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Capital

Para combater suicídio, polícia investe em ‘humanização’ nos batalhões

Polícia Militar realizou seminário sobre projetos a serem desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida de seus profissionais

Richelieu de Carlo | 19/07/2017 12:52
Capelão do Corpo de Bombeiros, Edilson Reis fala sobre o suicídio entre policias. (Foto: Assessoria/PMMS)
Capelão do Corpo de Bombeiros, Edilson Reis fala sobre o suicídio entre policias. (Foto: Assessoria/PMMS)

Com pelo menos quatro casos de suicídio entre policiais da ativa em 2017, a Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul investe em seminários para prevenir que estes atos se repitam e melhorar a qualidade de vida dos agentes de segurança pública no Estado.

Nos projetos a serem desenvolvidos pelas instituições policiais, o principal destaque está no incentivo em proporcionar um relacionamento mais "humano" entres os membros da corporação. Criando assim uma "rede" entre colegas e familiares para facilitar a detecção de doenças e busca de apoio médico.

A primeira etapa do programa aconteceu na manhã desta segunda-feira (19), no auditório do Tribunal Regional do Trabalho, onde comandantes de batalhões e oficiais gestores da Polícia Militar se reuniram para acompanhar uma série de palestras com orientações sobre como identificar comportamentos que indicam algum problema na saúde de seus integrantes.

De acordo com o diretor de Ensino, Instrução e Pesquisa da PM, Alexandre Rosa Ferreira, essa é uma preocupação antiga da instituição e com os casos mais recentes, o secretário estadual de Segurança, José Carlos Barbosa, decidiu investir para evitar mais ocorrências desta natureza, além de diminuir os afastamentos por licença médica.

Um dos palestrantes desta manhã, Gerson Mardine Fraulub, do Grupo voluntário Apoio a Vida, que desde 2001 oferece suporte de prevenção ao suicídio na Capital. Ele abordou questões específicas que aumentam o potencial de risco entre policiais.

Entre estes fatores, está o fácil acesso a armas de fogo. “Com a disponibilidade de um meio para cometer suicídio, os riscos de concretizar o ato aumentam. Em casos em que isso não ocorre, a pessoa tem tempo para refletir e buscar ajuda”, argumenta Gerson.

Além disso, a natureza do trabalho, que os expõe diariamente a casos de violência, e baixos salários influenciam diretamente no estresse e pressões que os deixam suscetíveis a doenças mentais.

Comandantes da PM acompanham palestra. (Foto: Divulgação/PMMS)
Comandantes da PM acompanham palestra. (Foto: Divulgação/PMMS)

Deize Ribeiro dos Santos, psicóloga da Policlínica da PM, ressalta que os agentes de segurança precisam de um tratamento mais “humanizado”. Em que as pessoas de seu convívio devem receber orientação para identificar sintomas de doenças através de mudança de comportamento, como irritabilidade, isolamento e depressão.

“Por trás da farda tem um ser humano que precisa de ajuda como qualquer outro. O comandante deve ter um acolhimento humanizado com sua tropa. Quando o comando é humanizado é mais fácil identificar e direcionar ao atendimento médico”, aconselhou Deize.

“Com prevenção 90% dos casos do suicídio podem ser evitados”, diz Edilson dos Reis, capitão do Corpo de Bombeiros e coordenador do curso de prevenção ao suicídio da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Edilson diz que saúde mental e suicídio sempre foram negligenciados nas polícias, inclusive em nível nacional. Com o programa a ser implantado, serão apontados caminhos e possibilidades de prevenção.

“O que a gente precisa é detectar uma rede pessoas próximas aos policiais, como colegas e familiares, que possam interagir e fazer com que o indivíduo doente busque ajuda e ter um diagnóstico preciso, que só pode ser dado por um profissional de saúde”, explica o especialista.

Conforme Edilson, em Campo Grande foram mais de 800 tentativas de suicídio e mais de 40 concretizados em 2016. A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida no mundo. O Brasil está em oitavo lugar no ranking mundial em número de casos. Mato Grosso do Sul é o quarto no País.

“Atualmente não trabalhamos com prevenção, mas com os casos consumados. Precisamos falar sobre o assunto. Quanto mais falamos, melhor se previne. Precisamos criar uma cultura de prevenção”, conclui Edilson.

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