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Capital

Nas favelas, gostar de frio não é opção e o jeito é improvisar

Dormir juntos, tomar chá e mate e cobertas penduradas no barraco são algumas das estratégias para suportar baixa temperatura

Mirian Machado e Clayton Neves | 04/07/2019 18:31
Mãe leva filho para barraco para se esconder do frio (Foto: Clayton Neves)
Mãe leva filho para barraco para se esconder do frio (Foto: Clayton Neves)

Acostumado ao clima quente, o campo-grandense se divide quando chegam os poucos dias frios do ano. Parte odeia. Outra parte ama. Para quem tem abrigo adequado, a polêmica fica no "gosto/não gosto", mas para quem vive de forma improvisada, quando a temperatura cai, é hora de preocupação e de se virar da forma que dá para se proteger. É o que está ocorrendo nas favelas ainda existentes na cidade.

No Jardim Noroeste, moradores se organizam para o frio previsto para chegar ao Estado no fim de semana. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o alerta segue até a próxima segunda-feira (8). Conforme a meteorologia, Campo Grande poderá ter temperatura mínima de 3°C no sábado (6) e 5°C no domingo (7).

A mudança na temperatura preocupa os que mais sofrem seja no clima seco ou chuva. Além de muita gambiarra para suportar o frio, alguns esperam doações de agasalhos e cobertores.

Na região onde as famílias improvisam barracos para morar, Cristiano Almeida de 55 anos, diz que ainda não sabe como vai passar esse frio. “Normalmente eu ligo o fogão a lenha para a gente se esquentar”, disse.

O ajudante de pedreiro garante que divide com a esposa e a filha de 11 anos o único cobertor. “Esperamos que alguém nos ajude e doe mais um cobertor”, falou, afirmando ainda que a família sobrevive dos bicos que ele faz e doações. “O frio é duro”, exclama.

Vizinha de Cristiano, a camareira de 37 anos, Claudineia da Costa, vive há quatro anos com o marido e os três filhos de 10, 7 e 4 anos. Ela já ficou sabendo do frio que está por vir, mas hoje tem tudo preparado. “Recebemos recentemente doações de casacos e cobertores, não gosto muito de frio porque é ruim até para trabalhar, mas felizmente esse [frio] vamos passar bem, eu espero”, explica.

Ela conta que está mais aliviada porque chuva e frio chegaram à época de férias. “Seria ruim para eles para escola com o tempo assim”, conta.

A família da Sabrina Martinez, de 19 anos, deverá passar um pouco melhor. Eles também já ouviram falar sobre o friozão que está por vir, apesar de receber doações também, a maioria dos que moram na casa trabalham, “Então provavelmente teremos que comprar mais cobertores”, afirma. “Nesse tempo ficamos mais dentro de casa”.

Coberta é utilizada para tentar evitar a entrada de vento (Foto: Clayton Neves)
Coberta é utilizada para tentar evitar a entrada de vento (Foto: Clayton Neves)

"Agarrados"Franciele Argilar, de 23 anos, mora na favela do Mandela com os filhos de 2 meses, de 2 e de 6 anos. Conta que só tem três cobertores, sendo dois colocados na parede para tentar estancar o vento e deixar o cômodo mais quente. “Para aquecer um pouco mais dorme todo mundo junto. Em dias de frio não tem como ficar separado”, diz.

Ela conta que o frio é ainda maior pela localização, próxima ao córrego Segredo. A casa é toda de zinco, o que também acaba contribuindo para o frio.

Luana Martins, de 23 anos, também contou que adere ao sono compartilhado para diminuir o frio. A jovem chegou ao local durante o frio do ano passado e teve que improvisar no barraco. “Dormiram cinco pessoas em uma só cama”, diz, se referindo a ela, aos filhos de 2 e 5 anos e também a avó. A família contava apenas com uma coberta.

Também citou que uma dica para driblar as temperaturas baixas é tomar bastante chá e mate antes de dormir. “Aí jogamos a única coberta que tem e nos viramos como pode”.

Representante da comunidade do Mandela, Greiciele Naiara relata que essa é a pior época para os moradores. Os ventos cortando os barracos deixam tudo ainda mais difícil. Diz que as doações são raras e que a única assistência é da ONG Amparo Move e Esperança.

Segundo ela, atualmente são cerca de 125 famílias, sendo 348 pessoas, entre elas 160 crianças de 0 a 10 anos. “O número de moradores é muito grande, a ONG não consegue atender todo mundo”, conta. Pelo menos oito mulheres são gestantes.

Outra situação é o saneamento. O esgoto a céu aberto deixa as crianças sujas a todo o momento. “Precisa esquentar água para dar banho e acaba deixando a situação mais complicada”. Também diz que o frio costuma fazer a alegria de alguns campo-grandenses, que, segundo ela, contrasta com a situação em que vivem. “Ficamos reféns de doações, esperando que alguém deixe casaco, cobertor”.

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