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Capital

Para Nídia, um rim não é nada se ela tiver uma vida inteira de volta

Aos 51 anos, ela deu literalmente um pedaço de si para o marido Lino, de 53; e o que ela mais quer agora é retomar a vida ativa que eles tinham antes de a doença virar tudo de ponta cabeça

Adriano Fernandes | 13/01/2017 17:01
Nídia doou o rim para o marido que há 4 anos aguardava na fila de transplantes. (Foto: Pedro Peralta)
Nídia doou o rim para o marido que há 4 anos aguardava na fila de transplantes. (Foto: Pedro Peralta)

Lá se vão 20 anos de muitas histórias, amor e companheirismo da relação entre a paulistana Nídia Maria Narde Castilho Mendes, 51 anos, e o douradense Lino Omar Castilho Mendes de 53. Durante todo esse tempo, foram muitas as demonstrações de carinho. Mas a maior delas ocorreu na terça-feira (10).

A advogada que há 16 anos, deixou a vida em São Paulo para se aventurar na terra natal do marido. Doou um dos rins para o esposo, que há 4 anos aguardava um transplante, e agora o aguarda de volta em casa para retomarem a rotina "sempre muito ativa" que eles mantinham. 

“Eu sempre brinco que ele foi de Dourados só para me buscar em São Paulo. Lá nos casamos, tivemos nossos filhos e vivemos por cinco anos até que ele me fez o convite. Aqui, nós sempre nos mantivemos juntos e mesmo durante a espera do transplante sempre tive a certeza que nossa hora ia chegar e chegou”, sorri.

Mas o alívio só veio depois de uma longa espera e de um tratamento que, segundo dona Nídia, foi exaustivo não só para o marido, mas também para família. Lino descobriu o quadro de insuficiência renal crônica ainda em março de 2013 por decorrência do diabetes e hipertensão.

“Toda a família dele já vinha de um histórico de saúde bastante abalado, mas até então a gente adiava os tratamentos pelo SUS – Sistema Único de Saúde – até que um dia os sintomas ficaram ainda mais fortes”, conta.

A ida ao hospital depois das fortes dores nas pernas, vômito e diarreia culminou no diagnóstico de uma doença silenciosa. “Os médicos constataram que apenas 10% dos rins dele funcionava normalmente. Ele já teve de ir para o CTI – Centro de Tratamento Intensivo – e em seguida começaram a sessões de hemodiálise”, explica.

O transplante do casal foi o primeiro do ano a ser realizado na Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Divulgação)
O transplante do casal foi o primeiro do ano a ser realizado na Santa Casa de Campo Grande. (Foto: Divulgação)

Desde então começaram as exaustivas sessões de aproximadamente nove horas diárias, além da angustia da espera na fila nacional de transplantes por um órgão compatível. Na época, Mato Grosso do Sul ainda não fazia esse tipo de procedimento o que tornava a espera ainda mais desanimadora.

“Caso surgisse um rim que pudesse ser transplantado para ele, teríamos que viajar para outro estado para a cirurgia”, conta. A família podia ser uma saída para o procedimento delicado.
“Um irmão dele se candidatou, mas não foi compatível. Nossos filhos também não por serem menores de 30 anos, então a cada negativa ele ia desanimando, até que eu fiz os testes e tudo deu certo”, completa.

Mas, infelizmente a espera não teve fim de imediato sendo que a compatibilidade foi constatada há dois anos, quando nenhum centro de saúde no Estado tinha estrutura para a cirurgia. A boa notícia veio só no fim do ano passado, quando a Santa Casa de Campo Grande passou a executar o transplante.

O procedimento feito no esposo de Nídia foi o primeiro deste ano, na manhã de terça-feira (10). Ela foi a primeira a entrar na sala de cirurgia e o procedimento durou cerca de uma hora. Em seguida, o órgão foi implantado em Lino, pouco abaixo dos outros dois rins do paciente.

Tudo correu como o esperado. Dois dias depois Nídia já estava em casa e, na próxima segunda (16), o marido já deve ter alta. Mas a recuperação ainda exige cuidados. “Eu ainda não posso fazer estripulias”, brinca. “Ele também ainda vai passar por um processo de observação de pelo menos três meses para que não corra o risco de rejeição do órgão, mas por enquanto tudo corre como o esperado”, comemora.

Até o retorno do esposo e amigo, ela conta que controla a ansiedade, mas já não vê a hora de voltar a praticar os hobbies do casal. “Sempre tivemos uma rotina muita ativa. Gostamos de pescar, dançar e viajar juntos. Então não vejo a hora de voltar a fazer tudo isso de novo como era normalmente”, desabafa.

E tudo no Estado que ela aprendeu a gostar por conta do marido. Para ela, a recompensa que fica é o sentimento de renovação e felicidade de uma parceria que a partir de agora, esta ainda mais fortalecida.

“Ajudar quem a gente gosta é muito bom, então eu não espero nada em troca a não ser que ele viva melhor, para que a nossa relação seja ainda melhor. Mais que um gesto de solidariedade o transplante veio para fortalecer nossa história”, comenta.

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