Encalhados: imóveis vazios se multiplicam no Centro, sem inquilinos interessados
Mesmo reduzindo aluguel, proprietários estão com dificuldades para locar salas comerciais
Basta uma volta pelo Centro de Campo Grande para reparar que os imóveis vazios são inúmeros. O que não faltam são salões comerciais com placas de "aluga-se" encalhadas nas portas de aço. A retirada dos estacionamentos, mudança de comportamento do consumidor e até advento dos bancos virtuais são fatores citados como os "culpados" pela "morte do Centro".
O administrador Adailson Ferreira, 45 anos, é experiente no setor de imóveis. Ele administra 16 apartamentos, 4 casas e 3 prédios comerciais na 14 de Julho, sendo que um destes salões está desocupado há dois meses.
O local tem 252 metros quadrados e possui gesso, cerâmica, mezanino e banheiro adaptado para cadeirante. Ele explica que já reduziu o valor para tentar locar o imóvel e recebeu mais de três propostas, mas todas muito abaixo do valor de mercado.
"Por causa da obra da 14 de Julho, ali já quebrou, não entrava uma alma viva. Depois das obras, veio a pandemia. As pessoas procuram, eu peço uma contraproposta, mas não dão retorno. Muitos procuram, mas dizem que vão aguardar para ver se a situação econômica melhora. Os que voltam, oferecem muito abaixo do valor pedido, aí não dá para fechar, porque essa revitalização aumentou o IPTU", explicou Ferreira.
O cabeleireiro Leonardo Escobar Rodrigues, de 63 anos, administra um imóvel que está na família desde os anos 60. O salão é um entre os oito que estão para alugar na Galeria Dona Neta, na Avenida Afonso Pena. Ele já reduziu pela metade o valor cobrado e mesmo assim não conquistou inquilino.
"Nunca tive dificuldade assim, alugava bem rápido, já aluguei até para banco. Foi tudo por causa desse calçadão (14 de Julho), não tem estacionamento mais. Acharam que o calçadão ia ser o 'bambambã', mas foi nada, isso é uma obra troglodita", reclamou.
Valores - O preço do aluguel varia no Centro da Capital, o metro quadrado em uma região considerada mais bem localizada pode chegar a R$ 4 mil por metro quadrado.
Presidente da CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila relata preocupação com o que já foi a região mais cobiçada entre os comerciantes da cidade. "Essa questão é mais aprofundada. Covid, obras, comportamento do consumidor com a compra nos bairros, são diversos fatores que influenciam. Existe um fenômeno que acontece agora no mundo, que é a necessidade de resolver as coisas com agilidade, 15 minutos", explica.
O isolamento social, causado pela pandemia, mudou o padrão de consumo da população. Além disso, as agências bancárias que movimentavam o Centro investiram em soluções digitais, tirando as pessoas das ruas.
"Sem falar dos preços dos estabelecimentos, onde o metro quadrado é muito alto. Nos bairros, dá para achar imóvel por R$ 400 o metro quadrado, e novo. Em termos de varejo, as lojas não precisam mais ser gigantescas, a vitrine pode ser virtual", apontou Adelaido.
Ele afirma que a região sempre foi disputada e que nunca antes foi tão vazia. "A gente tem provocado discussões e treinamentos para elevar o nível de consciência do consumidor, principalmente para essas empresas esses varejistas. Porque não é só ter Facebook e Instagram, precisa conversar com o cliente, dar resposta quando pergunta. Quem não é ponto com, é ponto fora", completou.