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Capital

Entre barracos de fachada e realidade, sonho é ver promessas cumpridas

Entre muitos que não tem opção, 'falsos barracos' se proliferam em favela

Adriano Fernandes | 22/11/2016 07:15
Quem anda entre os barracos da favela se depara com barracos fechados e poucos moradores. (Foto: Adriano Fernandes)
Quem anda entre os barracos da favela se depara com barracos fechados e poucos moradores. (Foto: Adriano Fernandes)

A estimativa, segundo os próprios moradores da favela “Morro do Mandela” é de que existem cerca de 400 barracos no bairro Izabel Garden, região norte de Campo Grande. Porém, boa parte deles estão vazios ou são ocupados por quem nem sequer mora na favela, mas construiu na expectativa de ganhar inscrições para moradia popular.

Mas se por uma lado a área invadida atraiu oportunistas, quem esta lá e realmente precisa, tem esperança de que durante a nova gestão municipal a situação seja resolvida. Eles sonham em ser contemplados com uma casa sorteadas em programas habitacionais.

Fábio Alves, de 29 anos, mora na favela com a esposa e os seis filhos, e conta que nos barracos vazios tem até morador que é “visita” uma vez por semana. “Tem gente que construiu e aparece ali só aos finais de semana, para ver se os barracos ainda estão de pé. É gente que na verdade tem onde morar e não precisa esta aqui”, se queixa. 

Vivendo do dinheiro e dos alimentos que consegue fazendo “bicos” na Ceasa/MS (Central de Abastecimento de MS), o rapaz conta que durante o período eleitoral vários candidatos visitaram a favela, inclusive os que concorriam ao cargo de prefeito.

Depois das promessas, resta a expectativa. “Vamos ver se a partir de janeiro muda alguma coisa, porque antes eles vieram e prometeram que iam batalhar por nós, ver a nossa situação e nos tirar daqui o mais rápido possível. Mas por enquanto a gente se vira como pode”, conta.

Barraco vazio e com cadeado na porta estava sem morador. (Foto: Adriano Fernandes)
Barraco vazio e com cadeado na porta estava sem morador. (Foto: Adriano Fernandes)
O barraco 363 tem até calçada e cercamento próprio, mas os moradores não estavam no local. (Foto: Adriano Fernandes)
O barraco 363 tem até calçada e cercamento próprio, mas os moradores não estavam no local. (Foto: Adriano Fernandes)

Fábrio está com a filha de sete anos internada no Hospital Regional devido a uma infecção na perna, originada por uma bactéria. Durante o dia ele reveza com a mulher o cuidado das outras filhas de 3, 6, 11, 13 e 16 anos.

O improviso rendeu energia elétrica e água para quem mora na favela. Por cada um dos barracos numerados, uma mangueira fina distribui a água que é levada a cada moradia.

Cada morador também fica responsável por ligar o fio principal de energia ao seu barraco. “Mas a voltagem não dá nem para ligar a geladeira”, acrescenta a desempregada Maria de Lurdes, de 45 anos.

Na favela, quem chega com uma câmera na mão vira atração da criançada. (Foto: Adriano Fernandes)
Na favela, quem chega com uma câmera na mão vira atração da criançada. (Foto: Adriano Fernandes)

Para a favela ela, a mãe, o pai que é deficiente visual e a filha de 4 anos, se mudaram fugindo do aluguel. “A gente vai se ajudando porque a situação aqui é difícil. Quando chove a água entra para dentro, molha tudo, sem falar do risco que é viver aqui. Tem crianças que foram hospitalizadas por causa da água contaminada e até por picada de escorpião”, comenta Maria de Lurdes.

Ela ainda conta que os agentes da Emha (Agência Municipal de Habitação) estiveram no local só durante os primeiros dias da invasão, mas nunca mais retornaram. No entanto, ela conta que foi frequente a visita de candidatos ao local, durante o período eleitoral.

Tanto que em alguns barracos é fácil achar os adesivos de alguns dos nomes que disputavam a eleição. “Eles vieram, doaram lonas e fizeram um monte de promessas e depois sumiram”, afirma Valquiria da Silva Ortiz, de 26 anos.

Com o marido e a pequena Lindalva de 1 ano e sete meses, ela mora em um barraco onde eles construíram até um banheiro. Do lado de fora um buraco de aproximadamente um metro e meio vai servir de fossa.

Logo na entrada, também está o fogãozinho de metal com dois compartimentos onde é feito o almoço. Solução para quem improvisa uma moradia digna, na esperança de que um dia o sonho da casa própria vire realidade.

“A gente já 'puxou' nossa água, tem luz aqui e assim a gente vai vivendo, mas é complicado. Sempre falta leite, fralda e claro um lugar digno para morar. Tem gente aqui que precisa de um teto. A maioria que esta aqui precisa de um lugar para morar”, conclui.

Estimasse que hajam no local 400 barracos, segundo os moradores. Mas durante a visita da reportagem foram poucos os moradores que estavam em suas moradias. (Foto: Adriano Fernandes)
Estimasse que hajam no local 400 barracos, segundo os moradores. Mas durante a visita da reportagem foram poucos os moradores que estavam em suas moradias. (Foto: Adriano Fernandes)
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