Justiça absolve padre acusado de assédio: "fui vítima de uma clara armação"
Justiça não viu provas suficientes e mandou arquivar inquérito policial

Em silêncio, com o terço nas mãos e o coração em pedaços, o padre Jucelandio José do Nascimento enfrentou o peso de uma acusação que quase destruiu sua vida e seu ministério. Denunciado por oferecer R$ 2 mil a um adolescente em troca de sexo, em julho de 2024, ele foi inocentado pela Justiça. Agora, meses depois, quebra o silêncio sobre o drama que viveu.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Padre Jucelandio José do Nascimento foi inocentado pela Justiça após ser acusado de oferecer R$ 2 mil a um adolescente em troca de relações sexuais, em julho de 2024. O religioso, que atua na região das Moreninhas, em Campo Grande, foi preso após denúncia, mas a investigação não comprovou o crime. Durante o período de acusação, o sacerdote enfrentou depressão e ansiedade, necessitando de medicamentos e acompanhamento profissional. Atualmente afastado das funções públicas, aguarda o resultado de uma investigação canônica em andamento no Vaticano. Apesar das dificuldades, manteve sua fé e afirma ter perdoado seus acusadores.
“Fiquei dois dias preso em choque, não dormi”, relembra. “Depois, veio a depressão. Era como se eu estivesse flutuando, não queria ver ninguém, só queria ficar no meu cantinho”, fala o padre com a voz serena de quem ainda está ferido, mas já consegue respirar fora da tempestade.
Jucelandio tomou medicamentos para dormir, para ansiedade e depressão. Precisou de acompanhamento profissional. “Meu sono foi ficando perturbado. Eu dormia, acordava, caía da cama. Não descansava. Os remédios e as orações foram me ajudando a sair dessa”, relata.
Segundo o religioso, tudo passou de uma armação. A denúncia chegou à polícia em 8 de julho de 2024. O padre, muito querido na região da Moreninhas e conhecido por estar sempre em meio aos jovens da igreja, foi preso pela Polícia Militar, depois que adolescente pediu socorro à família, trancado no banheiro da casa do pároco.
O pai relatou que o filho havia saído de casa sem autorização, foi até a casa de Jucelandio, onde passou a ser assediado. Os militares encontraram o portão do imóvel entreaberto e já no quintal, chamou pelo sacerdote, que abriu a porta. Os policiais questionaram o motivo de o adolescente estar na residência dele àquela hora e o sacerdote respondeu que chamou o menino para tratar de assuntos referentes ao acampamento da igreja.
Já o garoto disse que o padre ofereceu R$ 2 mil para ter relações sexuais com ele e passou a mão em suas partes íntimas. Segundo a denúncia, ele se assustou, correu para o banheiro e ligou para o pai.
Nos autos, faltaram provas. A investigação não conseguiu comprovar o crime, e a Justiça decidiu pela absolvição, determinando o arquivamento do inquérito policial. “Fui vítima de uma clara armação”, afirma o padre.
Durante o tempo em que está suspenso de suas funções, seguiu orientações da igreja e afastou-se da vida pública. Uma investigação canônica também foi aberta e segue em andamento no Vaticano. “Estou aguardando o resultado de Roma. Até lá, sigo afastado da função pública. Mas nunca me senti abandonado”, destaca. “A Igreja, meus amigos, minha família foram um apoio muito grande”.
Fé desde a juventude - A vocação surgiu cedo. Aos 17 anos, Jucelandio fazia parte de um grupo de jovens nas Moreninhas. “Fiz uma promessa para Nossa Senhora de Fátima: que rezaria o terço todos os dias se minha mãe se curasse da depressão”. Ele não sabia nem rezar o terço. Aprendeu com a ajuda de uma vizinha coroinha e juntos criaram o grupo de jovens e adolescentes, hoje o maior da região.
A mãe de Jucelandio melhorou, viveu bem por mais 15 anos, até falecer em 2023. “O sacerdócio é a minha vida. Sou feliz fazendo o que faço”. Hoje, livre do peso do processo, ele diz ter perdoado quem o acusou. “Perdoei. Me sinto com o coração em paz. Só quero que a sociedade pense antes de sair apontando, denegrindo a imagem dos outros. Uma acusação pode acabar com uma vida”.
Se depender da fé que o sustentou nos piores dias, ele voltará ao altar. “A fé nunca me abandonou. Nem a depressão calou minha vocação”.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.