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Capital

Garoto "soldado" de presos da Máxima já roubou, sequestrou e matou

Paula Maciulevicius | 20/05/2013 07:40
Entre a Constituição, o ECA, armas e celulares. A vida de soldado aqui fora e o que aguarda esses mesmos infratores dentro de presídios. (Foto: Marcos Ermínio)
Entre a Constituição, o ECA, armas e celulares. A vida de soldado aqui fora e o que aguarda esses mesmos infratores dentro de presídios. (Foto: Marcos Ermínio)

Ele tem 17 anos e 17 tatuagens pelo corpo. Olhos e fala firme. O português denuncia a falta de estudo de quem largou a escola no 6º ano. Considerado ainda adolescente, o rapaz tem nas costas envolvimento em roubo, sequestro, tentativa de homicídio e latrocínio. No currículo, carrega três passagens por Uneis (Unidade Educacional de Internação) e de experiência profissional: soldado de presidiários da Máxima.

Os atos infracionais começaram aos 14 anos, com roubo e não pararam desde então. Usuário de drogas, ele diz que aqui fora só precisa arrumar arma, depois que alguém lá dentro arruma um celular para então cumprir a missão.

O último ato do rapaz foi o sequestro de um comerciante de 47 anos, em fevereiro deste ano, no bairro Carandá Bosque, em Campo Grande. “Eu fiz tudo. Fui eu quem peguei a vítima, levei até a região de Bodoquena. Mas depois ele escapou do cativeiro”, conta.

O caso em questão é de um sequestro em uma madrugada de domingo. A vítima estava em frente ao comércio quando um trio se aproximou e obrigou que ele entrasse no veículo deles. O comerciante foi amarrado em um matagal, amordaçado e ameaçado de morte. No meio da manhã, ele conseguiu se soltar e pedir ajuda em uma casa próxima.

O carro onde os assaltantes estavam foi encontrado na região central da cidade. À época, segundo a Polícia, eles estavam tentando levantar dinheiro para seguir até Miranda. Na situação um rapaz de 23 anos foi preso e o primo, o adolescente que o Campo Grande News agora conta a história. De cara, o garoto se responsabilizou pelo crime.

“A gente entra com ‘corre’ desses caras. É que nem soldado, vai ficar trabalhando para os outros lá dentro”.

Diante da discussão levantada sobre a redução da maioridade penal, que colocaria adolescentes de 16 anos cumprindo pena em presídios, ele diz com propriedade “lá é uma faculdade, pode sair até mais criminoso. Porque o que ainda não sabe, vai aprendendo. Mas lá o bicho pega”.

O garoto admite que a ele não foi oportunidade que faltou. Ele ouviu muitos conselhos dos avós e dos tios. Conversas que entraram por um ouvido e saíram por outro. Mas não esconde a preocupação que tem em cometer deslize a partir de setembro, quando ele faz aniversário. Aos 18, a história é outra.

“Se dá certo tipo de mancada, o bicho pega. O cara entra lá e não sabe o que é uma facção. Só sai se virar crente. Chega lá e não tem dinheiro nem para comprar sabonete, aí tem que entrar pro crime”.

Alto, forte e aparentemente saudável. O adolescente tenta, sem argumento algum, explicar o porquê entrou para o crime. “Parece que é o diabo. Eu entro num caminho e não vejo outra escolha, tem droga no meio é isso que deixa os pensamentos assim”.

O que deixa a equipe perplexa é ver da boca de um adolescente perto de completar a maioridade e que logo estará às ruas novamente, é que não tem medo. “Medo não tenho não. A vida é por ali mesmo. É só chegar e arrumar um celular. A gente entra e põem outro. Deixa de ser soldado”.

O adolescente está há dois meses na unidade de transição, Unei Novo Caminho, em Campo Grande. Ele aguarda decisão do juiz que vai determinar por quanto tempo cumprirá medida socioeducativa. Hoje pelo ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), a internação é de no máximo três anos.

Num futuro, se cometer crime e for preso como adulto, o sistema penitenciário do Estado vai recebê-lo. “É sair bem pior do que vai entrar. Já era já. Lá é faculdade. Aqui é escolinha. Pra acabar com a violência? É só Deus voltando”, finaliza.

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