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Capital

Para quem não pode parar, plantão é rotina que produz histórias marcantes

Nos quartéis, hospitais e delegacias, estão exemplos de quem trabalha nos feriados e tem a vida impactada pelos atendimentos

Fernanda Palheta, Maressa Mendonça e Marta Ferreira | 01/01/2020 18:40
Segundo o tenente Diego Garcia Baumgardt, o feirado de Ano Novo é mais tranquilo que o Natal (Foto: Marcos Maluf)
Segundo o tenente Diego Garcia Baumgardt, o feirado de Ano Novo é mais tranquilo que o Natal (Foto: Marcos Maluf)

Escolher, ou ser levado pelas circunstâncias da vida, a profissões nas quais é proibido parar significa feriados trabalhando para garantir que os outros possam aproveitar e, se necessário, ter suporte em datas como Natal e Ano Novo, aquelas onde a diferença entre as rotinas fica mais evidente. É assim, notadamente, com profissionais da saúde, da polícia, dos bombeiros. As escalas de plantão asseguram o funcionamento dos sistemas e, na vida de quem faz parte delas, produzem histórias que ficam marcadas.

A memória passa a lembrar dos anos como o que aconteceu isso, ou aquilo durante a rotina de plantonista. Inclusa nessa lista de profissionais para quem o plantão de feriado "faz parte", a equipe de reportagem do Campo Grande News ouviu relatos de profissionais sobre suas lembranças desses dias diferentes da maioria. E identificou que, como na redação, na delegacia, no hospital, no quartel dos bombeiros ou da Polícia Militar, há narrativas das mais tristes às mais edificantes. 

Em cinco anos trabalhando no Pronto-socorro da Santa Casa de Campo Grande, o médico plantonista da área vermelha Paulo Stake conta que nos plantões de fim de ano os casos mais cuja lembrança se sobressai estão cada um numa ponta da vida: uma morte e um nascimento.

Segundo ele, o movimento sempre é maior no Natal. "É quando as famílias se reúnem, então geralmente sempre tem distúrbios e acaba terminando em briga", diz. Neste ano, durante o plantão de Natal, ele contabilizou quatro baleados e dois esfaqueados. No Ano Novo, os atendimentos foram mais de acidentes e brigas, sem casos graves.

O caso que mais marcou o plantão de fim de ano para o médico foi de uma morte na véspera de Natal de 2014. "Um senhor de uns 50 anos foi separar uma briga de vizinhos e foi baleado no tórax. Operamos ele durante a madrugada, mas sem sucesso", relembra. Ele se recorda sobre como foi dizer para a família. "Eu fui dar a notícia para a filha e a esposa e quando eu me aproximei a filha ajoelhou e a esposa levantou", lembra,

Vida - No Natal do ano seguinte, em 2015, a lembrança é positiva. Ele conta que fez um parto dentro da ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). "O menino não aguentou esperar chegar no hospital e nasceu no Samu", detalha.

Para o médico plantonista da área vermelha, Paulo Stake, os casos que mais marcaram nos plantões de fim de ano foram o de uma morte e um nascimento (Foto: Marcos Maluf)
Para o médico plantonista da área vermelha, Paulo Stake, os casos que mais marcaram nos plantões de fim de ano foram o de uma morte e um nascimento (Foto: Marcos Maluf)
O subtenente Vandelci Romão  explica que com as festas de fim de ano e aumento do número de brigas entre família, o movimento do centro vai para os bairros (Foto: Kisie Ainoã)
O subtenente Vandelci Romão explica que com as festas de fim de ano e aumento do número de brigas entre família, o movimento do centro vai para os bairros (Foto: Kisie Ainoã)

Policial militar há 28 anos, o subtenente Vandelci Romão, oficial de dia do 1º Batalhão de Polícia Militar nesta quarta-feira (1), explica que com as festas de fim de ano e aumento do número de brigas entre família, o movimento do Centro vai para os bairros.

Crime evitado - Apesar dos quase 30 anos de profissão, para ele o episódio mais marcante do plantão é atual. O subtenente estava de plantão no dia da operação que impediu a tentativa de furto à central administrativa do Banco do Brasil, na Avenida Presidente Castelo Branco, na região do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande. O que mais chamou a atenção dele na situação foi a audácia do grupo e o planejamento. "Eles estavam cavando este túnel e ninguém da região percebeu", admira-se.

Há seis anos no Corpo de Bombeiros, tenente Diego Garcia Baumgardt, 29 anos, também afirma que o feriado de Ano Novo é mais tranquilo. Para ele, a situação mais comovente da profissão é a chegada da família quando há, por exemplo, acidente com morte. 

O pior, segundo ele, é chegar a ter de pedir o afastamento de familiares para não prejudicar o trabalho dos bombeiro. "Ver o desespero das pessoas acaba mexendo com a gente", diz.

Preparação - O delegado de Polícia Civil Antônio Ribas, há 5 anos na Corporação, fez neste primeiro dia de 2019 seu primeiro plantão em época de festas de fim de ano. Foi uma dia, segundo ele, considerado tranquilo, perto de outros feriados já trabalhados, quando é preciso equilibrar-se para dar conta dos registros e ainda lidar com ocorrências com morte. 

"Difícil é quando tem muita ocorrência de flagrante ao mesmo tempo, que daí tem que dar agilidade nos registros para não segurar as guarnições na delegacia e também quando, ao mesmo tempo, tem que fazer local de morte". Indagado, concordou que para lidar com o trabalho policial é preciso "preparo emocional".

Neste feriado, o delegado registrou furtos, extravios, tentativa de estelionato e briga envolvendo um cão: o animal fugiu, o dono foi buscá-lo na vizinha, houve discussão e até tiros disparados contra o carro da mulher. Até o horário em que a equipe conversou com a autoridade policial, não havia registros mais graves.

Mas quando assumiu o comando da Depac Cepol, no Bairro Tiradentes, às 8h desdia 1º, ele estava pronto para o imponderável. "Nos preparamos para o pior, esperamos o melhor", sintetiza.

Aos 31 anos, Antônio Ribas afirma que seus amigos e familiares já se habituaram a sua rotina diferente. Prova disso é que o almoço, hoje, quando fez rotina de trabalho de 12h, foi "corridão", diferentemente das reuniões familiares regadas a churrasco, típicas de Mato Grosso do Sul.

"Eles têm que entender, é a profissão" diz. A resposta resume o entendimento dos outros trabalhadores deste dia que abre um novo ano.

O delegado Antônio Ribas, que fez o primeiro plantão de Ano Novo nesta terça-feira, diz que foi preparado para o pior, mas esperando o melhor. (Foto:: Arquivo)
O delegado Antônio Ribas, que fez o primeiro plantão de Ano Novo nesta terça-feira, diz que foi preparado para o pior, mas esperando o melhor. (Foto:: Arquivo)
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