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Capital

Enquanto aluno diz que destruiu obra em protesto, UFMS pede calma

Professor reforça que o caso pede sensibilidade, mas faz alerta sobre a intolerância religiosa

Izabela Sanchez | 26/09/2018 17:38
Obra alvo de depredação do aluno (Izabela Sanchez)
Obra alvo de depredação do aluno (Izabela Sanchez)

Sofrimento psíquico e intolerância. São duas perspectivas, para o coordenador dos cursos de artes visuais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Paulo César Duarte Paes, que devem ser observadas sobre o caso do aluno que depredou uma obra de arte exposta durante evento cultural da Universidade. O episódio provocou uma onda de boatos na instituição e ainda repercute, com alunos criticando e outros apoiando o colega. O jovem, cujo nome será preservado, diz em uma postagem na internet, diz que quis apenas "se expressar" e negou que seja "terrorista", como chegou a ser afirmado em meio aos boatos.

A obra que ele destruiu faria alusão aos papeis de gênero, e para o professor é preciso cuidado ao tratar do caso. A UFMS chegou a reforçar a segurança no corredor central, onde obras de arte estavam expostas. “A gente tem que ter muita sensibilidade porque a gente pode prejudicar, por outro lado temos que ver o discurso que ele representa”, comentou. Paulo explica que o aluno sempre apresentou perfil isolado e costumava se relacionar mais com amigos virtuais. Por outro lado, comenta, os ataques à obra de arte e uma intervenção no banheiro, contra o abordo e o feminismo, mostram a face da intolerância religiosa.

Além do posicionamento religioso, contou o professor, o aluno teria ameaçado professores, o que contribuiu para o clima de insegurança. Professores que foram alvo de ameaças procuraram a Polícia Federal e a Polícia Civil para registrar a ocorrência.

“Ele teve conflito com vários professores. Chegou num ponto onde ele se afastou da Universidade, ele só ia durante a noite, ficava andando sozinho, ficou numa solidão. Nesse meio tempo ele fez ameaças a professores e aí pró-reitoria de assistência agiu de uma forma bastante pronta e conseguiram, chamaram o pai, o pai veio, foi ontem, se reuniram com o pai e com o capelão”.

“É um cuidado com ele, nós vivemos um momento de muita violência, de muita violência psíquica, aumento do suicídio. Nós que trabalhamos com muita gente, temos que ver quem está numa situação de maior sofrimento, nós temos que ajudar todos. Do ponto de vista do grupo que ele se relaciona é um processo de intolerância, aí os alunos têm uma perspectiva de liberdade, de gênero, que o afasta”, esclareceu.

Brinquedos destruídos faziam alusão aos papeis de gênero (Izabela Sanchez)
Brinquedos destruídos faziam alusão aos papeis de gênero (Izabela Sanchez)

No momento, o aluno está com a família no interior do Estado, depois de ter sido buscado pelo pai. Nas redes sociais, ele comentou o caso.

Afirmou “não ser terrorista” e declarou que “colocar vidas em perigo é algo que abomina”. Ele afirma que o protesto no banheiro, que envolveu uma camisa com tinta vermelha e pedaços de frango, foram uma alusão ao aborto.

“Gostem ou não eu só quis me expressar. Eu não mato inocentes com o aborto. Não sou neonazista, sou católico romano fiel ao ensinamento da igreja... Só mataria alguém em legítima defesa, se me perseguissem pra matar, foi essa razão porque enviei uma mensagem a um professor abusivo, invasivo e manipulador”, escreveu.

O jovem ainda disse “não ser obrigado a aceitar o narcisismo feminista e não ser obrigado a ser esquerdista”.

"Tudo certo" - A UFMS afirma que todas as atividades de ensino, pesquisa e extensão e administrativas têm sido realizadas normalmente, “em um ambiente monitorado e com segurança para a comunidade acadêmica”.

A Universidade declarou que o acadêmico está sob cuidados médicos, com acompanhamento da família, e a apuração dos fatos está sob responsabilidade da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação.

“A UFMS lamenta profundamente que o caso isolado tenha sido utilizado como matéria-prima para boatos infundados, que geraram insegurança na comunidade e na sociedade. A Universidade reitera seu compromisso e zelo por um ambiente acadêmico plural, amplo e digno, respeitando as diferenças e formas de expressão, em busca de um ambiente de paz", comentou.

A Polícia Federal afirma ter sido procurada por funcionários da UFMS, mas não confirmou a abertura de inquérito. “Caso se constate a ocorrência de fato nestes moldes, o mesmo será objeto da devida apuração”, declarou, em nota.

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