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Famílias de favela viram renda e doações caírem com reclusão imposta pela covid

“Minhas filhas pedem as coisas e não têm”, diz mãe, que lidera comunidade com 40 moradias no Noroeste

Mariana Rodrigues | 02/04/2021 09:00
No fogão de Hellen Bueno de Oliveira, 39 anos, haviam apenas duas panelas com um pouco de arroz e de feijão. (Foto: Marcos Maluf)
No fogão de Hellen Bueno de Oliveira, 39 anos, haviam apenas duas panelas com um pouco de arroz e de feijão. (Foto: Marcos Maluf)

Na Rua Marechal Mallet, no Jardim Noroeste, em Campo Grande, os efeitos da pandemia chegaram em forma de fome, da falta de emprego e incertezas. O medo ali não é apenas o de contrair o vírus, a falta de leitos nos hospitais, mas também o de ter ou não os ingredientes para a próxima refeição.

A reportagem foi até a casa de Hellen Bueno de Oliveira, 39 anos, catadora de reciclagem e fundadora da Comunidade Vitória, como o nome de sua filha mais velha. Acostumada a arrecadar doações para ajudar as 40 famílias que fazem parte da "vizinhança", hoje ela se vê em desespero. Sem emprego, com queda nas doações que antes eram feitas todos os meses, a geladeira está vazia e todos os dias, as filhas pedem alimentos que não tem.

Ao chegarmos em sua casa, por volta das 7h30, encontramos uma mulher sorridente, apesar das dificuldades, com duas filhas de 3 e 7 anos, morando em um barraco de dois cômodos, chão batido e que quando vem a chuva molha tudo.

As crianças pediam algo para comer, mas como Hellen ressaltou, não havia o que dar. “Só tem trigo, vou passar na água e fritar”, disse ela ao relatar que faria essa espécie de bolinho para dar para as meninas. Ela mora com as filhas e o marido, de 45 anos, que trabalha carpindo quintais, mas atualmente não está conseguindo emprego por conta da pandemia, além de estar doente.

Hellen sobrevive com os R$ 170 de benefício do Governo Federal. Na semana que passou, R$ 100 foram destinados para a compra do gás e com o que sobrou, a famíli conseguiu levar para casa arroz, feijão e pelanca de galinha, para a "mistura".

No fogão, apenas duas panelas, uma de arroz e outra de feijão, a janta do dia anterior e seria o almoço do seguinte. Na geladeira, só água para beber.

Maria de Fatima da Silva, 65 anos, é diarista e está sem emprego desde o ano passado, quando começou a pandemia. (Foto: Marcos Maluf)
Maria de Fatima da Silva, 65 anos, é diarista e está sem emprego desde o ano passado, quando começou a pandemia. (Foto: Marcos Maluf)

Os efeitos da pandemia refletem na comunidade de forma diferente, a maioria é trabalhador informal ou prestador de serviços domésticos. Com o aumento do contágio da covid-19 e quem tem teto e salário fixo mais recluso, essas famílias perderam as fontes de renda. Além disso, as doações que eram feitas todos os meses para a comunidade, hoje, se resumem a um sopão e uma cesta básica por mês.

“Antes vinham de 3 a 4 cestas básicas. De dois meses para cá, começaram a cair as doações. Esse mês foi apertado, minhas filhas pedem as coisas e não têm. Como faz? É uma situação de miséria e abandono”, lamenta Hellen.

A pequena Sofia busca o que comer dentro da galedeira vazia. (Foto: Marcos Maluf)
A pequena Sofia busca o que comer dentro da galedeira vazia. (Foto: Marcos Maluf)

Quem também ficou sem trabalho é Maria de Fátima da Silva, 65 anos, diarista, que cria a neta, de 9 anos. “Quando é adulto a gente se vira, mas quando tem criança não dá”. Com os R$ 800 da aposentadoria, que ela ganha por mês, paga água, luz, aluguel e compra alimentos, mas o dinheiro quase não dá. “O que se faz com R$ 800?”, questiona.

A Comunidade Vitória fica no Jardim Noroeste, na região leste de Campo Grande. Quem quiser ajudar pode entrar em contato pelo telefone de Hellen (67) 99172-1295.

Hellen e as filhas Sofia, 3 anos e Vitória, 7 anos, esperam em frente ao barraco onde moram ajuda para ter o que comer. (Foto: Marcos Maluf)
Hellen e as filhas Sofia, 3 anos e Vitória, 7 anos, esperam em frente ao barraco onde moram ajuda para ter o que comer. (Foto: Marcos Maluf)


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