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Capital

Frieza dos boletins sobre estado de saúde é angústia extra, dizem médicos

Com chegada da covid, visitas foram suspensas e familiares só ficam sabendo da condição do paciente internado através de boletim

Lucia Morel | 06/01/2021 16:21
Frieza dos boletins sobre estado de saúde é angústia extra, dizem médicos
A frieza, já presente em leitos de UTI (foto), é ampliada com necessidade de distanciamento dos boletins e suspensão de visitas. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

A pandemia do novo coronavírus transformou as relações sociais, a forma como nos comunicamos e aumentou a distância entre o serviço médico e os familiares de quem está internado em UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Com visitas suspensas nos hospitais devido o alto risco de contaminação, os boletins diários – escritos ou falados, dependendo do local – são a forma usada para passar informações do estado de saúde dos pacientes aos parentes e o relato nem sempre é compreendido.

O Campo Grande News fez recentemente, matéria mostrando como os familiares agem e reagem diante do recebimento diário desses boletins. Agora, é a vez da saber como quem atua na linha de frente lida com a mudança provocada pela pandemia.

“Esse cenário não é ideal. Antes da covid, a gente recebia os familiares na UTI e havia visita três vezes ao dia. O boletim era passado para os familiares, pessoalmente. Mas devido as restrições, o distanciamento, a necessidade de proteger os familiares e as equipes tivemos e achar outro modo de comunicar”, comenta a médica intensivista Ana Alvarenga, que atua na Cassems e no Hospital Universitário, em Campo Grande.

Para ela, a grande dificuldade é transmitir a informação de forma clara e entendível, já que termos técnicos devem ser evitados para melhor compreensão das famílias e mesmo assim, dúvidas surgem, porque “eu acho que informei o que era importante pra eles saberem, mas nem sempre é assim”.

Referência no atendimento a pacientes com covid-19 na Capital, o Hospital Regional recebe pelo menos mil ligações por mês, via assistência social, de parentes querendo tirar dúvidas relacionadas aos boletins médicos, encaminhados uma vez ao dia, às 16 horas.

Diretor técnico do estabelecimento, o médico Paulo Eduardo Limberger explica que as dúvidas são frequentes e por isso, a unidade iniciou processo de agendamento para atender os parentes que querem mais informações, fora as que estão presentes no boletim diário.

“Infelizmente, nesse momento, não tem outra forma de fazer isso. Para não termos parentes indo e vindo, correndo risco, é uma medida que temos que usar, mas sabemos que não é a melhor. Até porque uma coisa que paro o médico parece lógico de entender, pro familiar não é, então sempre surgem dúvidas”, ressalta Limberger.

Na Santa Casa, maior hospital do Mato Grosso do Sul, além dos boletins escritos, projeto de boletins via vídeo chamada estão sendo aplicados. Este último, no entanto, não tem como ser feito todos os dias, devido a grande demanda de pacientes. “Triplicamos a capacidade. Eram 10 leitos, agora são 30. Antes tinha como ligar para o familiar todos os dias, mas com essa ampliação, não conseguimos. Mas os boletins por escrito continuam sendo diários”, conta a médica intensivista Giovanna Padoa de Menezes.

Frieza dos boletins sobre estado de saúde é angústia extra, dizem médicos
Modelo de boletim repassado pela Cassems. (Foto: Reprodução)

Humanização – principal reclamação das famílias, que não podem sequer ver ou tocar o parente internado em UTI (Unidade de Terapia Intensiva), é a frieza dos boletins, sejam eles escritos ou via áudio.

Para os médicos ouvidos, tenta-se suprir essa deficiência com os atendimentos agendados ou mesmo com as chamadas de vídeo, mas infelizmente, “não conseguimos expressar sentimentos pelo boletim. Isso é uma reclamação das famílias, mas não se consegue expressar na escrita da mesma forma como quando falando. Não conseguimos traduzir essa humanidade na escrita”, avalia a intensivista da Cassems.

Sobre esse distanciamento, essa frieza, a médica Giovana afirma que a impossibilidade de que haja esse contato direto com os familiares prejudicou inclusive o atendimento aos pacientes.

“O familiar também traz informações que ajudam na nossa condução do paciente, e sem essa conversa presencial, perdemos um pouco dessas informações. Do ponto de vista médico, teve esse distanciamento. É mais frio, uma relação difícil, porém necessária nesse momento”, avalia.

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