Na cadeira de rodas e há 4 meses sem auxílio-doença: a saga na porta do INSS
Edson sofreu acidente, ficou oito meses acamado e, sem passar por perícia, se socorre com empréstimos para viver

A esperança tem data para Edson dos Santos Mara: 13 de outubro de 2020. É na próxima terça-feira, depois do feriado prolongado, que o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) agendou sua perícia médica.
Hoje, apesar de agendado, perdeu a viagem à agência da Rua Anhanduí, em Campo Grande, diante da remarcação do procedimento. Na cadeira de rodas por um acidente de trânsito sofrido em primeiro de junho de 2019, o moto entregador conta que está há quatro meses sem o auxílio da doença.
Se socorrendo com empréstimos de familiares, Edson não perde a esperança e, depois de ficar oito meses preso a uma cama, se apega ao lado bom da vida, diante de um direito que lhe é negado.
“Não adianta nada ficar estressado, brigar. Sei como funciona, a lei é para o mais forte. Para quem é menos, a lei também é menos. Os políticos têm um monte de lei para ampará-los. Os bandidos também têm lei para eles”.
Para cada tentativa de agendamento de perícia por email, pagava R$ 20 para acesso a computador e internet em cyber. Por enquanto, segue na luta pelo o “danado” do dinheiro, o benefício de R$ 1.542.
“Dependo muito dos outros. Mas sou bem amparado e não posso reclamar. Minha família cuida bem de mim. Falta só o danado do dinheiro. Tudo acontece no tempo de Deus e não vou desistir”, afirma Edson, que luta para voltar a dar novos passos, desta vez trocando a cadeira de rodas por andador.
O auxílio-doença é um benefício por incapacidade devido ao segurado do INSS que comprove, em perícia médica, estar temporariamente incapaz para o trabalho em decorrência de doença ou acidente.

Devagar, devagarinho – O INSS suspendeu o atendimento presencial em março diante da pandemia do novo coronavírus. A retomada, com medidas de biossegurança, aconteceu no mês passado.
Antes da volta, o instituto divulgou números nacionais sobre atendimentos: 186 mil benefícios de Prestação Continuada, pago a pessoas com deficiência, e 876 mil antecipações de auxílios-doença.
Já o retorno foi conturbado e esbarrou na negativa dos médicos peritos em retomar as perícias. No dia 18 de setembro, a reportagem encontrou fila dobrando a equina na agência da Rua Anhanduí porque os profissionais decidiram não atender.
No último dia 24, a Justiça derrubou liminar que amparava a ANMP (Associação Nacional dos Médicos Peritos). A associação alegava falta de condições sanitárias contra a covid-19.
A reportagem solicitou dados ao INSS sobre a fila por atendimento em Campo Grande e a quantidade de médicos peritos em atividade.
Segundo a assessoria de imprensa do instituto, quanto a informação de quantidade de pessoas aguardando em fila de espera para realização de perícia médica, cabe à Secretaria de Previdência responder sobre o assunto, visto que o INSS não tem gerência sobre os médicos peritos.
"No entanto, informamos que as vagas estão disponíveis para até no máximo dois dias após o requerimento". (Matéria editada para acréscimo de informações).