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Capital

Mesmo condenada, dupla que matou em lava a jato sai livre pela porta da frente

Jurados entenderam que Wesner Moreira, 17, foi assassinado, mas réus poderão recorrer da sentença em liberdade

Anahi Zurutuza e Ana Beatriz Rodrigues | 30/03/2023 20:17
Momento que juiz leu sentença para réus. (Foto: Paulo Francis)
Momento que juiz leu sentença para réus. (Foto: Paulo Francis)

Em julgamento de quase 12 horas, que teve revolta, debates acalorados, súplica a Deus por condenação e muita comoção, Thiago Giovanni Demarco Sena, 26 anos, e William Enrique Larrea, 36 anos, foram sentenciados a 12 anos de prisão pelo assassinato de Wesner Moreira da Silva, 17.

A acusação, feita por trio de promotores, conseguiu convencer o júri, formado por seis homens e uma mulher, a condenar o patrão e o colega de trabalho do adolescente por homicídio qualificado pelo dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar) e recurso que dificultou a defesa da vítima.

O juiz Carlos Alberto Garcete fixou a pena mínima para homicídio. Os dois terão de cumprir a pena em regime fechado, mas deixaram o Tribunal do Júri, no Fórum de Campo Grande, pela porta da frente, porque têm direito de recorrer da sentença em liberdade.

Marisilva Moreira, 50 anos, que se emocionou muito durante o júri, passou mal ao ouvir a leitura da sentença e foi apoiada por familiares. Pouco depois, já recuperada, ela disse ao Campo Grande News que se sente aliviada. “Foram anos esperando por esse momento. Eu sabia que Deus ia ser fiel comigo e ele foi. Eu queria que eles ficassem a vida toda na cadeia, mas esse 12 anos já vão ser suficientes para eles pensarem no que fizeram”.

Caçula da dona de casa, Wesner partiu aos 17 anos, em fevereiro de 2017, após ter mangueira de compressão, usada na limpeza de carros, introduzida no ânus. Ele trabalhava em um lava a jato na Avenida Interlagos, em Campo Grande. Com a pressão do ar, ele perdeu metade do intestino e teve vários outros órgãos lesionados até sofrer hemorragia grave e parada cardiorrespiratória.

Marisilva Moreira, 50 anos, mãe de Wesner se emocionou com condenação. (Foto: Paulo Francis)
Marisilva Moreira, 50 anos, mãe de Wesner se emocionou com condenação. (Foto: Paulo Francis)

Tentativa de absolvição – A defesa de Thiago e Willian alegou o tempo todo que a tragédia não passou de uma “brincadeira de mau gosto” e que os clientes não tinham a intenção de ferir ou matar Wesner.

No plenário, o advogado Francisco Martins Guedes Neto transmitiu no telão “pegadinhas” em programas televisivos para comparar ao que aconteceu na data do crime, 3 de fevereiro de 2017, no lava a jato. "Olha o perigo, as pessoas brincando, dando risada, achando que é uma brincadeira e que pode ocasionar em morte", disse.

Já o advogado Ricardo Trad Filho disse que o patrão de Wesner e o lavador de carro eram “idiotas”. “Assassinos não, mas dois idiotas isso sim. Idiotas é isso que eles são por fazer uma brincadeira assim”.

Legista durante o julgamento de Thiago Giovanni (xadrez) e William Enrique (azul). (Foto: Marcos Maluf)
Legista durante o julgamento de Thiago Giovanni (xadrez) e William Enrique (azul). (Foto: Marcos Maluf)

Acusação – O júri teve réplicas e tréplicas, além de discussão entre a promotoria e a defesa dos réus. Mas nem a tentativa de amenizar a gravidade do ocorrido e nem as lágrimas dos réus comoveram os jurados.

A acusação chamou um médico legista como testemunha e explicou, em termos técnicos, o que ocorreu com a vítima. “O ar entrou pelo ânus, então, a mangueira em contato íntimo com ânus com 90 psi de pressão tem energia muito alta. Essa pressão causou esta catástrofe nos órgãos do Wesner”, descreveu Marco Antônio Araújo de Melo.

Thiago chorou durante depoimento prestado hoje no julgamento. (Foto: Marcos Maluf)
Thiago chorou durante depoimento prestado hoje no julgamento. (Foto: Marcos Maluf)

Nas considerações finais, em tom de pregação, o promotor José Arturo Iunes apelou para Jesus e para a mãe da vítima como estratégia para persuadir o júri. “Reze, reze para aquele que nasceu na Rua 25 de Dezembro, para pegar um compressor de ar, para pegar uma mangueira de ar e purificar esse ar daqui desse plenário com justiça. É esse purificador de ar que a gente quer aqui nesse plenário, dona Marisilva”, disse, referindo-se a Jesus Cristo, que nasceu no dia 25 de dezembro.

A mãe de Wesner se levantou e, com as mãos para o céu, respondia cada frase do promotor, como uma réplica às estrofes do sermão de um pastor.

Entenda – No detalhamento da denúncia, consta que tudo começou com realmente com uma brincadeira. Segundo o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Wesner pediu, em tom de brincadeira, que William comprasse Coca-cola. “De novo? Agora toda hora é Coca-cola!”, pegando um pano para bater no adolescente.

Em determinado momento, Wesner pediu para que o colega parasse, mas não foi atendido. O rapaz correu, mas William foi atrás dele e o imobilizou, agarrando-o pela frente e segurando braços e tórax. Logo em seguida, carregou o adolescente até onde estava Thiago, o dono do lava a jato, que pegou a mangueira de ar, retirou a bermuda e a cueca de Wesner, ligou compressor e o introduziu no ânus do adolescente.

O rapaz passou mal, vomitou, foi levado para posto de saúde, sendo transferido para a Santa Casa, onde morreu.

Wesner morreu aos 17 anos após sofrer hemorragia seguida de parada cardiorrespiratória (Foto: Arquivo Pessoal)
Wesner morreu aos 17 anos após sofrer hemorragia seguida de parada cardiorrespiratória (Foto: Arquivo Pessoal)
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