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Capital

Homens agridem e até matam, mas culpam mulheres pela violência, diz defensora

Renan Nucci | 03/07/2014 20:02
Defensora pública Graziele Diáz Ocariz, atua na área de amparo às mulheres vítimas de violência. (Foto: Divulgação)
Defensora pública Graziele Diáz Ocariz, atua na área de amparo às mulheres vítimas de violência. (Foto: Divulgação)

De cada dez réus acusados por violência doméstica, nove negam as agressões e ainda tentam culpar a mulher, afirma a defensora pública Graziele Diáz Ocariz. Indignada, ela que tem nove anos de experiência e atua na defesa da mulher desde fevereiro, aponta o machismo como principal responsável por este cenário.

"Todo dia é necessária reflexão para não vitimizar ainda mais essa mulher com perguntas machistas de todo o sistema que já percorreu até chegar ao atendimento, ou na oitiva em audiência. Muitos preconceitos elas enfrentaram, e por repetidas vezes o sistema, o agressor e os envolvidos tentaram colocar essa mulher de vítima a ré: - O que você fez para ele ficar nervoso? – Houve traição? – Você estava de saia curta no pagode bebendo?", comenta Ocariz.

A defensora conta que a situação é controversa a ponto de, mesmo as autoridades tendo diversas provas do crime, os agressores se dizem inocentes perante a justiça. “A marca da agressão está no laudo médico, no rosto da mulher, no choro dos filhos menores, na revolta dos filhos maiores, no testemunho dos vizinhos, na oitiva dela quando confirma e muitas vezes na cara do agressor mentiroso, mas ele segue negando”, afirma.

Ocariz relata que em muitos casos, diante de tanta subversão, as próprias vítimas acabam se sentindo as rés em questão. “Elas muitas vezes acreditam nisso, e na audiência, se comportam como criminosas, retiram a culpa do agressor e a carregam, para novamente, e provavelmente, retornar ao convívio do agressor e ao ciclo de violência, que em média se demora dez anos para romper”.

Caso Cristiane - Ocariz cita como exemplo um caso ocorrido na noite de ontem, na região da Vila Danúbio Azul. Na ocasião, a dona de casa Cristiane Ferreira da Silva, de 31 anos, foi assassinada a facadas pelo marido Marcelo Roberto Dias Velasques, 33 anos.

O casal mantinha um relacionamento conturbado há dois anos e segundo testemunhas, ele era violento. No dia 1° de março, Cristiane denunciou agressão e o homem foi preso. “No mês de maio a vitima Cristiane compareceu à audiência, confirmou a violência sofrida, confirmou a agressão e levou adiante, apesar de ter cinco filhos, sendo um de cinco meses com o agressor que estava preso há 90 dias”, disse.

Marcelo foi condenado, mesmo negando veementemente as acusações. “Tudo foi feito corretamente. Manutenção da medida protetiva, intimação de Cristiane dia 29 de junho, soltura do réu posterior, informação para cumprir a pena em regime aberto ao local determinado, com ofícios nos autos, entrada no estabelecimento prisional em regime aberto”, explicou Ocariz, lamentando o final trágico.

“Estaria Cristiane segura em sua casa humilde com seus cinco filhos, sem portão, sem portaria, sem iluminação em sua rua às 11h30 da noite, quando o agressor deveria estar dormindo no estabelecimento penal? Estaria uma mulher com condições financeiras melhores segura em seu condomínio, com cerca elétrica, portaria, travas nas portas, alarmes, câmeras de segurança?”, questiona.

Ao ser preso depois de matar a mulher a facadas, entre outros motivos, Marcelo alegou que suspeitava que a vítima estivesse o traindo. Diante de tal declaração, a defensora desabafou: “Fico me questionando e em um misto de revolta e tristeza onde erramos e o que poderíamos ter feito para evitar que Cristiane, mãe de cinco filhos, fosse morta pelo seu ex-convivente. [...] Desculpe Cristiane, gostaria de ter evitado e ajudado você, mas a culpa é do homem! A culpa não é sua, não é do seu pai, não são dos vizinhos, não é do sistema, a culpa é do agressor!”.

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