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Capital

“Jogou ela como se fosse um animal”, diz ex-policial que teve esposa assassinada

Guilherme Ortiz se emocionou ao relatar detalhes da morte de Márcia Lugo, com quem foi casado por 39 anos

Anahi Zurutuza | 15/02/2022 19:48
Viúvo de Márcia Lugo, Guilherme Ortiz não conseguiu segurar a emoção ao responder perguntas em audiência. (Foto: Reprodução)
Viúvo de Márcia Lugo, Guilherme Ortiz não conseguiu segurar a emoção ao responder perguntas em audiência. (Foto: Reprodução)

A tarde desta terça-feira, 15, foi de emoção para o policial civil aposentado, Guilherme Yarzon Ortiz, 66, uma das primeiras testemunhas de acusação a serem ouvidas em audiências no processo do assassinato de Márcia Lugo Ortiz, 57, com quem foi casado por 39 anos. Diante do juiz Aluízio Pereira dos Santos, na 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, o ex-policial contou detalhes do dia em que notou o desaparecimento da esposa e depois, teve de reconhecer o corpo, ainda no local em que havia sido abandonado.

Para a Polícia Civil e o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), o empresário e motorista de aplicativo Carlos Fernandes Soares, de 33 anos, é o assassino. Ele nunca confessou o crime e já contou pelo menos três histórias diferentes sobre o que aconteceu com Márcia – primeiro para a família e como testemunha anônima, ao Campo Grande News, com a intenção de direcionar o alvo para o marido, a segunda para os investigadores que derrubaram a versão digna de roteiro para o cinema e a terceira para o ex-namorado.

Guilherme relatou que conheceu Carlos Fernandes no lava-jato do réu e algum tempo depois, o acusado passou a trabalhar como uma espécie de motorista particular para Márcia. A levava às compras, a médicos e bancos.

O policial aposentado também afirma que jamais imaginou, num primeiro momento que o rapaz pudesse ser o assassino da mulher. “No começo não, era de confiança, de dentro de casa”.

O viúvo relatou ainda que Carlos o ajudou a procurar a mulher quando ele notou que ela havia desaparecido. “Naquela noite cheguei em casa, tomei banho e dormi. Quando acordei, Márcia não estava. Achei que tinha dormindo na minha sogra. Liguei e minha sogra disse que ela tinha saído de lá umas 18h do dia anterior. Comecei a procurar. Falei com minha irmã e liguei pro Carlos, porque eu havia dado dinheiro a ela [vítima] para comprar coisas para ela e nossos netos. E ele disse que tinha deixado ela na minha sogra no fim da tarde”.

Confidente de Márcia, segundo a família, Carlos era quem podia ajudar Guilherme a rastrear o celular da mulher. O ex-policial foi então até o lava-jato. “Na maior frieza e tranquilidade, ele ficou ali tentando ajudar. Friamente, não desconfiei nada. Ficou um tempão procurando o telefone dela e disse que não conseguiu. Aí, eu fui fazer boletim de ocorrência”.

A vítima foi encontrada morta horas depois do registro na polícia, com um tiro na cabeça. O corpo estava sob a ponte no Córrego Imbirussu, em Campo Grande.

“Jogou ela como se fosse um animal lá”, disse Guilherme, que neste momento da oitiva, não consegue segurar a emoção.

A partir do momento em que o corpo foi encontrado, segundo o marido, Carlos desapareceu. Não falava mais com ele.

Delegado João Reis Belo, o responsável pela investigação, foi um dos depoentes desta tarde de audiências, que terminou já eram mais de 19h. (Foto: Reprodução)
Delegado João Reis Belo, o responsável pela investigação, foi um dos depoentes desta tarde de audiências, que terminou já eram mais de 19h. (Foto: Reprodução)

Versão de cinema - O plano maquiavélico de Carlos Fernandes, segundo a polícia, incluiu tentar incriminar Guilherme Ortiz e depois, Carlos Henrique Machuca Santareno, o “China”, um dos agiotas para quem o réu deve dinheiro.

O acusado diz ter sido testemunha da morte da mulher, a quem chamava “tia”. Disse no interrogatório em solo policial que, na noite do crime, ele e a vítima estavam em uma Toyota Hilux SW4 preta, locada com objetivo de seguir Guilherme, em busca de provas de que o marido de Márcia colecionava amantes.

Questionado sobre isso, na tarde desta terça-feira (15), o policial aposentado até encerrou o depoimento dizendo: “Tudo criação dele. O que eu sei é isso e do sofrimento que estou passando. Afinal, foram 39 anos com uma pessoa”.

De volta à história contada por Carlos, ele e Márcia teriam sido então abordados na Avenida Bom Progresso, no Jardim Tarumã - bairro do sudoeste da Capital -, por “China” e um comparsa. Márcia, narra o acusado de assassinato, morreu para defendê-lo do cobrador. O suspeito contou que a situação fugiu do controle e ele “arrancou” com a SW4, momento em que o cobrador disparou tiro, que atingiu a vítima na cabeça.

Carlos Fernandes diz ter sido, então, raptado pela dupla. O cúmplice de “China” teria assumido o volante da SW4 e os dois veículos começaram a dar voltas na cidade, até que pararam em ponte sobre o Córrego Imbirussu, na BR-262, onde o corpo de Márcia foi desovado.

Depois de tudo isso, Carlos afirma que passou a ser ameaçado e monitorado para não revelar tudo à polícia.

Carlos Fernandes Soares responde ao processo preso, mas acompanhou depoimentos nesta tarde. (Foto: Reprodução)
Carlos Fernandes Soares responde ao processo preso, mas acompanhou depoimentos nesta tarde. (Foto: Reprodução)

Mais detalhes - A versão dele “caiu por terra” depois da análise de imagens de câmeras de segurança e dados de GPS recuperados, laudos necroscópico e periciais, além da descoberta das dívidas que Carlos tem com agiotas e da gastança após o assassinato.

Para a polícia, Carlos matou para ficar com o dinheiro de Márcia e da mãe dela. O acusado, ainda conforme a investigação, gastou cerca de R$ 8 mil em roupas, presentes e “investimentos” feitos no próprio estabelecimento comercial, além de transferir da caderneta bancária da mãe da dona de casa para conta dele, via Pix, valores que somam R$ 104 mil. No nome da vítima, Carlos ainda conseguiu empréstimo de R$ 2 mil.

Pelo estado em que o corpo foi encontrado, a perícia constatou que Márcia foi morta por volta 22h do dia 7 de outubro, com tiro na altura do supercílio, disparado uma distância de 20 a 30 centímetros do rosto da vítima – correspondente entre o motorista e alguém no banco do passageiro da SW4.

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