buscando especialistas para entender as sequelas.
Para ele, a lição que fica é se cuidar, já que as limitações impostas o impedem de ter a vida ativa que levava. “Eu poderia ter evitado viajar, ter cancelado. Jamais achei que seria contaminado. O que peço, é que as pessoas tomem cuidado, porque ninguém está livre de pegar e agravar”.