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Capital

Não bastasse a dor da perda, a difícil luta da mãe para sepultar gêmeos

Aline dos Santos | 09/01/2015 10:32
Kelma tenta há quase um mês fazer sepultamento dos filhos. (Foto: Marcos Ermínio)
Kelma tenta há quase um mês fazer sepultamento dos filhos. (Foto: Marcos Ermínio)

As portas abertas, mas sem atendimento ao público na Defensoria Publica, é uma tristeza a mais na saga da desempregada Kelma Barbosa de Oliveira, 32 anos. Há quase um mês ela tenta sepultar os filhos gêmeos, que nasceram no dia12 de dezembro, na Maternidade Cândido Mariano, e morreram horas depois.

O trágico desfecho da primeira gestação, encerrada aos seis meses, ganhou contorno mais dramático diante da burocracia. Até o momento ela não sabe se os filhos poderão ser sepultados e se pode contar com auxílio do município para enterras as crianças, pois não dispõe do valor. “Tenho medo que sejam descartados no lixo hospitalar, como resíduo de gestação”.

Informações desencontradas atormentam Kelma. Primeiro, conta que recebe guias da maternidade para as certidões de nascimento e óbito dos bebês. Ela diz que os cartórios se recusavam a atestar as mortes porque não tinha assinatura do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos).

Kelma só obteve a certidão após fazer um relatório de próprio punho, assinado também pelo marido, onde narrou o ocorrido. Na maternidade, recebeu a informação de que o SVO não faz verificação porque o peso era inferior a 500 gramas. As certidões de óbitos dão conta que Gabriel viveu por 40 minutos, enquanto Fernanda teve vida por 1h40. “Os exames sempre mostraram que eram duas meninas não idênticas”, diz, diante de mais um desencontro de informação.

Segundo a paciente, o atendimento médico foi bem feito, apesar do parto longo. O primeiro nasceu às 8h20 e o segundo, às 18h40. Ambos em parto normal.

Ela conta que tem reunião hoje com serviço de assistência social e psicóloga da maternidade, mas queria respaldo jurídico. “Como leiga, a gente tem que tentar a internet. Não posso chegar desinformada. Acho que vou voltar na segunda-feira”, diz, diante da Defensoria Pública, localizada na rua Antônio Maria Coelho, em Campo Grande. Às sexta-feira, o órgão público tem apenas trabalho interno, sob justificativa de dar andamento aos casos,

Fragilizada, Kelma relata que aos poucos se desfaz do que preparou para receber seus filhos. “Vivemos o luto de novo. Vendi o guarda-roupas, berço”, diz. E lembra, magoada, que foi posta em quarto com mães cujos bebês estavam vivos. “Não foi fácil perder”.

A reportagem entrou em contato com a Maternidade Cândido Mariano. Na direção, a informação é de que não se sabia do ocorrido e a orientação foi retornar à tarde.

No Serviço de Verificação de Óbito, a reportagem apurou que, caso a morte seja em hospital, a declaração de óbito é feita pelo médico. Em sequencia, o falecimento é registrado no controle de sepultamento. A funerária lança no sistema e a declaração de óbito é carimbada no SVO. Em seguida, o cartório faz a certidão de óbito.

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